2007-03-27

O album de recortes

Andarilhar pela casa sem poder sair, obrigou-me a dar uma vista de olhos pelos livros que ainda não li, pelas pastas que aguardam uma pausa para poderem ser organizadas e até por antigos álbuns de fotografias. Descobri um que fiz há muitos anos e onde guardei fotos, cartas, postais, poemas, tudo aquilo que marcou de alguma maneira a minha infância e a minha adolescência. Ao folheá-lo caíram-me 2 recortes do antigo jornal Diário Popular que noticiava a existência do grupo ao qual pertenci e que tinha o nome de GAAM-Grupo Amador de Astronomia e Missilismo.
Posted by Picasa

Era um pequeno grupo, unido pelo desejo de conseguir lançar foguetes que pudessem transportar e regressar com pequenos animais vivos. Passávamos muitas tardes de domingo em acesas discussões nas reuniões que se faziam na minha casa. A minha função no grupo além de disponibilizar a casa e quintal para o que fosse preciso era a de fornecer os ratos que infestavam a capoeira, tratar da correspondência e da divulgação do grupo, enfim todo um trabalho de secretariado uma vez que não percebia nada de física nem de química. Lembrei-me das experiências feitas no meu quintal, com latas velhas que disparavam no ar com o estrondo de bombas no meio de grande gritaria e assobios, o que fazia os vizinhos virem espreitar à janela, assustados.
Posted by Picasa

Uma das misturas propulsoras era feita com açúcar e enxofre não me conseguindo lembrar das percentagens. Também recordei a sensação horrível que senti ao visitar um dos elementos do grupo que sofrera um acidente com uma explosão que só não o cegou por acaso e ao entrar no quarto, reconhecer os ratos que oferecera vivos, semanas antes, embalsamados e espetados na parede como decoração. Aqueles não sentiram a glória de terem sido lançados para o espaço
Mas, ao ver as fotografias e reler os recortes, lembrei-me do cientista Bettencourt Faria que tinha construído, quase só pelas próprias mãos um observatório astronómico em Mulemba-Angola, e que aceitou simpaticamente ser padrinho do nosso grupo.

