2007-12-29

É só para dizer...

É só para dizer que este amiguinho que já vos apresentei há dias e que afinal não chegou a hibernar mais parecendo um animalzinho de estimação por gostar de andar sobre nós apreciando o calor dos nossos corpos, metendo o focinhito dentro das nossas mangas ou na gola quente das camisolas…
 
Posted by Picasa

… estando cada vez mais confiante nas nossas mãos…
 
Posted by Picasa

… e adormecendo facilmente em qualquer posição...
Posted by Picasa

... apareceu morto na noite de Natal dentro da caixinha onde dormia.

2007-12-19

Uma história quase de Natal

O frio veio tarde mas apareceu com toda a força. No início só o sentíamos ao cair da noite deixando os dias encherem-se de sol e a manterem-se demasiadamente quentes, o que dava origem a violentos choques térmicos.
Os eucaliptos que começam a invadir as zonas próximas após o devastador incêndio de há 2 anos, não conseguiram manter as suas folhas verdes após estas mudanças bruscas de temperaturas e têm este aspecto muito idêntico a uma nova passagem do fogo

Posted by Picasa

Mas agora o frio já se faz sentir de noite e de dia, pondo fim à infestação de lagartas e outros bicharocos que nos estavam a dizimar a horta.
Com a chegada das primeiras chuvas, ainda que muito fraquinhas, resolvemos semear um terreno de pasto para corte (para fazer fardos). O saco de sementes diversas custou tão caro que temos receado semeá-lo com um tempo demasiado seco. Mas, como não se pode esperar indefinidamente, resolvemos arriscar e preparámos as terras.
O dia da sementeira é um dia de alegria para as dezenas de corvos que já conhecem o trabalho do tractor perseguindo-o e já sabedores que após este trabalho segue-se aquele momento extraordinário em que se atiram sementes para a terra que embora cobertas com outra passagem do tractor, muitas ficam à superfície fazendo as delícias de qualquer corvo mesmo pouco guloso.
Por isso, e como sempre, após a sementeira seguiu-se a invasão dos corvos. Esperamos que as sementes dêem para eles e para nós que as pagámos.
Mas o trabalho das lavras no terreno, preocupa-nos sempre porque desconcertam temporariamente o habitat de uma série de pequenos animais. Aquele pelo qual sentimos um maior carinho, é o ouriço-cacheiro.
Como estivemos e estamos ainda a preparar terrenos para outras sementeiras, pode acontecer destruirmos as tocas dos ouriços que nesta altura devem estar a hibernar defendendo-se deste frio intenso.
Uma noite destas, depois do passeio tardio com os nossos cães, reparámos que a Nanã não parava de ladrar olhando fixamente para o chão. Fomos ver o que era e vimos um ouriço ainda muito jovem, todo enrolado e sem se mexer.
Pegámos-lhe com muito jeito, mais por nós do que por ele, e trouxemo-lo connosco. Devia ser um dos tais desalojados porque não estava tempo para um animal hibernante andar a passear pelos terrenos.
Pusemo-lo numa gaiola com palha e deixámo-lo coberto com ela deixando também pedaços de maçã e um pequeno ovo. No dia seguinte a comida estava intacta e ele continuava enrolado no mesmo local.
Ao fazermos uma panelada de comida para os cães, espalhou-se o vapor da cozedura pelo espaço, aquecendo-o. O nosso pequeno amigo ao sentir aquele ar quentinho, começou a espreguiçar-se muito lentamente... primeiro o pescoço, depois as patas da frente, num vagar mesmo de preguiça, depois as patinhas de trás esticando-se completa e longamente (sentimos um desgosto enorme de não termos a máquina connosco para registarmos este momento tão engraçado), começando depois a farejar o ar e a andarilhar pela gaiola.
Ficámos muito preocupados porque na realidade a chegada da Primavera era só uma aparência, não distinguida por um ouriço inexperiente destas coisas da Natureza.
Assim que apagámos o fogão e o ar arrefeceu de novo, o animal começou a enrolar-se e tremer de frio. E agora que fazer? Mantê-lo numa temperatura que lhe fosse cómoda até à chegada real da Primavera ou deixá-lo perceber que afinal ainda estávamos no Inverno?
Trouxemo-lo para casa e ao sentir o calor das nossas mãos, o ouriço estava cada vez mais descontraído, abrindo-se facilmente e deixando fazer-lhe festas no focinho.
Posted by Picasa

