2008-12-17

A azeitona nossa amiga

Primeiro um pouco de história:
Presume-se que em 3.000 aC já existiam oliveiras por todo o Crescente Fértil. Terão sido os gregos que as expandiram por toda a Europa Mediterrânica. Mais tarde foram os portugueses e os espanhóis que nas suas expedições marítimas as levaram até ás Américas e aos poucos foram-se espalhando por todas as partes do mundo com clima favorável.
Os gregos e os romanos eram grandes apreciadores de azeite que utilizavam na cozinha mas também como combustível para iluminação, medicamento, perfumes, bálsamo, lubrificante de alfaias, impermeabilizante de tecidos, etc.
As coroas e grinaldas que identificavam os vencedores eram feitas com ramos e folhas de oliveira. Com a sua madeira eram construídos ceptros reais.
A oliveira sempre foi considerada símbolo de sabedoria, paz, abundância e glória.
Sobre saúde:
O azeite tem efeitos muito benéficos sobre o organismos, favorecendo a mineralização óssea, estimulando e crescimento e favorecendo a absorção do cálcio. Ao reduzir a formação de radicais livres, combate o envelhecimento dos tecidos e órgãos em geral ajudando a prevenir alguns tipos de cancro. Contribui para o bom funcionamento da vesícula biliar, do estômago e pâncreas actuando também a nível intestinal. Ajuda a prevenir doenças cardiovasculares. Tem um efeito protector e tónico da epiderme. Melhora as funções metabólicas e previne a diabetes.
Aqui vai a sua composição segundo elementos retirados da Net:
Vitamina A - 250 U.l.
Vitamina B1 (
Tiamina) - 10 mcg
Vitamina B2 (
Riboflavina) - 15 mcg
Vitamina C (
Ácido ascórbico) - 6 mg
Potássio - 1530 mg
Sódio - 130 mg
Cálcio - 100 mg
Fósforo - 15 mg
Silício - 6 mg
Magnésio - 5 mg
Cloro - 4 mg
Ferro - 1 mg
Agora a nossa aventura:
Este ano colhemos a azeitona que felizmente tivemos em quantidade e de belíssima qualidade ao contrário do ano passado que nem deu para se aproveitar.
Aqui seguem as fotos que melhor explicam as várias fases:


Nesta foto vê-se o pessoal a apanhar a azeitona nos panais verdes depois de ter sido ripada (passar com a mão pelos ramos de forma a fazer cair os frutos) ou varejada nas zonas mais altas, o que se evita ao máximo para não prejudicar as árvores. Também se vêem muitos ramos cortados no chão devido às podas que se fizeram na mesma altura para deixar as arvores menos densas. Na verdade não seria agora a melhor altura para as fazer. Mas é costume aproveitar, uma vez que andam empoleirados, para fazer as podas mais ou menos razoáveis.


A seguir despejam baldes de azeitona no erguedor eléctrico que com deslocação de ar separa as folhas (mais leves) depositando-as num monte, das azeitonas (mais pesadas) que são depositadas num local oposto


Nesta foto mostra parte das azeitonas colhidas e limpas. No reboque já estão caixas de plástico com ranhuras para deixar escorrer a água das azeitonas que esperam a viagem para o lagar


Os potes mais pequenos reservámos para fazer conserva. Este ano optámos por outro processo e não as retalhámos, deixando as azeitonas numa salmoura de 1 quilo de sal por cada 10 litros de água, temperada com rodelas de limão e laranja, folhas de louro, ramos de orégãos, dentes de alho, e molhinhos de erva-azeitoneira. Ficam assim por um ou dois meses até perderem o amargo e depois pode-se começar a consumir retirando apenas as necessárias de cada vez .
E agora seguem as fotos com as várias fases por onde passaram as azeitonas até se extrair o azeite.
São necessários 5 a 6 quilos de azeitonas para se fazer 1 litro de azeite


Assim que as caixas chegaram ao lagar fez-se a pesagem


A seguir descarregaram-se aqui as azeitonas para serem lavadas



Depois da lavagem subiram por este tubo para o moinho onde foram esmagadas


Esta foto mostra o moinho ao fundo à direita. A pasta feita com polpa, peles e caroços passou para a máquina da esquerda com vários tabuleiros


Aqui vê-se um dos tabuleiros onde essa massa foi batida lentamente com aquecimento para se soltarem as gotas de azeite


Depois fez-se a separação da parte líquida: azeite e águas residuais, da parte sólida: o bagaço (que nada tem a ver com o outro bagaço “digestivo” feito a partir dos cachos de uvas).
Este bagaço misturado com azeite dá origem a alguns óleos alimentares