Posted by Picasa

Eu escrevera-lhe para pedir informações e contactos que nos fossem úteis aqui em Portugal e a partir daí gerou-se uma grande amizade entre nós os dois. Ainda conservo algumas, apenas três, das suas cartas e um postal enviado da Polónia, que são um exemplo da simplicidade dos homens grandes. Um homem que com o seu tempo todo preenchido por mil e uma actividades, ainda arranjava disponibilidade para escrever à máquina longas cartas e procurar cartazes com temas espaciais para enviar a uma miúda com 15 ou 16 anos que ainda andava no mundo a “apanhar bonés”. E sempre que passava por Portugal continental (na altura Angola ainda era uma colónia portuguesa) ia sempre visitar-me, conversar comigo e dar pequenos passeios a pé.
Lamentavelmente, a idade que eu tinha não era propícia ao reconhecimento do valor do homem que me escrevia e visitava.
Ao pesquisar na net encontrei o blog:
http://amateriadotempo.blogspot.com/2006/05/bettencourt-faria-e-o-seu-centro.html do qual tirei alguma informação que publico com a devida autorização do seu autor:
“Carlos Mar Bettencourt Faria, de seu nome completo, foi um autodidacta genial, dotado de um notável dinamismo e de uma enorme capacidade de trabalho. Ergueu com as suas próprias mãos aquilo a que chamou Centro Espacial da Mulemba. Neste Centro, ele deu largas à sua paixão pela exploração do Espaço, pela Rádio e pela Astronomia, construindo aparelhos de detecção remota, telescópios, antenas, etc. Dada a sua fraca capacidade económica, ele não podia dar-se ao luxo de comprar as coisas já feitas; fazia-as ele mesmo, aproveitando materiais usados, como foi o caso das agulhas de que falei acima. Mas não eram só agulhas de seringas que ele aproveitava; por exemplo, as grandes antenas que ele construiu foram feitas com sucata ferroviária.
Num tempo em que a Terra ainda não estava rodeada por satélites de comunicações, a NASA tinha necessidade de dispor de uma rede de colaboradores espalhados pelo mundo, que recolhessem os dados enviados pelos satélites e que estabelecessem contacto com os astronautas, servindo de "ponte" entre o Espaço e a sede da NASA. O Centro Espacial da Mulemba, em Angola, era o único observatório em todo o continente africano a fazer essa "ponte". Nenhum outro existia em África.
Para tal, Bettencourt Faria dispunha de um estúdio, pejado de aparelhagem, onde ele recebia e descodificava os sinais enviados pelos satélites e onde entrava em contacto com os astronautas. Tive a oportunidade de ouvir uma gravação de uma conversa que ele teve com o astronauta Neil Armstrong na Lua.
Era desse mesmo estúdio que Bettencourt Faria falava para o público, através de um programa de rádio do malogrado Sebastião Coelho (falecido no ano passado na Argentina), explicando de modo simples e claro o que se ia passando no campo da exploração espacial. Neste aspecto, ele fazia, em Angola, o mesmo que fazia em Portugal um outro notável autodidacta, inventor e apaixonado pelo Espaço, chamado Eurico da Fonseca. Ouvir um deles era quase o mesmo que ouvir o outro.
Não se pense, porém, que Bettencourt Faria se interessava apenas pelo Espaço e pela Astronomia. Os seus interesses eram muitos e variados. Fez investigação etnológica, tendo publicado livros sobre usos e costumes tradicionais de Angola. Era um profundo conhecedor de conchas marinhas, de que possuía uma notável colecção. Inventou máquinas de diversos tipos, entre as quais uma espécie de helicóptero individual, com o qual, aliás, sofreu um acidente e partiu vários ossos. Pintava quadros. Tocava piano. Era radioamador. Apetece perguntar onde é que aquele homem arranjava tempo para poder fazer tantas coisas diferentes.…”


Também na minha casa, várias vezes tocou piano para mim, dedicando-me as suas composições, dizendo que aprendera a tocar sozinho e que nunca tivera uma aula de música.
Não consigo resistir a publicar aqui um excerto de uma das suas cartas:
“O que diferencia as pessoas não é ser bonito ou feio, não é ser rico ou pobre, não é ser católico ou protestante, inteligente de mais ou de menos. É uma simples coisinha que muita gente não atina: a capacidade de determinação, de persistência, aquela espécie de febre que não desce no termómetro quando encontra pela frente as dificuldades inerentes e imediatas a quem se quer guindar a um muro muito alto. Não faltará quem puxe as pernas, quem atire pedras, quem ponha cacos de vidro de garrafa das mais diversas origens no topo do muro. Mas sacudindo as pernas, cortando as mãos e os braços, suando pelo pescoço abaixo, que alegria é chegar ao outro lado, querida Ana! E não é o dinheiro, não são as glórias, nada, a não ser a incomensurável satisfação de ter chegado - onde os outros não chegaram - pelos seus próprios meios! Toda a vida fui um solitário (ainda hoje o sou e muito mais penoso é à medida que os anos passam) Nunca tive ninguém que me auxiliasse, e no entanto o que não tenho feito sozinho! É caso para envaidecer? Claro que não! É caso para eu sentir, sempre sozinho, uma felicidade tão grande que até às vezes me dá vontade de chorar!”
Posted by Picasa