Andava tão à vontade que nos permitia visualizar uma série de pulgas caminhando pelo seu corpo. Também deviam estar desorientadas sem saber se haviam de abandoná-lo que de tão frio parecia estar prestes a morrer ou manterem-se até o seu aquecimento.
O processo arranjado para as eliminar foi retirá-las com uma pinça, um trabalho a exigir muita perícia com uma forte dose de paciência e golpe de vista.
Passado algum tempo reparámos que já não tremia de frio e pusemo-lo na caixa com palha para vermos qual a sua decisão. E ele tomou a mais acertada: foi-se afundando com as patas, remexendo na palha, até ficar todo coberto e deu início de novo à sua hibernação.
Agora é só deixarmos pedaços de fruta para ele poder comer quando a fome apertar um pouco, mesmo nesta fase de letargia.
Prometemos ir dando notícias deste novo inquilino

Aproveitamos este post para deixarmos os votos de Boas Festas e Feliz Ano Novo para todos os amigos

2007-11-27

Só faltaram as fadas

Estava uma tarde quente de Verão e eu descia a Rua do Alecrim em direcção à estação dos comboios, depois de mais um dia de trabalho no banco.
Parei uns curtos minutos em frente de uma montra para apreciar umas peças de cerâmica e pude dar uma olhadela ao meu aspecto com o cabelo cortado curto recentemente, a minha t-shirt amarela com uma flor bordada com missangas brancas e as calças à marinheiro de ganga também branca. Ao ombro a minha malinha de pano verde e vermelho com tirinhas amarelas, alvo da chacota dos meus colegas.
Sentia-me fresca e leve e por isso continuei a descer a rua num passo descontraído.
Ao chegar ao largo do Cais do Sodré, cujo nome é Praça Duque da Terceira, atravessei a primeira faixa com o sinal verde para os peões para depois atravessar a faixa dos carros eléctricos que entretanto estava com luz vermelha.
O carro eléctrico aproximava-se com velocidade mas dava perfeitamente para atravessar diante dele. E foi o que fiz. Eu e algumas pessoas que pensaram da mesmo forma.
Mas aconteceu um imprevisto: a correia da mala esgueirou-se do ombro e a malinha caiu, ficando no meio dos carris e aí já sem tempo para a poder apanhar. Esperei que o carro passasse para depois a reaver.
O carro eléctrico abrandou a velocidade mas ao passar, arrastou a mala consigo. Percebi que tinha ficado agarrada às peças salientes que o carro tem por baixo. O condutor avançou um pouco, depois fez marcha atrás mas a malinha não caiu mantendo-se presa a ele. O carro eléctrico imobilizou-se.
Olhei para o condutor expectante, para os passageiros debruçados das janelas, para as pessoas que se juntaram à minha volta curiosas com a ocorrência e, suspirando fundo, percebi que tinha que agir rapidamente.
E assim fiz.
Tirei um pedaço de cartão que espreitava de um caixote de lixo ali perto e ajoelhei-me sobre ele para poupar as calças brancas. Mas a correia estava de tal maneira enrodilhada naquelas peças que não tive outro remédio senão deitar-me no chão para poder trabalhar.
Não sei se algum de vós já viu as partes baixas de um carro eléctrico. Aquilo está tudo coberto por uma grossa camada de massa consistente, preta de tanto lixo acumulado e agarrando-se teimosamente a qualquer coisa que lhe toque
Acabei por conseguir soltar a mala e quando me preparava para sair dali, ouvi os gritos lancinantes e estridentes de uma mulher e pensei:
"Não me digam que o facto do carro eléctrico estar aqui parado já deu origem a um acidente grave!..."
Consegui esgueirar-me daquele inferno preto e os berros da mulher pararam como por encanto ao ver-me sair sã e salva. Só então percebi que os gritos eram pela aparência de eu ter sido trucidada pelo veículo.
Já de pé dei-me conta do meu aspecto horrível com camadas grossas de massa presas às mãos, aos braços, aos cabelos agora pesados. O mesmo se passava com a minha t-shirt amarela e com a parte de trás das calças
A mala de pano não se abriu e por isso não perdi nada. Mas o que levava dentro como a caixinha da maquillage mais o pequeno espelho estavam partidos e o livro, que andava a ler na altura, ficou meio cortado.
O condutor tocou para se despedir. Levantou o braço e o carro eléctrico seguiu caminho. As pessoas que se tinham juntado à minha volta, afastaram-se comentando o sucedido.
E eu apanhei o comboio, com montes de gente a olhar, intrigados com o meu aspecto e tendo que fazer a viagem em pé pela impossibilidade de me sentar com a parte de trás toda coberta de massa consistente.

