2007-04-25

A voluptuosidade da dama-da-noite

O Cestrum nocturnum, mais conhecido por dama-da-noite é um arbusto que pode atingir os 4 metros, com ramos sinuosos e pendentes e umas modestas florzinhas ligeiramente campanuladas de cor branco-esverdeado formando pequenos cachos. A modéstia das flores é apenas aparente porque ao fechar a tarde e durante toda a noite, as florzinhas abrem e deixam sair um perfume doce e muito intenso.
Conhecemos esta planta há muitos anos, numas férias passadas em Altura-Algarve no jardim da moradia que alugámos. De dia não se dava por ela, mas quando começava a noite, o aroma entrava sorrateiramente pela janela aberta do quarto onde dormíamos e quando nos apercebíamos já estávamos envoltos num perfume denso que nos despertava do sono e da moleza do corpo.
A proprietária da casa ofereceu-nos várias estacas e uma delas desenvolveu-se no nosso pequeno jardim de S. Pedro do Estoril. Cresceu imenso e era sempre com um enorme prazer que sentíamos o seu perfume avançar lentamente, invadindo todo o espaço envolvente nas quentes noites de verão
Mais tarde espetei várias estacas aqui na quinta mas sem nenhum sucesso.
No Verão passado ao vê-la num horto algarvio, trouxe-a envasada. com este ar saudável e com as flores abertas revelando imediatamente que o dia tinha chegado ao fim.
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Manteve-se assim bonita até chegar o Inverno. Mas o frio atingiu valores tais nesta zona que a pobrezinha preparada para os climas tropicais de onde é originária, acabou por “melar” - ainda que recolhida - e ficou entre a vida e a morte. Agora está a dar sinais de querer recuperar.
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Muito recentemente é que soubemos que não aguenta temperaturas inferiores a 5º e neste Inverno descemos muito abaixo dos 0º. Teremos que pensar numa forma de a proteger futuramente.
O facto de só libertar o perfume à noite, não é por se preocupar em criar ambientes sensuais nos quartos de cada um, mas sim para atrair os seus insectos polinizadores que por sinal são nocturnos.
Há muitas pessoas que não apreciam o aroma forte e doce da dama-da-noite, provocando-lhes até dores de cabeça. Felizmente não é o nosso caso.
As folhas secas em infusão são usadas para combater a epilepsia mas é preciso ter muito cuidado porque é uma planta altamente tóxica, podendo provocar náuseas, vómitos, alucinações, distúrbios do comportamento, etc
O óleo essencial extraído das suas flores é usado para manter o vigor sexual.
Fizemos uma série de pesquisas ao lermos algures que os antigos costumavam ofertar a dama-da-noite nas homenagens a Vénus mas não conseguimos obter mais informações sobre o assunto.
A palavra perfume deriva do latim “per fumum” que significa “pelo fumo” ou “através do fumo”.
O perfumar seria um acto religioso em que através da combustão de madeiras e de plantas odoríferas, os pedidos e orações subiriam com o fumo até à morada dos deuses.
Mais tarde alguns aromas serviriam para purificar, afastando os demónios e só muito mais tarde é que foram usados de uma forma profana como meio de sedução ou de embelezamento.
Achámos este tema de tal maneira interessante que em breve voltaremos a ele para falarmos sobre os vários processos de recolha de substâncias odoríferas, suas aplicações e a preferência de determinados aromas no evoluir da História.