De pesquisa em pesquisa encontrei este link:
http://apaa.online.pt/bettencourt%20faria.pdf, cujo autor é o Luís Filipe Bettencourt Faria, seu sobrinho, e que escreve assim:
Em 1976 o Centro Espacial da Mulemba, com um património de 200 mil contos e com uma reputação e actividades de âmbito internacionais invejáveis, entra numa fase difícil com o advento da Independência de Angola e com a consequente ordem de nacionalização desta instituição. Bettencourt Faria, então com 52 anos, passou algumas semanas numa tristeza profunda. Acusado de espionagem e de ter um arsenal de armas em casa, sendo-lhe confiscadas até as potentes espingardas de ar comprimido de caça submarina, com a sua correspondência e telefone vigiados, a estação de rádio amador CR6 CH selada, pessoal estranho ao serviço a querer saber como tudo funcionava, foi na tarde de domingo de 4 de Julho de 1976, traiçoeiramente degolado ao baixar o vidro do carro, quando cumprimentava o “segurança” de serviço no portão principal das suas próprias instalações.

2007-03-10

Tentando atrair enxames

Em primeiro lugar vamos ter que esclarecer a razão desta tão grande ausência. Depois de termos passado um largo período a recolher informações para um novo post, a doença bateu-nos à porta sob a forma de uma pneumonia e obrigou-nos a estar quietinhos, abafadinhos e sem disposição para nada.
Ainda mal recuperados mas já em condições para estarmos algum tempo sentados ao computador, resolvemos fazer um post com tema diferente daquele em que trabalhávamos há semanas atrás para vos pôr ao corrente do que entretanto se passou aqui na quinta.
Constatámos com muita tristeza que as nossas 3 colmeias estavam mortas.
Como diz Lars Gustafsson no seu livro A Morte de um Apicultor: “Quando um enxame morre, parece que é como se morresse um animal. É uma personalidade de que sentimos a falta, quase como um cão, ou pelo menos um gato.”
Comprar uma colmeia a funcionar é um bocado dispendioso, sendo os preços aqui na zona na ordem dos 20 a 30 contos.
Entretanto um vizinho quis fazer a seguinte troca connosco: oferecia-nos uma colmeia bem povoada e ainda um pavão com 2 anos se lhe oferecêssemos um casalinho de borregos. Aceitámos a troca e o senhor veio uma manhã buscar os borregos e simpaticamente ofereceu-se para nos ensinar a preparar caixas vazias e cortiços também vazios para captar enxames novos que procurassem um local para estabelecer as novas colónias.
Pudemos verificar que vinham prevenidos para este trabalho trazendo uma panelinha com um líquido endurecido que ao ser aquecido no fogão espalhou no ar um aroma almiscarado, misturado com alecrim, alfazema e também um toque de vinho aquecido que seria vinho branco fabricado sem a adição de nenhum produto químico, segundo nos informaram.
Posted by Picasa

Esfregaram as caixas e os cortiços por dentro com alecrim, alfazema, rosmaninho e uma erva desconhecida para mim a que chamaram salpor do mato. Depois molharam ramos de alecrim na tal poção mágica e aspergiram a caixa da colmeia e os cortiços.
 
Posted by Picasa

As frestas laterais dos cortiços que estavam há muitos anos sem uso, foram tapadas com barro tirado à lagoa.
Posted by Picasa

Depois de estar tudo devidamente preparado, foi só escolher o local que acharam mais de acordo para capturar enxames em deslocação que ao que parece seguem rotas bem determinadas
Posted by Picasa