O livro mantenho-o comigo... como troféu.
Posted by Picasa

2007-11-06

Um milho quase tradicional

Todos os anos semeamos meio hectare de milho para fazer face aos reforços na alimentação dos galináceos, ovinos e equinos.
Há cerca de 6 anos comprámos um saco de 5 quilos de milho híbrido e tivemos uma belíssima produção de óptima qualidade. Em Abril semeamos sempre milho da produção anterior.
Acontece que de ano para ano, a produção tem vindo a decrescer sendo o próprio grão muito mais fraco.
Ficámos então a saber que é uma característica do milho híbrido, a produção ir decaindo nas gerações seguintes e, para manter os mesmos níveis de produção é necessário adquirir semente nova por cada sementeira.
Mostro-vos uma foto com algumas maçarocas deste ano onde podem reparar que há muitas falhas no grão e este tem vários tamanhos e formas, parecendo-se cada vez mais com o milho tradicional.
Posted by Picasa

O milho é uma planta da familia Gramineae e da espécie Zea mays. Originária da América Central. Tem uma grande capacidade de adaptação e por isso é cultivada praticamente em todo o mundo. É um dos alimentos mais nutritivos que se conhece. Como o grão conserva a sua casca, é muito rico em fibras.
A planta do milho é bastante curiosa. É monóica o que quer dizer que tem flores masculinas (bandeira ou pendão) e flores femininas onde estão as conhecidas barbas e onde se vai desenvolver a maçaroca .
Posted by PicasaFoto de bmf_a

Por norma a planta não se auto fecunda o que daria maçarocas muito raquíticas. Para isso não acontecer, as flores masculina e feminina na mesma planta, amadurecem em tempos diferentes em que o desprendimento do pólen da bandeira não coincide com a capacidade de fecundação da flor feminina.
Por isso se diz que o milho é uma planta de polinização cruzada por fecundar as plantas perto de si através de agentes externos, especialmente por correntes aéreas.
Os milhos híbridos usados até aqui eram manipulados de uma forma simplificada, obtendo-se a partir do cruzamento de plantas de milho com outras variedades de milho mais resistentes ou com maior produção.

Ao chegarmos a este ponto temos necessidade de diferenciar os milhos híbridos dos transgénicos também conhecidos por híbridos de 2ª.geração.

Todos os seres vivos têm várias características cujas formas ou funções são determinadas pelos seus genes. São recebidos dos seus progenitores e passados para as gerações seguintes.
Graças a essas diferentes características é que podemos diferenciar os animais das plantas e das pessoas e perceber as diferenças entre os elementos de cada grupo.
Na manipulação tradicional só se podem cruzar espécies idênticas e os genes que eram transferidos neste cruzamento, transportavam com eles características diversas não controladas .
Uma vez que todos os genes tanto humanos, como vegetais, animais ou bacterianos são criados a partir do mesmo material, isso permite que actualmente a modificação genética possa misturar, por exemplo, genes de animais, com os de vegetais ou de bactérias, dando origem a espécies completamente novas e estranhas.
Em Portugal o Governo autorizou a cultura de milho transgénico manipulado com o gene do Bacillus Thuringiensis que contém uma proteína tóxica para as larvas, conhecidas por broca do milho, não havendo necessidade de usar pesticidas para controlar esta praga.
À primeira vista parece que os organismos geneticamente modificados (OGMs) resolveriam muitos problemas actuais:
Actualmente podem-se juntar determinados genes para que as plantas fiquem resistentes ao frio ou ao calor desenvolvendo-se assim uma agricultura ampla durante o ano inteiro independentemente do tempo que fizer; modificou-se o arroz de forma a conter uma série de vitaminas que não entravam na sua composição; criou-se uma soja resistente aos herbicidas; milho com genes de escorpião para evitar o ataque de certos insectos; morangos com genes de peixe de zonas geladas para assim resistirem melhor ao frio; café que amadurece mais rápido; soja com sabor a carne; algodão com genes de uma flor azul, tornando-o também azul de forma a não ser necessário o tingimento das gangas; batata e tomate resistente às pragas de insectos.etc, etc
As manipulações genéticas são hoje quase infinitas dependendo mais do interesse das multinacionais do que da capacidade dos laboratórios.
Os novos genes introduzidos modificam a sequência do DNA, reprogramando-o e por isso dando origem a uma nova espécie.
A natureza tem as suas leis e normalmente reage mal contra os híbridos. É o caso do cruzamento entre o cavalo e a burra ou da égua e o burro, cujas crias são estéreis, o mesmo acontecendo com o cruzamento de algumas aves.
Como vai a Natureza reagir perante esta introdução de novos seres vivos, fabricados no laboratório quase de um dia para o outro sem terem sofrido o efeito da evolução/adaptação?
O que pode acontecer ao ser humano ao ingerir grandes quantidades de agro-tóxicos existentes nos genes introduzidos nas farinhas de milho ou soja, que por sua vez estarão presentes na carne ou peixe de aquacultura alimentados com estas rações?
Os genes resistentes aos herbicidas podem dar origem a novas pragas?
Os genes insecticidas poderão originar resistências nos insectos nocivos ou matar insectos úteis?
O pólen das plantas tornadas estéreis por interesse das multinacionais obrigando assim os agricultores a comprar sementes todos os anos, pode também esterilizar outras plantas na Natureza?
Como reagirá o nosso organismo ao ingerir genes de escorpião ou outros igualmente estranhos?
E as perguntas que nos surgem são imensas.
Nós não somos, para já, contra os transgénicos! Somos sim contra esta corrente de apoio aos transgénicos que não hesita em classificar de burros, ultrapassados ou arautos da desgraça, todos aqueles que dão sinais de terem algumas preocupações.
O que mais nos preocupa é sabermos que presentemente ninguém poderá responder às nossas questões. Tudo o que se diz de parte a parte não passa de conjecturas. Só o tempo nos dará a resposta certa.
Actualmente é obrigatório referir nas embalagens do milho e soja se estes foram geneticamente modificados. No entanto essa referência não existe nas embalagens com várias farinhas como as usadas na alimentação de crianças, ou na carne e peixe de animais alimentados com esse tipo de rações.