E nesta foto vê-se o azeite a ser misturado com água quente e a ser centrifugado…


… para finalmente se concluir o processo e podermos recolher o azeite das nossas azeitonas, com uma cor e aroma fora de série.
Na sequência das pesquisas feitas para desenvolver este tema, ficámos a saber que existe uma empresa espanhola que utiliza os caroços de azeitona para produzir biomassa e alimentar caldeiras. Uma matéria prima limpa, renovável e oito vezes mais barata do que os combustíveis derivados do petróleo. Segundo esta empresa, 2,5 milhões de toneladas de caroços será suficiente para gerar energia para 1,5 milhões de casas.
Aqui fica mais esta novidade.

2008-11-17

Não te esqueci, meu amigo

No meu tempo de adolescente uma das maneiras para se iniciar correspondência com alguém desconhecido era ler vários anúncios publicados nos jornais diários.
Foi assim que um dia resolvi responder a um pedido de um jovem brasileiro que pretendia corresponder-se com uma menina de Portugal dando início a um contacto que em breve daria origem a uma grande amizade que se prolongou por uns vinte anos.
Entrámos praticamente juntos na crise de uma adolescência partilhando todas as nossas alegrias e decepções.
Relia à noite as suas enormes cartas em que comentava a situação do Brasil de então, as dificuldades para se arranjar um emprego, os seus problemas para se manter na faculdade.
Imaginava-o fechado no seu quarto, ao entardecer, escrevendo-me cartas e postais enquanto contemplava distraído o evolar do fumo do seu cigarro.
Tratava-me carinhosamente por Emi e no meu aniversário, mais semana, menos semana, recebia um postal bonito e as palavras quentes de quem se sente ligado pelo coração.
Sujeitávamo-nos ao roubo constante de pequenos nadas que enviávamos dentro dos sobrescritos que eram continuamente violados, nunca percebi se aqui em Portugal ou lá no Brasil.
Chamava-se Meinardo, nome de flor, e foi sempre um companheiro presente, através de carta, nos grandes momentos da minha vida como foi o do casamento e nascimento dos meus filhos.
Ao fim de todos estes anos perdi as suas cartas e apenas guardo os postais com paisagens diversas do Brasil incluindo João Pessoa, zona onde vivia.
E também as fotos. As primeiras ainda muito menino e depois mais tarde já um homem de aspecto bondoso e olhar sonhador.
As cartas foram diminuindo em tamanho e frequência.. A minha nova vida de empregada bancária, o casamento, os filhos, o recomeçar dos meus estudos, não me permitia a disponibilidade necessária para continuar a escrever as longas cartas de outrora.
Mas houve uma altura em que deixei de receber a sua correspondência não respondendo sequer à insistência das minhas cartas que exigiam uma resposta breve. Vários meses se passaram até que um dia recebi um envelope debruado com as cores do Brasil que depois de aberto deixou cair um pequeno embrulhinho no meu colo e onde alguém escrevera “Abrir só depois de ler a carta”.
Saltando de linha em linha, fui lendo o relato plangente feito por um seu irmão que me contava de forma breve mas cautelosa, a morte de Meinardo no mar ao tentar salvar um primo arrastado pela ondulação forte quando brincava na praia .
Abri finalmente o embrulhinho que nada mais era que um pequeno cartão com a sua fotografia, a data de nascimento, 23.11.49 e a do seu falecimento, 3.3.80 (quatro dias antes do meu aniversário)
Li dificilmente entre lágrimas este elogio fúnebre: Ele descansa em paz. Seu nome hoje se encerra mas em nossos corações há-de permanecer. Cumpriu nobre missão sobre a face da terra: foi bom filho, bom irmão, bom tio, bom primo e bom amigo. Soube amar e sofrer.
Ainda hoje, quando folheio o álbum onde guardo as minhas recordações de menina, sorrio ao olhar uma foto que exibe o seu doce rosto e que tem escrito no verso uma frase que o tempo conseguiu dissipar a sua risibilidade “Basta me esquecer quando esta foto falar”

2008-11-02

Salamandras e Jeropigas

Dizem aqui na terra que quando se vêem salamandras é sinal que vai chover.
Pois há dias ao abrir a porta da cozinha quase ia tropeçando nesta lindíssima salamandra que erguida nas patas dianteiras e com a cabeça bem levantada, me vinha anunciar a chuva para breve. Só que deve ter vindo de muito longe e ao chegar aqui já chovia torrencialmente :)

- Obrigadinha, D. Salamandra! Mas não valia a pena incomodar-se tanto!...