Agora é só esperar que algumas obreiras se encantem com tão bonitas e perfumadas casas e levem as restantes obreiras que aguardam suspensas envolvendo as rainhas, a ter a mesma opinião, estabelecendo os seus enxames na colmeia velha e nos cortiços para depois nós transferirmos para colmeias novas que aguardam já limpas no colmeal.
Durante este trabalho pudemos verificar que cada apicultor tem os seus segredos e não é fácil arrancar-lhes toda a informação. Os conhecimentos empíricos misturam-se com lendas e mitos de uma forma fascinante. Por este vizinho ficámos a saber que as abelhas “conhecem” o dono e poupam-no na sua agressividade. Mas, para isso há que ter alguns cuidados como pendurar roupa interior muito suada perto das colmeias para elas reconhecerem o cheiro do seu corpo. E quando a colmeia enxameia, por estar demasiadamente povoada, o enxame sai e fica pendurado num tronco perto da colmeia esperando a vinda do apicultor amigo. Quando este não aparece, então parte para outras zonas.
Mas para não confundirmos os leitores menos conhecedores dos hábitos das abelhas, resolvemos fazer um trabalho que publicámos abaixo deste, onde nos preocupámos em pesquisar várias informações sobre o comportamento das abelhas na colmeia. Esperamos que leiam com o mesmo interesse que sentimos ao escrevê-lo.
À noite chegou a colmeia oferecida que vinha vedada para não haver fuga das abelhas mas ao ser colocada no colmeal foi devidamente aberta para as abelhas de manhã prosseguirem os seus trabalhos, por certo espantadíssimas com a mudança.
Tentaremos ir relatando as várias fases deste processo já que nunca falámos aqui das nossas crestas (colheita do mel) e da centrifugação dos quadros.
Sobre o pavão que já faz parte dos membros da quinta, falaremos futuramente, uma vez que ainda nem o vimos pela proibição de sair de casa, a que ainda estamos sujeitos.

As Abelhas

A técnica de explorar o mel produzido pelas abelhas existe desde 2.400 antes de Cristo. Normalmente era um tipo de pilhagem destruindo completamente o enxame. No séc XIX o apicultor Lorenzo Langstroth desenvolveu as bases da apicultura moderna inventando a colmeia com quadros móveis o que facilitou o seu manejo, melhorou a produção e a extracção do mel.
A abelha é um insecto que pertence à ordem dos himenópteros e à família dos apídeos.