E vamos terminar a falar do nosso milho, tal como começámos.
Não temos fotos do início das tarefas que foi o lavrar as terras, o semear, o sachar, o regar, mais tarde cortar as bandeiras e depois as maçarocas. Vamos fazê-lo no próximo ano. Por agora só temos fotos da fase final.
Posted by Picasa

As maçarocas depois de colhidas e desfolhadas ficam uns dias a secar ao sol...
Posted by Picasa

...depois despejam-se os sacos cheios de maçarocas na parte superior da malhadeira e esta arranca o grão, separando-o dos sabugos...
Posted by Picasa

... e por fim o grão fica a secar mais alguns dias ao sol antes de ser ensacado e arrumado para ser utilizado durante o ano.

2007-10-22

Quando os homens da ciência também falam de compotas…

Há umas semanas atrás, recebemos um mail de um senhor chamado Mário Portugal que explicou ter-nos conhecido através do post de Março deste ano onde falamos do cientista Bettencourt Faria... e que era seu irmão.
As grandes surpresas da blogosfera !
A partir desse momento iniciou-se uma troca diária de mails.
O Mário é uma pessoa extremamente delicada e generosa, fazendo parte da grande família de radioamadores. Tem um saber imenso sobre múltiplos assuntos relacionados com a ciência. Uma curiosidade desmedida sobre o funcionamento de tudo o que é novo. Um gosto enorme pela vida e uma alegria que transpira em tudo o que escreve Os seus mails lêem-se e relêem-se absorvendo todas as informações e memórias que ele adora partilhar.
Entre tanta informação variadíssima, fomos surpreendidos pela gentileza do envio de uma receita ainda manuscrita pela sua falecida mulher.
Em sua homenagem demos-lhe o nome de “Doce de Figo da D. Alice”
Como a nossa figueira ainda tinha uns figos meio maduros, resolvemos experimentar a receita de imediato. É facílima de fazer e posso garantir-lhes que é um doce de comer e chorar por mais. Para os interessados (e estamos a pensar no Luciano) aqui segue a receita.