A salamandra comum é um anfíbio Salamandra salamandra, ovovivípara, possui corpo negro com manchas amarelas por vezes avermelhadas de diversas formas e cauda longa. É animal nocturno, vive em locais de matas húmidas e frescas no nosso país, com necessidade da proximidade de água para a fêmea pôr as suas larvas (20 a 40) dentro de água. No entanto, depois de adulta perde a capacidade de nadar. Pode viver até aos 30 anos.
Perseguida desde sempre pelo homem que receia a peçonha ou a mordedura, no entanto não morde e a secreção cutânea irritante que usa para se defender dos predadores não nos afecta mesmo quando a seguramos na mão.
A da fotografia fartou-se de andar de mão em mão e embora enervada tentando sempre fugir, não deixou nenhuma irritação na pele.
Os antigos acreditavam que a salamandra era um animal demoníaco movimentando-se naturalmente por entre as chamas.
Ainda hoje é possível ver aparecer uma salamandra por entre as labaredas de uma lareira. Não por ser o seu habitat mas porque gosta de procurar durante o dia a frescura no interior de troncos velhos. E quando estes são apanhados e lançados na fogueira, as pobres tratam de fugir tendo realmente alguma resistência que se julga ser devido à tal secreção cutânea que as protege um pouco da queimadura das chamas.
O nome de salamandra que se dá aos aquecedores a lenha feitos em ferro, tem a ver precisamente com esta associação
É uma pena que seja tão detestada pelo homem uma vez que é utilíssima por se alimentar de moscas, mosquitos, caracóis, lesmas, centopeias, formigas, etc.

E agora sobre jeropiga:
Há umas semanas atrás comentava com o meu pessoal que tinha pena de não termos feito jeropiga. Primeiro porque não sabemos fazer, segundo porque não temos vinha e terceiro porque todos os vizinhos já tinham vindimado e a jeropiga é feita com o sumo de uva antes de fermentar. Mas um dos nossos auxiliares, homem prestável e sempre atento a estes pequenos desejos, andou a vindimar numa vinha abandonada e apareceu no dia seguinte, todo satisfeito com dois sacos cheios de cachos de uva branca e preta.
Ofereceu-se para ser ele mesmo a fazer e assim ensinar-nos.
Como era pouca quantidade decidiu-se espremer os cachos na prensa.



Depois de umas valentes espremedelas - porque é preciso ter força para esmagar os cachos - começámos a obter o sumo de uva, conhecido por mosto.



Obtivemos 9 litros de mosto ao qual se juntou 3 litro de aguardente (é esta a proporção). Mexeu-se muito bem e deixou-se descansar por algum tempo dentro de garrafões por não termos nenhum barril de madeira.
Na semana passada vimos que estava límpida e com um monte de borras depositado no fundo. Devia estar mais tempo sem ser mexida para ir ganhando mais sabor. Mas estávamos apressados para a preparar para o feriado de Todos-os-Santos e por isso enchemos duas garrafas e filtrámos o líquido usando um filtro dos de café..
Quisemos experimentar a clarificação natural que se usa no fabrico de licores e que consiste em juntarmos uma casca de ovo partida e uma clara ao licor, mexendo bem e deixando em repouso por 24 horas até se filtrar novamente
Deitámos uma clara de ovo e a casca esmagada à mão para dentro de uma das garrafas e deixámos a descansar.
No dia seguinte depois de tornarmos a filtrar, reparámos com alguma tristeza que tinha ficado demasiadamente baça o que nos desencorajou e nos levou a arrumar a garrafa e esquecermo-nos dela.
Ontem resolvemos fotografar as nossas bebidas e foi com satisfação que vimos que estavam ambas com um belíssimo aspecto.
Aqui vai a foto para verem a mesma jeropiga com o aspecto natural (a mais escura) e a clarificada com a clara de ovo, notando-se ainda algum depósito no fundo da garrafa




Mas como disse, foi apenas uma experiência. Na verdade apreciamos mais a sua cor natural que depende do tipo de uvas utilizado.
É muito agradável bebericá-la enquanto se vai saboreando um prato de castanhas assadas… ou cozidas… ou fritas e polvilhadas com canela :))