Existem 3 categorias de abelhas: as sociais que são aquelas que vivem em enxames com divisão de trabalhos, separação de castas e que vai ser o tema deste trabalho; as solitárias que constroem ninhos no chão, nas fendas das pedras e árvores e onde a abelha fecundada coloca o ovo em cima de uma quantidade de alimento, fecha o ninho e nunca mais se preocupa com ele; as parasitas que conseguem pôr os seus ovos nas células prontas de outras abelhas deixando que estas se encarreguem do desenvolvimento das larvas ou roubando a outros enxames o material necessário para construirem os seus ninhos.
A abelha comum pertence à espécie Apis mellifera mellifera, mas há a Apis mellifera ligustica (abelha italiana), a Apis mellifera caucásica (abelha caucasiana), a Apis mellifera adansoni (abelha centro-africana) etc. São conhecidas cerca de vinte mil espécies diferentes e até já é distinguida a Apis mellifera ibérica que como o nome indica, uma espécie de abelha mais comum na Península Ibérica.
A colmeia é constituída pela abelha-rainha, obreiras e zangãos
A rainha é a figura mais importante da colmeia, sem a qual esta não tem hipótese de sobrevivência. Mas, ainda que rainha, não tem qualquer função de comando. Após o 5º dia de vida, a rainha começa a fazer voos de reconhecimento e a partir do 9º já está preparada para fazer o voo nupcial, o que fará somente uma vez na vida, saindo da colmeia e sendo fecundada durante o voo por 4 a 8 zangãos que conseguem fertilizá-la, sendo o líquido seminal depositado num saco chamado espermateca que mantém os espermatozóides vivos praticamente durante quase todo o tempo de vida da rainha, 3 a 6 anos. A partir deste momento a sua função principal é a de pôr ovos, 1.500 a 2.000 por dia . Não põe ovos de uma forma casual. As obreiras fabricam os alvéolos de acordo com as necessidades da colmeia e a rainha antes de pôr o ovo tem que inspeccionar o tamanho do alvéolo. Se for mais pequeno é porque se destina à criação de larvas de obreiras e então a rainha mete o seu abdómen no alvéolo e comprime-o de forma a libertar os espermatozóides que irão fecundar o ovo. Se for um alvéolo maior é porque se destina à criação de zângãos e então ela introduz o abdómen mas não comprime a sua espermateca, uma vez que os zangãos nascem de ovos não fecundados. As células reais têm um formato diferente dos hexagonais que formam os favos e localizam-se nos bordos destes. Têm que ser fecundados pela rainha e são depois guardados pelas obreiras para evitar que a rainha mate as futuras rivais. Tem um ferrão liso com o qual localiza os favos onde vai fazer a postura e só o usa como arma nas lutas com outras rainhas, conseguindo injectar veneno sem ficar estropiada como acontece com as obreiras. Uma rainha mal nasce tem o instinto de eliminar as criações reais ainda não nascidas ou tendo um encontro de morte com alguma que tenha nascido ao mesmo tempo. Segrega uma ferormona chamada “substância-de-rainha”que as obreiras recolhem lambendo-a e distribuindo-a depois por todas as outras obreiras criando um ambiente de harmonia dentro da colmeia ao mesmo tempo que impede o desenvolvimento dos órgãos sexuais das obreiras, evitando que sejam reprodutoras. O corpo é maior do que o das obreiras não possuindo as glândulas que as obreiras necessitam para desempenharem as suas funções. Toda a vida é alimentada unicamente com geleia-real
Na colmeia não existe uma divisão de trabalhos mas uma relação entre a idade das obreiras e o trabalho que executam durante a sua curta vida (cerca de 2 meses)
Do 1º dia de vida até ao 3ª dedicam-se à limpeza dos alvéolos, chão e paredes da colmeia. Do 3º dia ao 7º passam a ingerir pólen, mel e água, regurgitando este produto nos alvéolos para alimentação das larvas mais velhas. Do 7º dia ao 14º, devido ao desenvolvimento das suas glândulas hipofaríngeas, conseguem transformar o alimento comum em geleia-real e passam a alimentar as larvas mais novas das obreiras até ao 3º. dia, as larvas dos zângãos, as larvas das princesas e a alimentar a própria rainha . Do 14º ao 20º dia com o atrofiamento das glândulas hipofaríngeas e o desenvolvimento das glândulas cerígenas, passam a construir os favos, a produzir mel, guardando-o nos favos e operculando-os (fechando-os com umas tampinhas), fazendo também a guarda da colmeia. A partir do 21º dia e até ao final das suas vidas passam a trabalhar no exterior, colectando pólen com os pelinhos das patas e armazenando nas bolsas que têm nas patas posteriores chamadas de corbículas, transportam agua para a colmeia com a vesícula melífera que também serve para transformar o néctar em mel. Recolhem ainda néctar e própolis.
Posted by Picasa