2007-04-13

A Primavera e o cuco

A Primavera anda um bocado arredia aqui da zona. Ainda não se vêem os campos floridos de amarelo que é a primeira cor a impor-se nesta estação. As manhãs continuam a revelar um fino manto de geada, confundindo as plantas e todos nós.
Entretanto estamos preocupados com o silêncio do cuco. Diz o ditado: A três de Abril o cuco há-de vir e se não vier a oito, está preso ou morto. Ora já estamos a 13!...
O cuco tem o nome científico de Cuculus canorus e pertence à família dos cuculídeos.
Como todos sabem, o cuco europeu não faz ninho, aproveitando os ninhos de outras aves para a postura.
Os ovos são diferentes de indivíduo para indivíduo uma vez que estão preparados para parasitar os ninhos da mesma espécie dos seus pais adoptivos, pondo ovos idênticos aos seus.
A fêmea vai vigiando atentamente a azáfama junto aos ninhos das outras aves e quando se apercebe que se iniciou a postura, aproveita rapidamente uma ausência delas, conseguindo pôr um ovo e eliminar outro (para as contas darem certas) em apenas 10 segundos.
Vai pondo um ovo de 2 em 2 dias em ninhos diferentes até terminar a postura (8 a 12 ovos).
A incubação é muito curta sendo de apenas 12 a 14 dias e assim o cuco nasce normalmente muito antes dos seus companheiros de ninho.
Na foto abaixo pode ver-se um cuco acabado de nascer junto a dois ovos de dimensões muito mais reduzidas.
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O cuco recém-nascido e ainda cego, está preparado para não permitir mais ninguém no ninho. As patas são formadas por 4 dedos, dois na frente e dois atrás que funcionam como garras e tem uma pujança tal que consegue eliminar a concorrência: ovos e pássaros.
Na foto seguinte podemos reparar no esforço hercúleo de um recém-nascido que consegue levantar os ovos para os poder expulsar.
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Por vezes nascem 2 cucos ao mesmo tempo e no mesmo ninho - de ovos postos por 2 fêmeas - e a luta pelo lugar acontece de uma forma muito mais violenta porque ambos são possantes e determinados, podendo ocasionar a morte dos dois por extenuação.
Os ninhos parasitados são sempre de aves insectívoras que é a alimentação base do jovem cuco: insectos, lagartas, aranhas e até sementes se for a alimentação dos pais adoptivos.
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Os mais vitimados são os rouxinóis, ferreirinhas, pegas, carriças, piscos, alvéolas, pardais, andorinhas, etc.
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Se estas pequenas aves tivessem que alimentar além do cuco (que é extremamente voraz) a sua própria prole, não conseguiriam resistir à fadiga.
O cuco é uma ave migratória. Os adultos partem no mês de Julho para a África equatorial onde passam o Inverno. Os jovens partem mais tarde em Agosto, Setembro para as mesmas zonas sem serem guiados pelos pais, nem adoptivos, nem biológicos. Partem de noite, isoladamente, demonstrando uma capacidade inata de orientação.
Para finalizar, podemos dizer que o cuco tem a vantagem de evitar o desenvolvimento exagerado de algumas pragas, alimentando-se também de larvas e crisálidas da processionária.
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E é óptimo para informar as moças solteiras do número de anos que se vão manter sem casar. Para isso basta perguntar o seguinte:
- Cuco da Ribeira, quantos anos me dás de solteira?
Depois contam-se as vezes que ele faz cuc-cuu, um ano por cada vez. É muito simples!

(fotos retiradas do http://www.alrfoto.com/ )

2007-04-02

Adenda ao post anterior

Respondendo ás perguntas que nos têm feito sobre o que sucedeu ao grupo amador de astronomia e missilismo, devo acrescentar o seguinte:
Um dos últimos projectos do grupo foi a construção de um foguete com 1,20m de comprimento e a funcionar com combustível sólido. O projecto acabou por ser boicotado pelo Centro de Estudos Astronáuticos da Mocidade Portuguesa. A Embaixada dos EUA e a própria NASA tinham prometido apoios que acabaram por ser desviados para a Mocidade Portuguesa. Entretanto esta viria a convidar os elementos mais entusiastas do GAAM para trabalharem em conjunto no seu Centro de Estudos. Os elementos do grupo de astronomia conseguiram delicadamente recusar o convite uma vez que não estava nos seus projectos virem a trabalhar com indivíduos da Mocidade Portuguesa, mais conhecidos pelos “piolhos verdes”. Mais tarde, Victor Manuel Castelo e José Manuel Silva foram convidados pelos americanos para completarem os estudos nos EUA o que não foi possível aceitar por ser proibido pelo regime salazarista a ida para o estrangeiro de jovens em idade militar. E aos poucos tudo foi esmorecendo até à extinção do grupo.
Sobre Carlos Bettencourt Faria, consultando um dos links indicados no post abaixo, só posso acrescentar o seguinte:
Nasceu em Lisboa a 13 de Fevereiro de 1924. A sua juventude foi passada em S. Miguel-Açores, numa localidade chamada Ginetes, onde o seu avô era médico. Frequentou o liceu de Ponta Delgada demonstrando muito interesse pela óptica astronómica e tecnologia de rádio. Ainda adolescente foi viver para a Ilha da Madeira com um tio cónego, grande entusiasta de rádio, astronomia e biologia marítima, com quem desenvolveu os seus conhecimentos. Com 27 anos de idade viajou para Angola, onde 6 anos depois fundou o Observatório Astronómico da Mulemba num terreno situado nos arredores de Luanda com uma área de 10.000m2, estando igualmente em preparação a instalação de rádio telescópios, motivada pela fraca expansão da rádio astronomia no mundo. A Associação Astronómica de Angola, fundada em 8/8/64 foi considerada Instituição de Utilidade Pública, podendo assim usufruir de subsídios estatais e privados que foram decisivos para o desenvolvimento e construção de infra-estruturas para a Biblioteca Técnica, Museu da Mulemba, Estação de Satélites, Rádio Astronomia, Estação Solar e Laboratório de Electrónica para o desenvolvimento de equipamentos, fazendo deste complexo, um dos mais importantes do mundo, no género, dando especial relevo à cooperação internacional no rastreio da satélites artificiais e trabalhos astronómicos no âmbito solar.