2008-10-16

A Horta do Thomé

Não conseguimos evitar de vos dar a conhecer um pouco do livro “A Horta do Thomé”, escrito por João da Motta Prego, ilustrado por João Alves de Sá, pertencente à "Biblioteca dos Meus Filhos" e publicado em 1909 pela Livraria Clássica Editora de A. M. Teixeira & Cta. Por incrível que possa parecer nos dias de hoje, era um livro destinado ás creanças.
Num arrabalde da cidade, vivia com grandes difficuldades uma família constituída pelo pae que era carpinteiro, a mãe que tratava das comidas, das roupas, da casa e de 10 filhos, sendo Thomé o mais velho com 12 annos de edade e que os paes dispensavam algumas horas para poder ir à escola e adeantar os estudos. O livrinho que mais o apaixonava e que lia e relia sempre que podia, era um que ensinava a tratar da terra e das plantas que o seu professor, o mestre tio Salomão, lhe emprestára.
Um dia o Thomé recebeu meio-tostão para pagamento de um pequeno trabalho e como era a primeira moeda que recebia, resolveu aplicá-la bem. Foi à cidade e depois de muitas hesitações resolveu comprar um pacotinho de sementes de Alface Loira Gigantea. Preparou um terreno no quintal, semeou, cuidou, e mais tarde com a venda destas alfaces arranjou dinheiro para comprar sementes diferentes e vamos assistindo à grande aventura deste jovem hortelão e dos seus irmãos, conhecendo as técnicas usadas na altura, sabendo os nomes das variedades semeadas, numa zona desconhecida do país onde o tempo favorecia sempre as culturas não dando origem a surprezas desagradáveis :)
Entretanto o Thomé fez 13 annos, e fica distincto no exame de instrucção primaria. O seu mestre aconselhou os paes a não gastar mais dinheiro com livros e mestres. “As lettras custam caras e rendem pouco à gente pobre. O rapaz tem geito mas é para hortelão. Lá por ahi há-de fazer caminho. Verão que não se arrependem”
Com as economias que vae fazendo, compra um burro chamado Figueiredo que é uma óptima ajuda no transporte dos productos pelas ruas da cidade, e à medida que o tempo passa compra um casal de coelhos para criação destinado à venda e ao consumo da casa, o bezerro Moysés para ajudar na faina quando crescido e um porco para engordar com as lavaduras da casa e detrictos da horta e matar-se pelo Natal para regalo da família, altura em que os mais novos tinham direito a beber uma pinguita de vinho branco.



As terras eram enriquecidas com estrume fabricado com o lixo da casa, detrictos da cozinha que se juntavam numa cova juntando aparas miúdas de madeira, folhas, hervas secas, cinzas da fornalha e da lareira e também com uma parte dos despejos líquidos da casa, n’uma altura em que o saneamento básico era um conceito desconhecido. Esses despejos líquidos eram guardados n’uma barrica vazia de petróleo, destamparada de um lado, collocada a um canto do seu terreno e destemperados com água quando usados directamente nas regas.
A lista das culturas é ennorme, explicando sempre a melhor forma de semear ou plantar: Cerefólio, Beldroegas, Raponcio, Funcho de Florença, Inhame, Lentilha, Mostarda, Rutabagas, Pastinagas, Escariola, Pimpinela, Escorcioneira, Salsifis, Aveia, Trigo, Cenoura Semi-Comprida de Nantes e Fusiforme, Rabanete Redondo e Semi-Comprido Rosa, Tomate commum, Beringella Violeta Comprida e Branca da China, Alho de sopa (alho francês) Monstruoso de Carentan, Salsa, Coentros, Segurelha, Tupinambos Vermelho e Amarello, Batatas Marjolin ou Franceza, Saucisse e Magnum Bonum, Cebola de Guimarães, Nabos de S. Cosme e de Guimarães, Feijão de trepar Vermelho e Mesclado, Manteiga-Marfim, d’Argel Preto; Feijões anões: Princeza, Amarello do Canadá, Preto d’Argel, Manteiga-Branco e Flageolet-Manteiga, Couve de Milão, Murciana, Gallega, de Cortar, Penca e Tronchuda. E os repolhos: Gigante das Hortas, Pão de Assucar, Coração de Boi, Saboya; Couve Flor Imperial, Broculo Branco Temporão, Exalotas, Ervilhas de trepar Príncipe Alberto, de casca ou de quebrar (ou come-lhe tudo) de trepar: Manteiga e Chifre de Carneiro, Beterraba Vermelha de Castelnaudary, Estragão, Melão Cavaillon, Cantaloup Prescott, Negro dos Carmelitas, Melancias Vermelhas de Aveiro e Santarém, Abóbora de Água ou Colombro, Napolitana (cucurbita moschata), Gerimu Parisiense, Porqueira do Norte, Chila, Cardo de Tours, Pimentão doce de Hespanha ou Catalão, Pimento picante vermelho comprido, Malagueta, ...