São as obreiras que constroem as células necessárias para a criação de obreiras, zângãos e rainhas. E a rainha cumpre as necessidades da colmeia. Elas inspeccionam os nascimentos e quando uma abelha sai do seu ninho, destacam-se 2 ou 3 obreiras que a lambem, escovam, dão-lhe mel enquanto a examinam minuciosamente. Se lhe encontram algum defeito de conformação que possa representar incapacidade, ainda que mínima, para o trabalho, sacrificam-na implacavelmente.
São também as obreiras que decidem quando é a altura de sair um enxame da colmeia por já estar demasiadamente povoada. Um grupo numeroso de obreiras enche os estômagos com mel, avisam a rainha da viagem e sai uma nuvem de abelhas protegendo a sua rainha, acompanhadas por alguns zangãos. Pousam numa arvore formando uma espécie de pinha gigante enquanto outro grupo vai inspeccionar os arredores para escolher um bom local. Se o local for aceite pelo grupo, começam a construção de um novo ninho, dando início a uma nova colónia.
As obreiras usam cortesias curiosas no trato com a rainha. Uma delas é que em qualquer deslocação ou movimento, nunca se viram de traseiro para a real personagem, conseguindo actuar de forma a manterem-se sempre de frente. Talvez seja essa a razão para não usarem o ferrão quando é decidido eliminá-la por já estar envelhecida. Neste caso rodeiam-na formando uma bola compacta com o seus corpos, acabando por a sufocar sem que a rainha ofereça resistência, aceitando a sua sina.
A rainha não permite a existência de outras rivais mas quando as obreiras decidem que é a altura de preparar um enxame para sair da colmeia com a sua rainha, não permitem que as duas rainhas se defrontem.
Quando a rainha morre e não há substituta, as obreiras começam a pôr ovos nos alvéolos numa tentativa desesperada de refazer a colmeia. Mas, como não são fecundadas, os ovos só irão dar origem a zângãos, formando uma colmeia “zanganeira” que irá perecer em pouco tempo
As abelhas que trabalham no exterior usam vários tipos de dança para poderem informar as suas companheiras sobre a localização do alimento descoberto. Se a dança é feita em círculo é porque se encontra a poucas dezenas de metros. Se é feita formando oitos, o ângulo que faz com o sol indica a direcção a tomar, a rapidez da dança indica a distância e o tempo que leva a dançar indica a abundância do material descoberto.
Os zângãos nascem de ovos não fecundados e não possuem ferrão. Atingem a sua maturidade sexual aos 12 dias de vida. A sua única função é fecundar as rainhas jovens, o que fazem em voo. A duração da sua vida é de 80 a 90 dias desde que não tenham tido o privilégio de fecundar a rainha. Após a cópula o seu órgão genital fica preso no corpo dela, mutilando-os e originando a sua morte. O resto do tempo permanecem inactivos sendo alimentados pelas obreiras. Quando termina a época da abundância são expulsos das colmeias e morrem de fome e frio no exterior.
Os produtos que se podem extrair de uma colmeia são os seguintes:
Mel - conhecido desde a antiguidade foi sendo substituído gradualmente à medida que se iam conhecendo os açúcares refinados extraídos da cana-de-açúcar e da beterraba, mais baratos, mas de qualidade incomparavelmente inferior. O mel é o único adoçante que contém proteínas, sais minerais e vitaminas essenciais à alimentação. É altamente energético e com conhecidas propriedades medicinais sendo um poderoso bactericida;
Geleia-real - produto fabricado por abelhas jovens que contém proteínas, lípidos, vitaminas, hormonas, enzimas. É estimulante do organismo, aumenta o apetite, tem efeito anti-gripal, actua no crescimento, na longevidade, na reprodução das espécies;
Pólen - produto muito rico em vitaminas A e P, proteínas e hormonas. Parece ser eficaz na anemia, no bom funcionamento do intestino, abre o apetite, aumenta a capacidade de trabalho, baixa a tensão arterial, actua nos transtornos da gravidez e menopausa, estimula o pâncreas combatendo a diabetes, aumenta a virilidade e fertilidade;
Própolis - constituída por resinas vegetais que as abelhas colectam de certas árvores, cera, pólen, ácidos e gorduras. As abelhas usam-na para calafetar as colmeias, soldar peças e para envolverem invasores mais corpulentos que tenham sido mortos dentro das colmeias, mumificando-os e retardando o processo de putrefacção por vários anos. Além de ter propriedades antibióticas, tem também acção imunológica, anestésica, cicatrizante e anti-inflamatória;
Cera - utilizada na confecção das velas, na composição de produtos de limpeza, cosmética, impermeabilização, isolamento na indústria eléctrica e em odontologia;
Veneno ou Apitoxina – em grandes proporções é letal para o homem mas em doses pequenas tem sido utilizada no tratamento do reumatismo, nevrites, nevralgias, redução do colesterol, doenças oftalmológicas. Pode ser administrada através das picadas naturais das abelhas mas também por injecções subcutâneas, pomadas, inalações ou comprimidos.