Primeiro lavam-se os figos e depois faz-se em cada um, 2 ou 3 furinhos com um palito.
Posted by Picasa

A seguir pesam-se e põem-se num tacho, juntando igual peso em açúcar. Cobrem-se com água e deixa-se ficar a descansar de um dia para o outro.
Posted by Picasa

No dia seguinte põe-se o tacho ao lume e vai-se deixando ferver lentamente mexendo com cuidado por uma hora ou mais
Posted by Picasa

de forma a ficar um caramelo não muito espesso.
Se por acaso engrossar demasiado, como nos aconteceu, junte um pouco de água com precaução porque vai espirrar pela certa.
Posted by Picasa

Depois de pronto é só deixar arrefecer e pôr em frascos de boca larga
Posted by Picasa


Comem-se assim inteirinhos e bem regados de caramelo.
Se ainda têm alguns figos maduros ou meio maduros nas vossas figueiras, não hesitem e experimentem. Depois agradeçam esta partilha ao cientista Mário Portugal :))

2007-10-03

Os nossos cachorros

Depois de uma ausência justificada por algum cansaço e falta de imaginação para o exercício da escrita, voltámos ao vosso convívio para vos mostrar as fotos dos novos residentes na quinta.
 
Posted by Picasa

Apaixonámo-nos por estes dois manos Leões da Rodésia assim que vimos a ninhada com um belíssimo aspecto denunciando um tratamento cuidado, assim como os seus progenitores.
Leão da Rodésia é uma raça africana, óptima para guarda e que era usada em matilha na caça ao leão.
Nós somos um pouco indiferentes ao pedigree dos cães porque sempre tivemos rafeiros, encontrados abandonados. Mas compreendemos que alguns comportamentos são mais previsíveis em determinadas raças. Não somos muito entendidos no assunto mas há duas delas que fazem parte da nossa paixão. A primeira é o Cão de Castro Laboreiro, uma raça portuguesa muito antiga, que mantém características lupinas. Autóctone de Castro Laboreiro, freguesia no extremo norte de Portugal, pertencente ao concelho de Melgaço, esteve em vias de extinção. Só os esforços de algumas pessoas interessadas na divulgação da raça com características de guarda e pastoreio é que evitaram que tal tivesse acontecido. Foram ao ponto de distribuir cachorros por pastores da zona para tentarem implementar o uso deste tipo de cão. Há muitos anos que temos um enorme carinho por esta raça e esforçamo-nos por os termos na nossa companhia. Com a morte do Odin a que me referi no post “Será que vale a pena?” ficámos apenas com o Baco, aquele cão grande de olhar atento que está deitado aos meus pés esperando que me levante da sesta, no post “É só por um bocadinho”. É um cão de aparência feroz para estranhos mas de uma total dedicação ao dono e muito afectuoso para com as crianças, como bem pode dizer a pequena Leonor que o tem como confidente, abraçando-se ao seu pescoço, enquanto se lastima em grandes prantos, perante a imobilidade e o olhar compreensivo de uma alma canina que percebe o desgosto e lhe dá o apoio da companhia serena.
O Baco não é um cão de pastoreio porque não o soubemos preparar, ignorando que havia a necessidade de o introduzir no estábulo onde deveria comer e dormir para aprender a conviver com as ovelhas desde pequenino. Por isso, sofre do impulso de caçar borregos, muito estimulantes nos seus saltinhos e pequenas correrias. Não vale a pena insistir porque não consegue resistir. Inicia a perseguição com melhor ou pior resultado e a seguir mete-se no canil com um ar muito comprometido. A única forma de evitar esta situação é ter o rebanho afastado das vistas e sempre que possível em pastos protegidos por rede ovelheira.
Depois do Castro Laboreiro, a nossa paixão vai para o Leão da Rodésia ao qual estamos muito ligados desde que tivemos o Thor, a quem dediquei um post de saudade em Setembro do ano passado e a sua irmã Tanit que ainda é viva embora já a ficar velhota e com vários problemas de artrose. Chamava-lhes a minha guarda pessoal.
Os Castros passavam o tempo rondando a quinta por dentro e por fora e as casas, preocupados com todo o movimento estranho. Os Leões pouco se afastavam, preocupados com a guarda dos donos. Quando fazíamos nós as rondas, o Thor ia sempre colado a mim, a Tanit ao meu marido, calados e atentos a todos os ruídos. Faziam uma guarda excessiva aos bens dos donos. Não os podia ter à solta enquanto trabalhavam os homens das obras porque se sentavam em cima da pilha de tijolos e dos sacos de cimento e rosnando impediam que alguém utilizasse os nossos materiais. Outra mania que tinham era a de não aparecerem, embora estivessem atentos, quando alguém entrava na quinta mas presentes, e bem presentes quando saía. E o pior é que carros e bicicletas, depois de entrarem aqui, já não podiam sair… talvez por acharem que passavam a pertencer-nos. Bem, e se a pessoa entrava de mãos vazias e saía com embrulhos, então é que perdiam mesmo a cabeça.
Identificam-se facilmente pela crista no dorso formada por pêlos que crescem no sentido da cauda para a cabeça, ao contrário do que sucede com a restante pelagem e por isso o nome original de Rhodesian Ridgeback como podem reparar na foto abaixo
Posted by Picasa