... Morangos de Meaux, Dr. Morère, Jucunda, Marguerite Lebreton, Capron Framboeza, sempre ajudados nos trabalhos pelo Tio Salomão, grande enthusiasta pelas cousas da lavoura.



(Faziam grelar as batatas-doces nos estufins para as plantarem em Abril ao ar livre)

Semeavam Fava commum e Fava de Sevilha e regavam diversas vezes com o líquido da barrica. Luiza ficava atenta às faveiras para quando florissem cortar a ponta dos novos rebentos e assim terem favas mais cêdo e mais gradas.
Nas Couves de Bruxellas apparecem muitos repolhinhos pequenos pelo tronco acima e que se desenvolvem muito depressa quando se corta a cabeça da couve. De modo que não se devia cortar a cabeça a todas ao mesmo tempo para a colheita ser mais prolongada
Chicorea Frisada de Maux, da Itália ou Fina de Verão, semeada em alfôbres, depois transplantadas para os canteiros e quando já não cresciam mais, estiolavam-se, enleando a planta com uma fita de palha, deixando só de fóra o extremo das folhas ou fechando-as e amontoando terra em volta, de modo a só apparecer no tôpo dos montículos assim formados, as pontas das folhas. As plantas assim preparadas não tomavam a côr verde e ficavam de um amarello esbranquiçado, muito tenras e appetitosas
Espargos da Hollanda e de Argenteuil. Semeavam em Março. No Outono preparavam-se as valas com estrume bem curtido. Na Primavera armava-se a espargueira transplantando do viveiro. Floresciam de Junho a Julho. Davam umas bagas vermelhas que seriam colhidas em Outubro. No mez de Novembro cortavam-se os troncos a uma altura de 15 cm. Descavavam-se as plantas e estrumavam-se na raiz cobrindo de novo com terra
Aipo Pleno Branco também estiolado atando as folhas com 3 laços de palha: um perto da base, outro a meia altura, e o último no tôpo, amontoando e aconchegando terra em volta até à primeira atadura e regando em seguida. Oito dias depois amontoavam até à segunda atadura e passados mais 8 dias outra amontoa até à terceira atadura. Mal estivessem branqueados era preciso colhel-os, senão estragavam-se.
Alcachofra Gigante de Laon e Violeta Precoce. Deixavam só uma cabeça em cada haste, supprimindo as secundarias. Depois da colheita cortavam rente à terra as hastes que produziram e os extremos das folhas que se entrelaçavam, para que o sol pudesse penetrar.
Espinafre commum, Monstruoso de Viroflay. As sementes eram metidas em água durante 6 horas e ao fim de 6 dias já as plantas nasciam. Deixavam para semente as plantas mais perfeitas, tendo o cuidado, como umas só dão flôr macho e outras flôr femea, colher d’umas e d’outras para se poderem reproduzir
E os conselhos continuavam:
Barba de Capuchinho: Em Abril semeavam Chicorea Selvagem ou Almeirão. Em Junho/Julho cortavam algumas folhas para consumo. Em Outubro/ Novembro arrancavam algumas raízes e depois de supprimir todas as folhas à altura de 1 cm, no collo da raiz, atal-as-iam em pequenos molhos tendo o cuidado de deixar ao mesmo nível o collo da raiz. Depois collocavam n’uma loja sem luz sobre uma camada de 30 cm de excremento de cavallo. As molhadas eram ahi dispostas verticalmente encostadas umas ás outras e mettidas no estrume até aproximadamente um terço da sua altura. Regavam 2 vezes ao dia até as folhas começarem a rebentar e baixando depois a frequencia das regas para as folhas não apodrecerem. Ao fim de 15 a 20 dias as folhas tornavam-se muito compridas, de côr branca amarellada e estariam promptas para consumo, chamando-se barba de capuchinho e fazendo uma belíssima salada.

Os Espinafres da Nova Zelândia têem as folhas sumarentas, ramificações tenras, sabor fino e agradável, dão esparregados de primeira ordem. E para sôpas, misturados com grão ou feijão?!... Uma delícia. Semeados em terra bem estrumada e sempre fresca, é chegar aqui e todos os dias colher um braçado d’elles como quem vae de caminho. E depois, não precisam de mais tratamento. As próprias sementes cahindo na terra, os reproduzem. Não são muito conhecidos; mas verás… quem uma vez os provar, fica freguez. Para os animar, dá-lhes de vez em quando uma réga com o líquido da barrica.

