2011-03-29

O Grilo toupeira

Antes de começar este texto, gostaria que abrissem o vídeo abaixo, sem estranhar a ausência de imagens.


Quis partilhar convosco o prazer deste som nas noites calmas e menos frias que vão surgindo agora com o início da Primavera, festejadas pelas centenas e centenas destes animais que sempre conheci com o nome de ralos e que aqui na zona chamam de "raros".

Acontece que nunca tinha visto nenhum e, quando uma noite destas fui a correr fotografar um insecto enorme, com uns 5 cm de comprimento que estava estacionado à porta da cozinha, fotografia que distribuí pelos amigos para me identificarem a estranha criatura, fiquei a saber que era nada mais, nada menos, que um desses ralos cuja serenata eu tanto gosto de ouvir.

Felizmente não lhe peguei, porque a dada altura em que ele me quis trepar pelo sapato, fugimos cada um para o seu lado, tendo acabado abruptamente a sessão fotográfica. E digo felizmente porque segundo as informações que recebi, trata-se um bicharoco que não gosta nada de se ver preso entre os dedos, não se ensaiando muito para ferrar a mão descuidada.

Os ralos pertencem ao género Grillotalpa que se pode traduzir por grilo-toupeira, como é conhecido em vários países, por passarem a vida a escavar túneis com as patas dianteiras.

São castanhos e têm o corpo coberto por uma fina camada de pêlo. Apenas os adultos têm asas podendo voar em enxames nas noites quentes de Verão. Na cabeça possuem peças bucais muito desenvolvidas e antenas curtas. As patas dianteiras além de servirem para escavar, servem também para defender os seus territórios.

Os machos podem medir entre 3,5 a 4 cm e as fêmeas entre os 4 e os 5 cm

Em finais de Julho, as fêmeas põem entre 100 a 350 ovos numa espécie de ninho com 6 a 10 cm de diâmetro, a uma profundidade de 30 a 40 cm, escavados por elas mesmas. Esses ovos eclodem após 20 dias necessitando de muita humidade e ficam sob a guarda da mãe durante as primeiras 2 a 3 semanas. As larvas passam por 2 fases no seu primeiro ano de vida.  As ninfas começam a desenvolver-se a partir da Primavera seguinte e por vezes a sua fase de desenvolvimento pode ir até ao terceiro ano.

Os machos também escavam galerias mas com a finalidade de funcionarem como amplificadores para se poderem fazer ouvir até à distancia de uns 600m, atraindo assim fêmeas solitárias,    interessadas em namorar... que podem ter muito que caminhar :)

Hibernam durante o Inverno dentro dos túneis que podem estar até a 1 metro de profundidade, retomando a sua actividade com a chegada da Primavera.

É um insecto omnívoro, nada preocupado com dietas especiais. Come minhocas, larvas de insectos, mas também tubérculos e rizomas de plantas hortícolas e ornamentais, assim como beterraba, batata, mas também melão, abóbora, girassol, morango, cereais, sendo muito prejudicial para as plantas jovens.

Devido aos seus hábitos alimentares, acaba por ser perseguido pelos agricultores que fazem lavras profundas para destruir as suas galerias, aplicam produtos químicos e iscos com veneno.

Além do homem também tem outros inimigos como os mamíferos insectívoros, formigas, ácaros e algumas aves, como é o caso do estorninho e do penereiro-das-torres, este último considerado como ave ameaçada e que tem uma inclinação especial para se alimentar de ralos cantores.

Aqui fica a foto do fotogénico ralo, quase em tamanho natural.