E então, nós que só íamos ver o aspecto de uma ninhada, acabámos por vir para casa, não com um mas sim com dois cachorros, um casalinho de manos que parecia serem muito unidos.
Aos poucos vão sendo aceites pela matilha residente. Na foto abaixo podemos reparar nas suas brincadeiras perante a indiferença do Baco que se comporta como o líder e da Tanit que já estava cansada de brincar com eles, na sua preocupação de os preparar para futuros guardas.
Posted by Picasa

Apenas a Pandora, que já conhecem do texto “É só por um bocadinho” estando deitada à direita da foto e que gosta de caçar coelhos que oferece depois ao nosso caseiro, é que não está para aturar estas tropelias constantes e ignora-os simplesmente.
Alguém nos disse que era comum dar nomes africanos aos cães desta raça e como temos a mania de dar nomes de deuses antigos, andámos a pesquisar a mitologia africana. Foi difícil mas acabámos por nos decidir por Dongo, o deus do trovão e do fogo e Nanã Buluku (utilizamos só o primeiro nome), divindade hermafrodita, deusa da chuva, protectora dos doentes e idosos.
Na foto abaixo pode-se ver a preocupação deles perante o afastamento dos donos.
Posted by Picasa

O Dongo, que só tem 4 meses, já me acompanha nas caminhadas, com o focinho colado a mim, tal como fazia o saudoso Thor.
São tão traquinas e têm uma tal vitalidade que parece termos o diabo à solta aqui na quinta.

Post-Scriptum: Soubemos hoje que 3 manas desta mesma ninhada ainda esperam por donos dedicados.

2007-09-16

Negros frutos

Nesta tarde cinzenta enquanto bebíamos uma mistura de chá príncipe com flores de tília e saboreávamos uns biscoitos de canela acabadinhos de sair do forno, estivemos a ouvir dois Cd’s da Billie Holiday. Billie Holiday nasceu a 7 de Abril de 1915 em Baltimore, no seio de uma família pobre. Seus pais tinham 15 e 13 anos quando ela nasceu e naturalmente sem maturidade necessária para a educar. O pai abandonou a família quando Eleanora, seu nome de baptismo, era ainda bebé. Teve uma infância e adolescência miseráveis sendo violada em menina e cravando os dentes no fel da vida através da prostituição, prisões e drogas. Começou a cantar com 15 anos nos bares nocturnos de Nova Iorque, tendo acompanhado mais tarde os famosos Bessie Smith, Duke Ellington, Count Bessie, Lester Young e outros. Mesmo no auge da sua carreira, foi sujeita a actos de segregação racial, não podendo frequentar os mesmos hotéis dos brancos quando acompanhava a banda nas suas tournées e sendo obrigada a usar elevadores de serviço para não incomodar os clientes brancos. Casou-se diversas vezes e essas ligações apenas serviram para a afundar mais no lado negro da vida por se ver trocada por outras mulheres, por ser roubada, por ser espancada e por ser levada a experimentar drogas cada vez mais fortes. A sua voz tinha uma tessitura de uma oitava só. Mas essa limitação vocal era compensada com um intenso dramatismo, com uma tal expressividade que a tornava única. Morreu em Nova Iorque a 17 de Julho de 1959 por não ter conseguido resistir aos efeitos do álcool e das drogas e deixou uma autobiografia intitulada “Lady sings the blues” Um dos seus maiores êxitos foi a canção “Strange Fruits” escrita por um professor judeu que ao ver uma foto de negros enforcados e pendurados nas árvores por brancos racistas, baloiçando como se fossem frutos horrendos, resolveu escrever uma canção de protesto denunciando a opressão exercida sobre os negros dos EUA. Conta-se que Billie Holiday chorava sempre que a cantava, também ela perseguida pela cor da sua pele. Aqui fica o registo de uma das suas interpretações. Se quiserem saber um pouco mais sobre o que motivou a letra desta canção, podem aceder por aqui: http://www.youtube.com/watch?v=isU_OjY94NY