As Chayotas ou chuchus, colhidas um pouco verdes, cozidas em água e sal e comidas com molho branco… são de ressuscitar um morto!

E esta precciosidade: Pegou na alface, lavou-a, sacudiu-a com força, e rasgou-lhe as folhas transversalmente à mão. Depois deitou-a na saladeira. Depennou os cheiros e espalhou-os por cima: quebrou com os dedos o cebolinho em pedacitos de três centímetros, cortando-lhe a raiz. aproveitando-o até aos dois terços da sua altura e lançando fora essa parte superior. Deitou n’uma colher um pouco de sal fino que derreteu, enchendo a colher até ás bordas de vinagre forte que logo despejou, espalhando-o sobre a salada. Encheu a mesma colher duas vezes com um azeite que parecia oiro líquido e que do mesmo modo espalhou sobre o pitéu. Cortou uma codita de pão, atirou com ella para a saladeira e depois… toca a mexer. Voltas e mais voltas. O verde da alface tornava-se lustroso como o azeite; o cebolinho e os cheiros agarravam-se às folhas; e por toda a casa era um perfume!... “Hás-de esperar até que a côdea do pão esteja bem ensopada de azeite e vinagre!” respondeu o Tio Salomão ”Esse é o signal de que a salada está mexida como deve ser”. Finalmente elle retirou a côdea, examinou-a cuidadosamente, comeu-a e serviu uma pratada a transbordar do appetitoso pitéu
No final os ensinamentos mais complicados:
Preparar Calda Bordaleza: 88 litros de água, 6 kilos de cal e 6 kilos de sulfato de cobre
Preparação de adubo químico: Em 100 litros de água, misturar 30 grammas de phosphato de ammoniaco, 45 grammas de nitrato de potassa, 15 grammas de nitrato de soda, 10 grammas de sulfato de ammoniaco. Oito dias depois as plantas regadas com este adubo differençavam das outras. E, depois de meia dúzia de regas apresentavam um tal vigor que todos estavam extasiados. E o Tio Salomão explicou às creanças: As plantas precisam de azoto, ácido phosphórico, potassa e cal. Os nossos terrenos são ricos em cal. No phosphato de ammoniaco há o azoto e o phosphoro; no nitrato de potassa há o azoto e a potassa; no nitrato de soda há o azoto e no sulfato de ammoniaco há o azoto e também o enxofre que as couves apreciam muito. Os estrumes tornam a terra mais tempo fértil e permeável ao ar, penetrando a água também melhor. Os adubos actuam mais depressa e o efeito é menos duradouro e a terra não fica tão porosa, tão leve.
Construção de estufins: caixas sem fundo com 4 m de comprimento por 1,33 de largura. A sua altura do lado elevado era de 33 cm e do lado mais baixo 26, cobertas de vidraças de caixilhos de ferro ou de madeira. As vidraças podiam levantar-se ou abaixar-se por meio de duas hastes dentadas, de madeira, collocadas verticalmentre entre a borda superior da caixa e o caixilho.
Faziam uma ruma (pilha) de estrume de 65 ou 70 cm de altura, 1,93 de largura e 4,60 de comprimento. O estrume devia ser fresco e era calcado com os pés de modo a ficar comprimido. Depois regava-se cuidadosamente para ficar todo humedecido e sem deixar a água correr para fora. Feito isto, lançavam sobre o estrume uma camada de terriço da espessura de 18 a 20 cm e cobriam com o estufim. O estrume fermentava e principiava a aquecer. Este calor comunicava-se aos 18 ou 20 cm de terra que o cobriam e ao ar do interior do estufim. Faziam as sementeiras directamente na terra ou, melhor ainda, em vasos que enterravam até dois terços de sua altura n’essa terra e que depois transplantavam para a horta sem que as plantas soffressem da transplantação
A ruma devia ter mais 60 cm de largo e de comprido do que o estufim, ficando descoberta em volta n’uma faixa de 30 cm que serve para fazer o rescaldo. O rescaldo faz-se com uma camada de estrume fresco, que se colloca no espaço livre em volta do estufim até à altura da vidraça; e tem por fim prolongar a temperatura alta, mais tempo, no interior deste. Esta duração mais prolongada da temperatura pode também obter-se por meio de uma espessura maior da cama. Quando o tempo o permittir, como as plantas precisam do renovamento do ar, levanta-se de dia um pouco as vidraças dos estufins. Também são necessárias esteiras que servem para proteger as plantas contra a geada, fazendo com ellas além d’isso uma espécie de toldos ou abrigos sobre os estufins, agasalhando-os contra o frio. Para attenuar os raios de sol no tempo em que são muito fortes, branqueavam os vidros com cal.
A este processo dos estufins chamavam cultura em cama. E distinguiam as camas quentes, tépidas e frias.
Camas quentes eram preparadas com estrume de cavallo, ovelha, etc. Nos primeios dias, depois de armadas, a temperatura elevava-se até 70º descendo depois de 20 a 30º que se conservavam durante 40 a 50 dias. Correspondia ao Verão
Camas tépidas eram feitas com estrumes animaes, folhas, detrictos vegetaes susceptíveis de fermentação ou misturas de estrume de cavallo com estrume já fermentado Forneciam uma temperatura média entre os 12 e 20º durando por 60 a 70 dias Correspondia à Primavera.
As camas frias ou mortas eram construídas ao nível do solo, com materiaes mais ou menos esgotados e cobertas também pelos estufins. Correspondia ao Inverno mas sem geada .
Além dos estufins era preciso comprar redomas de vidro transparentes e de um tom ligeiramente esverdeado, em forma de sino, terminando superiormente por um botão ou pegadeira e tendo na base um diâmetro de 40 cm, para proteger das geadas e dos frios as novas plantas no campo.
No final do livro Thomé tinha 15 irmãos. A família vivia mais desafogada graças às poupanças que conseguiam fazer com a venda dos productos da horta. Os irmãos compraram a propriedade que tinham alugado, augmentaram a casa e adquiriram mais água e terras de horta. Tinham construído uma correnteza de estufas onde faziam a cultura forçada dos primôres. O Thomé continuava a estudar botânica sózinho e era tão intelligente que fazia ensaios com as culturas novas conseguindo reproduzir batatas por semente, obtendo uma variedade que fôra premiada com medalha de oiro na exposição hortícola à qual deu o nome de Batata Salomão em homenagem ao seu mestre.

