2008-06-16

Dixieland em Cantanhede

No passado fim de semana, entre 12 e 15 de Junho, decorreu o V Festival Internacional de Dixieland em Cantanhede.
Faltámos o ano passado e este ano fizemos todos os esforços para não acontecer o mesmo.
Desde quinta feira que Cantanhede vibrava com esta música electrizante, tendo as bandas dixie e também as filarmónicas do concelho a tocar na rua durante o dia todo. À noite tocavam no palco de um recinto fechado no Parque Expo-Desportivo de S. Mateus, onde também decorria a Feira Gastronómica e de Artesanato.
O programa era tentador:
Bandas dixie portuguesas: Astedixie; Castiço Jazz Band; Desbundixie Jazz Band; Dixie Boys; Funfarra
Bandas dixie espanholas: Always Drinking Marching Band (com a participação da Maria João); Remember Swing,
Bandas dixie alemãs: Dixieman Four
Bandas dixie holandesas: Dixieland Crackerjacks; The Juggets Jazz Band
Bandas dixie italianas: Tiger Dixie Band
Bandas Filarmónicas: Ançanense, dos Covões, da Pocariça

Conseguimos viajar no sábado á noite mas não chegámos a tempo de ver os Dixie Boys , cujo trabalho pretendíamos conhecer.
Ouvimos a Remember Swing que é um projecto musical do trompetista argentino Marcelo Gallo, musico multi-facetado, que vive em Espanha, sendo o responsável por uma série de arranjos de forma a alterar a sonoridade de alguns temas clássicos. Foi um momento muito agradável

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A conhecida banda Dixieland Crackerjacks apareceu a tocar no meio do público, no seu jeito festivo como faz nas ruas, exibindo os seus vistosos fatos. Subiram depois ao palco e conseguiram electrizar o público que sem se dar conta começou a marcar o ritmo com o corpo, alguns levantando-se para dançar por entre as mesas e cadeiras.

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No final, a grande apoteose quando todas as bandas participantes neste festival surgiram a tocar temas muito populares, juntando-se aos Crackerjacks ainda em palco e levando o público a rodeá-los, cantando e dançando, totalmente cativado.
Eram 2,30 horas quando saímos e a festa ainda continuava…
No domingo foi o encerramento do Festival com espectáculos de rua desde as 10 da manhã havendo depois do almoço a chamada Street Parade.
Não pudemos ir e por isso deixamos aqui um vídeo que encontrámos no Youtube que é uma gravação feita no ano passado.
Fica então aqui um pouco do cheirinho a festa


2008-06-02

Maio, o mês das trovoadas

Há algum tempo que andamos a pensar em escrever um pequeno texto sobre as trovoadas. Esperámos que elas ocorressem para tornar o trabalho mais oportuno mas fomos desconsiderados pois nem uma se fez ouvir durante o mês que agora terminou. Por isso resolvemos publicar mesmo assim.
As nossas mães, ambas oriundas de zonas rurais ricas em mitos que eram aceites como verdades científicas, tinham pavor às trovoadas. Crescemos a ouvir relatos tão assustadores que acabavam por provocar o riso porque vivendo próximo das grandes cidades, atulhadas de pára-raios, o nosso conhecimento sobre as trovoadas limitava-se à visualização dos relâmpagos e à audição dos trovões e sem nada de relevante acontecer às pessoas a não ser alguns pequenos problemas nos electrodomésticos.
Quando viemos para esta quinta, as coisas mudaram um pouco de figura. Sendo uma zona com muito minério, segundo alguns entendidos, altamente arborizada e sem pára-raios, as trovoadas estacionam sobre nós durante muitas horas e algumas vezes regressando vários dias seguidos.
Há uns anos estava eu num campo aberto perto da casa com uma tesoura na mão a cortar flores para enfeitar a cozinha. Ouvia-se um trovejar ligeiro e continuei o meu trabalho completamente despreocupada, uma vez que estava uma tarde de sol.
Mas a dada altura, enquanto escolhia as flores, ouvi um zumbido sobre mim e senti os cabelos e os pêlos dos braços a erguerem-se puxados por uma força repentina e estranhíssima dando uma sensação esquisita à pele. Ao erguer os olhos vi a imponência de um raio que ziguezagueando indeciso sobre mim resolveu no último segundo trocar-me por um poste de alta tensão que se encontrava a uns 100 metros e ao qual se abraçou num gemido alto, contorcendo-se num paroxismo orgástico.
Escusado será dizer que fiquei completamente aterrorizada ao aperceber-me do que me poderia ter acontecido caso não houvesse aquele poste felizmente muito mais sedutor que eu.
A partir daí começámos obviamente a ter muito mais respeito às trovoadas. Encontrámos na Net uma explicação que considerámos interessantíssima:
Algumas nuvens conseguem gerar poderosas cargas eléctricas. No topo da nuvem forma-se uma carga positiva e na base da mesma uma carga negativa que vai dar origem ao raio. No início desta formação há uma descarga piloto que partindo da nuvem desce em ziguezague até ao chão a uma velocidade de 100 Km/seg, ionizando um mini túnel que abre no seu trajecto, tornando-o um bom condutor de electricidade e ligando assim o solo à nuvem. O solo envia a seguir um impulso positivo a uma velocidade próxima de um décimo da velocidade da luz, aproveitando o mesmo túnel com poucos milímetros de diâmetro aberto pela descarga piloto. O ar torna-se subitamente incandescente subindo a temperatura a cerca de 30.000ºC, criando uma onda de choque que dá origem ao estrondo do trovão.
Em algumas zonas do país era costume, durante a trovoada, as pessoas enrolarem-se em cobertores de papa. Estes cobertores eram fabricados de uma forma artesanal com fios de lã pura e por isso um bom isolante para as descargas eléctricas.
Ainda hoje se benzem raminhos de oliveira, alecrim, louro, no Domingo de Ramos que se queimam depois em dias de tempestade com o intuito de se afastar os raios.
Na zona onde vivemos também soubemos pelos mais antigos que era bom envolverem-se em mantas de cor vermelha, coisa que nos intrigou. Ao fazermos várias pesquisas descobrimos que nas festas dedicadas a Santa Bárbara, é costume os seus devotos vestirem-se de encarnado e branco, principalmente no Brasil. No entanto nas imagens que procurámos da santa, aparece vestida com estas duas cores mas também com outras muito diferentes.
Santa Bárbara é protectora contra as tempestades, trovões e raios (competindo com S. Jerónimo) e também protege aqueles que trabalham com fogo e explosões como os artilheiros, mineiros, pirotécnicos, metalúrgicos, e ainda padroeira dos arquitectos, pedreiros e outros.
Em dias de trovoada foi muitas vezes arrancada ao seu confortável altar e exposta na rua, à chuva, para a obrigar a agir e a terminar com a tempestade ao mesmo tempo que se repenicavam os sinos da igreja.
Os seus atributos são a torre, a espada, o cálice com a hóstia, o livro, a palma. Como é difícil fazer uma imagem que mostre a santa a carregar todos estes objectos, normalmente segura apenas dois à escolha.
Segundo reza a história, esta santa foi encerrada numa torre pelo pai, com o intuito de a deixar protegida durante uma viagem que este teve de fazer. Durante esse tempo ela decidiu tornar-se cristã o que enfureceu o seu progenitor quando regressou. Acabou por ser condenada à morte, acto desempenhado pelo seu pai. Quando a cabeça rolou por terra, um raio fulminou-o.
Segundo os mais idosos, é bom em dias de grande invernia e forte trovoada, fazer a seguinte reza para ficarmos protegidos pela santa:
“Santa Bárbara bendita, que no céu estais escrita, com papel e água benta, livrai-nos desta tormenta”
Mas, não vá a santa estar demasiadamente atarefada para nos atender, aqui ficam algumas normas de segurança que devemos respeitar:

Em casa:
Feche portas e janelas para evitar que os raios sigam as correntes de ar; desligue os electrodomésticos e a antena da televisão das tomadas; afaste-se das portas e janelas fechadas, assim como das chaminés; uma vez que as linhas telefónicas podem atrair os raios, use o telefone só em caso de emergência; evite tomar banho; não manipule nenhum condutor metálico (instalações de água, gás ou electricidade)


Fora de casa :
Abrigue-se em edifícios protegidos por pára-raios; não se aproxime de postes eléctricos ou telefónicos; não caminhe em campo aberto; não permaneça perto ou dentro de água; suspenda qualquer actividade desportiva; não mexa em estendais de arame, cercas, tendas, linhas telefónicas ou qualquer estrutura metálica assim como máquinas ou tractores que reboquem equipamentos metálicos; afaste-se do cume das montanhas antes do meio dia (a maioria das trovoadas ocorrem no princípio e no fim da tarde); evite andar de barco com trovoada, assim como a proximidade de praias, piscinas, lagoas; não se abrigue debaixo de árvores, nem se aproxime de troncos e raízes; se estiver num local isolado com um grupo de pessoas, devem dispersar para evitar atrair os raios e que a corrente eléctrica passe de uma pessoa para outra sem se tocarem; não ande de bicicleta ou de cavalo; se estiver num sítio isolado e sem possibilidade de se resguardar, ponha-se de cócoras com os pés bem juntos e não toque com as mãos no chão; não permaneça junto de rebanhos de ovelhas; não manipule materiais inflamáveis em recipientes abertos; não corra contra o vento, mas sempre a favor, para evitar a electrização do atrito; ao correr, evite colocar os dois pés ao mesmo tempo no chão; solte os animais presos a correntes ou arames e tire-lhes as coleiras de metal; não use chapéu de chuva cuja ponta metálica pode atrair o raio; se sentir a carga eléctrica que se caracteriza por eriçamento do cabelo e formigueiro na pele, atire-se para o chão; se estiver dentro do carro, feche as janelas e fique tranquilo pois está bem protegido. Saia só quando tiver a certeza que a tempestade passou completamente.
Em caso de acidente é necessário agir imediatamente tentando a reanimação com respiração boca-a-boca ou massagem cardíaca.
Como os batimentos cardíacos são estimulados por impulsos eléctricos de pequena intensidade, a descarga eléctrica de alta intensidade do raio pode provocar uma sobrecarga que leve à paragem cardíaca seguida de paragem respiratória, interrompendo a irrigação sanguínea do cérebro e levando a pessoa à morte.
Agindo rapidamente com as técnicas de reanimação referidas ou utilizando o desfibrilador, pode salvar-se uma vida.