2007-09-10

A visita

Ainda estava naquela indolência de deixar passar os minutos, as horas, a olhar para tudo como se o tempo tivesse parado e não houvesse nada urgente para fazer quando fui surpreendida pelo ciciar de uma sombra, um sopro quase etéreo, uma sensação estranhamente indefinida, arrastando a incerteza que algo tivesse acontecido. Alheei-me da leitura que fazia e fiquei suspensa esperando que alguma coisa se repetisse. Passaram uns segundos e de novo a sombra, sim porque foi uma sombra que perpassou por mim, volteando, silenciosa mas pesada. Só podia ser um pássaro, pensei. E de novo sulcou o ar quase roçando o meu rosto. Desta vez consegui segui-lo com os olhos entrando na salinha onde poisou no velho sofá. Fui buscar a máquina fotográfica. Não era nenhum pássaro como poderão ver na foto, mas sim um surpreendente morcego (para mim são sempre surpreendentes estes mamíferos alados). Poderia tentar mais fotos mas o facto de saber que não são cegos e que havia a possibilidade de voar de salto ao assustar-se com a minha aproximação, acrescida da possibilidade de embater na minha cara podendo provocar uma histeria que não me é muito comum, foi perfeitamente dissuasor. Por isso apenas uma foto e já está muito bem.
 
Posted by Picasa

Tentei descobrir de que espécie seria mas foi completamente impossível. De asas abertas talvez atingisse a envergadura de uns 15 a 20 cm. Pedi ajuda mas, com uma foto tão limitada, também ninguém o conseguiu fazer. Abri a janela, acendi a luz no exterior e deixei-o sozinho. Dali a pouco ao entrar cautelosamente e com as mãos à frente da cara, percebi que ele já se tinha orientado seguindo o seu caminho.
Os morcegos existem há mais de 40 milhões de anos, podem viver entre 10 a 30 anos conforme as espécies e constituem bandos mais ou menos numerosos com comportamentos muito curiosos. Uma das coisas que nos surpreende é a forma de dormir pendurados de cabeça para baixo. Algumas teorias defendem que isso se deve ao facto de terem os dedos demasiadamente grandes das patas dianteiras, as que se transformaram em duas membranas funcionando como asas. Outras defendem que é pelo facto de terem patas traseiras tão pequenas e subdesenvolvidas que não suportam o peso sobre elas, embora aguentem a suspensão. E outras ainda pelo facto de ser mais fácil iniciarem o voo a partir desta posição uma vez que dificilmente conseguem voar a partir do chão pela falta de impulso das suas asas. Para ficarem suspensos de cabeça para baixo, não necessitam de nenhum esforço adicional. O próprio peso do corpo força a fechar os tendões que estão ligados às garras, não precisando de contrair nenhum músculo, por isso não cairá caso morra nessa posição :)) Quando quiser iniciar o voo é que necessitará de movimentar alguns músculos que abrirão as suas garras. Todos sabemos que se orientam nas suas caçadas nocturnas através de um sistema de ecolocação que consiste na localização das suas presas através dos ecos que recebem depois de emitirem ultra-sons pela boca ou pelo nariz e daí pensar-se que seriam cegos. Mas alguns até têm uma visão excelente. Normalmente têm só uma cria cuja gestação leva entre 2 a 7 meses conforme a espécie e são amamentadas com o leite materno. Caso haja o risco da cria nascer num período em que os alimentos sejam demasiado escassos, conseguem interromper o crescimento embrionário, para poderem hibernar e garantirem que o nascimento ocorra numa altura em que o alimento seja mais abundante. Nos primeiros dias, as crias são transportadas pelas mães nas saídas nocturnas, no saco interfemoral. Quando começam a ficar pesadas passam a ficar numa espécie de creche onde se juntam todos os bebés do bando. No regresso da caçada, as mães conseguem localizar os sinais sonoros dos seus filhotes entre milhares. No tempo frio, enrolam-se nas asas para se manterem quentes. Conta-se também que quando um morcego adoece e não pode sair para caçar, outros elementos do mesmo bando encarregam-se de obter comida para ele. Existem cerca de 1.000 espécies em todo o mundo e quase 30 em Portugal, a maioria em vias de extinção ou em risco. Os seus alimentos são diferentes de espécie para espécie, havendo os que comem insectos (um bando consegue devorar toneladas de insectos durante um ano, sendo óptimos para controle de pragas), os que comem néctar e pólen (importantes para a polinização das flores nocturnas), os que comem fruta (responsáveis pelo reflorestamento de algumas áreas através das sementes que caem com os seus excrementos), os que comem aves e pequenos mamíferos, incluindo morcegos de outras espécies, os que comem peixes e crustáceos e outros que se alimentam de sangue (apenas 3 espécies e nenhuma em Portugal).