Ahinda que com algumas reservas em relação a certas practicas e ensinamentos, digam lá se não é um immenso prazer para os sentidos?

2008-09-13

Pondo a conversa em dia

Depois de termos passado um Verão quase sem virmos actualizar o blogue, hoje, a minutos de partirmos para umas curtas férias, passámos por aqui para darmos uma ideia muito pálida do que foram estes últimos meses.

Apanhar os tremoceiros:



Pô-los a secar

.. e depois malhá-los (não temos fotos).

Cortar e armazenar a flor das alfazemas:


Apanhar fruta e fazer réstias com as cebolas:
Nesta foto também se vê a batata coberta com folhas de eucalipto para a proteger da traça. Preferimos este procedimento que nos tem dado bons resultados, em vez de a polvilharmos com produtos químicos para o mesmo efeito

Acompanhar o nascimento dos pintos na chocadeira:


Distribuir uma série de armadilhas para moscas feitas com garrafões com água de demolhar e de cozer o bacalhau, servindo também qualquer outra água com cheiro forte a peixe ou carne:
Consegue-se ver a quantidade enorme de moscas capturadas e afogadas no líquido.

Construir finalmente um pequeno lago para satisfação dos gansos:


Fazer a cresta do mel:


Desopercular - que é cortar as tampinhas dos favos com uma faca para o mel poder sair na centrifugação:


Centrifugar:
Não fiquem preocupados porque não fizemos exploração infantil. Os garotos estão apenas a aprender como trabalhar o mel :))

Aqui vê-se o interior do centrifugador e o mel a juntar-se no fundo:


Filtrar:


Meter as ceras cortadas numa prensa para serem espremidas e aproveitar assim mais um pouco de mel.

Depois teve que se filtrar também este mel

Tivemos que inventar uma série de engenhos para afugentar os corvos que estavam a deixar as maçarocas do milho neste estado:


E começou-se por pendurar garrafas de plásticos e Cd's inutilizados para faiscarem com o sol:


Mas também ligar vários aparelhos de rádio em postos diferentes e ligados a temporizadores, para os assustar com as vozes dos locutores :)) Esta técnica pareceu-nos a mais eficaz:




E não falámos do malhar das flores de girassol, nem da desfolhada, nem dos almoços e jantares que fizemos aqui com os nossos amigos, nem do desgosto pela morte da nossa pavoa apanhada por uma raposa... e tantas coisas que ficaram aqui por dizer e por mostrar

Como sempre as imensas alegrias e alguns desgostos que esta quinta nos tem oferecido.

Mas agora vamos descansar uns dias. Bem merecemos
Até breve

2008-09-02

Se é sensível... não leia

No mês de Agosto gostamos de fazer várias festas (entenda-se por festa a apresentação na mesa da maior variedade possível de confecções culinárias utilizando o mesmo ingrediente) como a do pepino (que este ano ficou todo queimado do sol), a do feijão verde, a da maçã (que este ano foi quase inexistente), da melancia (que nem sabemos o que fazer com tanta quantidade) e outras.
Acontece que o trabalho foi tanto e as pessoas que nos visitaram este ano também foram tantas que nem tivemos tempo para andar na recolha de novas receitas. Mas ainda fizemos algumas experiências culinárias que em breve partilharemos convosco.

Como há uma série de tempo que não publicamos nada de novo, resolvemos contar por imagens, a mais recente intervenção cirúrgica.

Um dos nossos jovens carecas (ou pelados como se diz aqui na zona) surgiu de manhã com este aspecto horrível. Tinha o papo aberto vendo-se a comida no seu interior e que ia deixando cair, ao caminhar. Não conseguimos perceber o que teria motivado um rasgão tão profundo mas talvez tivesse sido atacado por uma ratazana durante a noite.

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O caseiro viu o caso tão mal parado que pegou nele para lhe torcer o pescoço e pôr fim àquele sofrimento. Ao avaliar o seu peso, comentou connosco que o galito estava tão magrote que nem sequer dava para fazer uma boa canja.

E foi aí que nos ocorreu mais uma vez aquela velha frase “De médico e de louco, todos temos um pouco” e correndo o risco de nos acusarem do crime de alveitar, decidimo-nos pela cirurgia.

Improvisámos uma mesa de trabalho, munimo-nos de água oxigenada, betadine, terramicina em spray, e… de agulha e linha, claro.

Primeiro era preciso coser o papo propriamente dito

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... e depois a pele exterior

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Por fim aqui vemos o galito que se portou como um valente mas ainda um pouco combalido uma vez que não houve anestesia nem geral, nem local


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No dia seguinte já estava com este aspecto e bem esperto a olhar para o repórter, enquanto o Nuno, escolhido de entre os outros meninos por ter movimentos muito calmos, lhe tornava a pôr mais terramicina para não haver problemas de infecção


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E agora corre feliz da vida na brincadeira com os outros galináceos… adiando-se a tal prometida canja.

2008-07-31

A festa dos sabores

Este ano semeámos uma qualidade diferente de feijão-verde. É aquele feijão de vagem redonda que vemos em certas misturas de legumes congelados. Não esperavamos que essas vagens crescessem tanto, mais de meio-metro de comprido, dando grande satisfação no momento da colheita. O paladar também é diferente do nosso feijão verde, tendo um gosto mais suave.

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Fizemos uma salada belíssima depois de o cozermos já cortado, juntando a rodelas de ovo cozido, tomate fresco e maduro, cebola às rodas, alho picadinho, enfeitado com azeitonas galegas, temperado de azeite e polvilhado com orégãos.

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Mais tarde resolvemos apresentar à mesa um prato de courgettes cruas e ainda repetir a experiência da fritura das flores de abóbora.

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As cougettes escolhidas devem ser das pequenas e macias. São apenas lavadas e depois cortadas às rodelas finas, quase transparentes e temperadas com azeite, sal, pimenta, raspa e sumo de limão. Há quem polvilhe com folhas picadas de mangericão, mas nem toda a gente aprecia este tipo de perfume na comida
Para quem não tem horta nem ninguém conhecido que a tenha, vai ser difícil obter as flores de abóbora uma vez que não é costume vendê-las no mercado.
Usam-se apenas as flores macho já que as fêmeas são as que dão origem a novas abóboras e não interessa prejudicar a produção. É fácil reconhecê-las porque as flores fêmea têm logo de início a aboborinha ligada a si..

Depois de lavadas, abrimo-las e retirámos o pistilo, o centro onde está o pólen e o néctar.

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Preparámos então o polme com farinha de trigo, um pouco de maizena, uma colherzinha de fermento, um salpico de sal fino, tudo desfeito com água gelada. Não ficou muito espesso, nem muito líquido, apenas o suficiente para pintar de branco a ponta dos dedos.
Depois de bem molhadas neste polme, metemo-las, uma a uma na fritadeira eléctrica a 160º apenas a dourarem. Desta vez ficaram bem durinhas e crocantes.

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Um prazer para a vista e para o paladar.
Bom proveito!