E já agora conto-vos uma pequena história: Quando era menina, um amigo ofereceu-me um morcego preto, já morto. Podem estranhar a oferta mas eram outros tempos e tudo era divertido. Com o animal na mão – e sem pensar nas várias doenças com que me poderia infectar só pelo facto de o manusear sem luvas – resolvi embalsamá-lo. Tinha lido um pequeno livro sobre esta técnica e embora não tivesse nem instrumentos nem produtos necessários para o fazer, ainda assim, na minha ligeireza mental de adolescente, resolvi meter mãos à obra. Abri-o de lado com uma lâmina de barbear Nacet, com uma pinça puxei para fora todas as vísceras, lavei-o por dentro com água e sal, depois enchi-o com bolinhas de algodão que modificaram um pouco o formato inicial do seu corpo. No fim de tudo isto, cosi-o. Tirei-lhe os olhos e no seu lugar coloquei duas pequenas bolinhas de vidro de um velho ursinho de peluche. Procurei uma tábua envernizada que estava esquecida no quintal e coloquei-o em cima dela, de asas abertas, presas com preguinhos pequenos. Podem não acreditar mas ficou bonito.
E tudo ficaria por aqui se não entendesse que o deveria oferecer à minha escola para o colocarem na vitrina das ciências naturais. Mostrei-o ao meu professor de Português que era também o director da escola e que ficou tão encantado com o meu trabalho que foi logo colocá-lo na tal vitrina ao lado de outros pequenos animais metidos em frascos com formol. Foi um dos meus grandes sucessos na escola. Toda a gente parava para admirar o morcego de asas abertas até que a curiosidade esmoreceu e o morcego foi caindo no esquecimento. Meses mais tarde fui rever o meu trabalho. Estava esticado como eu o deixara mas com uma aparência um bocado estranha. Os olhos de vidro tinham-se afundado na cabeça, o pêlo outrora brilhante estava baço, o corpo tinha perdido a graça anterior e reparei numa aguadilha estranha que escorria manchando a tábua. Percebi que quando abrissem a vitrina deveria soltar-se um cheiro nauseabundo que iria destruir definitivamente o prestígio que eu adquirira. Felizmente era o último dia em que iria frequentar aquela escola.

2007-08-29

É só por um bocadinho

Não estamos de férias. Estamos apenas a gozar o prazer de estarmos num período mais calmo e sem grandes preocupações. Regressamos muito em breve
Posted by Picasa

2007-08-15

Agosto e o ruibarbo

O facto de termos a casa cheia de gente, a criançada barulhenta e traquinas, os serões com montes de histórias para ouvir e contar, a permanência mais longa na cozinha experimentando pitéus, pratos novos, doces diversos no meio de risadas que se soltam daqui e dali, faz com que o mês de Agosto seja sempre muito divertido e enriquecedor com tanta experiência nova.

Enquanto pensamos se devemos fazer um post sobre a festa do pepino, vamos explicar-vos como se faz um doce rápido de ruibarbo. Não há pesos nem medidas.. é tudo feito “a olho”.,

Primeiro a apresentação da planta de ruibarbo com as suas grandes folhas no centro da foto
 
Posted by Picasa

Escolheram-se as folhas com melhores caules
 
Posted by Picasa


Depois descascaram-se os talos
 
Posted by Picasa


Aproveitou-se o momento para se dar a provar aos mais pequenos que parece não terem ficado grandes clientes desta fase
Posted by Picasa

Posted by Picasa


A seguir partiram-se em pedaços e deitou-se açúcar (passe a publicidade)…
Posted by Picasa

… um pequeno gole de água…
Posted by Picasa

… e deixou-se ferver. Os pedaços de ruibarbo foram deitando mais líquido e desfazendo-se aos poucos.
Posted by Picasa


No final ficou com este aspecto
Posted by Picasa


E já havia gulosos apressados para molhar o pão no doce
Posted by Picasa


Posted by Picasa

Atenção que o tipo de confecção descrito aqui não é o de um doce para ser guardado muito tempo. A intenção é a de ser comido na altura, quentinho ou frio conforme o gosto. Mas pode-se guardar no frigorífico por algumas semanas. Espero que gostem porque tem um leve toque de acidez que é uma delícia. Os nossos agradecimentos à Lieve por nos ter preparado um lanche diferente com sabor e aroma aos campos da Bélgica.