2008-12-17

A azeitona nossa amiga

Primeiro um pouco de história:
Presume-se que em 3.000 aC já existiam oliveiras por todo o Crescente Fértil. Terão sido os gregos que as expandiram por toda a Europa Mediterrânica. Mais tarde foram os portugueses e os espanhóis que nas suas expedições marítimas as levaram até ás Américas e aos poucos foram-se espalhando por todas as partes do mundo com clima favorável.
Os gregos e os romanos eram grandes apreciadores de azeite que utilizavam na cozinha mas também como combustível para iluminação, medicamento, perfumes, bálsamo, lubrificante de alfaias, impermeabilizante de tecidos, etc.
As coroas e grinaldas que identificavam os vencedores eram feitas com ramos e folhas de oliveira. Com a sua madeira eram construídos ceptros reais.
A oliveira sempre foi considerada símbolo de sabedoria, paz, abundância e glória.
Sobre saúde:
O azeite tem efeitos muito benéficos sobre o organismos, favorecendo a mineralização óssea, estimulando e crescimento e favorecendo a absorção do cálcio. Ao reduzir a formação de radicais livres, combate o envelhecimento dos tecidos e órgãos em geral ajudando a prevenir alguns tipos de cancro. Contribui para o bom funcionamento da vesícula biliar, do estômago e pâncreas actuando também a nível intestinal. Ajuda a prevenir doenças cardiovasculares. Tem um efeito protector e tónico da epiderme. Melhora as funções metabólicas e previne a diabetes.
Aqui vai a sua composição segundo elementos retirados da Net:
Vitamina A - 250 U.l.
Vitamina B1 (
Tiamina) - 10 mcg
Vitamina B2 (
Riboflavina) - 15 mcg
Vitamina C (
Ácido ascórbico) - 6 mg
Potássio - 1530 mg
Sódio - 130 mg
Cálcio - 100 mg
Fósforo - 15 mg
Silício - 6 mg
Magnésio - 5 mg
Cloro - 4 mg
Ferro - 1 mg
Agora a nossa aventura:
Este ano colhemos a azeitona que felizmente tivemos em quantidade e de belíssima qualidade ao contrário do ano passado que nem deu para se aproveitar.
Aqui seguem as fotos que melhor explicam as várias fases:


Nesta foto vê-se o pessoal a apanhar a azeitona nos panais verdes depois de ter sido ripada (passar com a mão pelos ramos de forma a fazer cair os frutos) ou varejada nas zonas mais altas, o que se evita ao máximo para não prejudicar as árvores. Também se vêem muitos ramos cortados no chão devido às podas que se fizeram na mesma altura para deixar as arvores menos densas. Na verdade não seria agora a melhor altura para as fazer. Mas é costume aproveitar, uma vez que andam empoleirados, para fazer as podas mais ou menos razoáveis.


A seguir despejam baldes de azeitona no erguedor eléctrico que com deslocação de ar separa as folhas (mais leves) depositando-as num monte, das azeitonas (mais pesadas) que são depositadas num local oposto


Nesta foto mostra parte das azeitonas colhidas e limpas. No reboque já estão caixas de plástico com ranhuras para deixar escorrer a água das azeitonas que esperam a viagem para o lagar


Os potes mais pequenos reservámos para fazer conserva. Este ano optámos por outro processo e não as retalhámos, deixando as azeitonas numa salmoura de 1 quilo de sal por cada 10 litros de água, temperada com rodelas de limão e laranja, folhas de louro, ramos de orégãos, dentes de alho, e molhinhos de erva-azeitoneira. Ficam assim por um ou dois meses até perderem o amargo e depois pode-se começar a consumir retirando apenas as necessárias de cada vez .
E agora seguem as fotos com as várias fases por onde passaram as azeitonas até se extrair o azeite.
São necessários 5 a 6 quilos de azeitonas para se fazer 1 litro de azeite


Assim que as caixas chegaram ao lagar fez-se a pesagem


A seguir descarregaram-se aqui as azeitonas para serem lavadas



Depois da lavagem subiram por este tubo para o moinho onde foram esmagadas


Esta foto mostra o moinho ao fundo à direita. A pasta feita com polpa, peles e caroços passou para a máquina da esquerda com vários tabuleiros


Aqui vê-se um dos tabuleiros onde essa massa foi batida lentamente com aquecimento para se soltarem as gotas de azeite


Depois fez-se a separação da parte líquida: azeite e águas residuais, da parte sólida: o bagaço (que nada tem a ver com o outro bagaço “digestivo” feito a partir dos cachos de uvas).
Este bagaço misturado com azeite dá origem a alguns óleos alimentares


E nesta foto vê-se o azeite a ser misturado com água quente e a ser centrifugado…


… para finalmente se concluir o processo e podermos recolher o azeite das nossas azeitonas, com uma cor e aroma fora de série.
Na sequência das pesquisas feitas para desenvolver este tema, ficámos a saber que existe uma empresa espanhola que utiliza os caroços de azeitona para produzir biomassa e alimentar caldeiras. Uma matéria prima limpa, renovável e oito vezes mais barata do que os combustíveis derivados do petróleo. Segundo esta empresa, 2,5 milhões de toneladas de caroços será suficiente para gerar energia para 1,5 milhões de casas.
Aqui fica mais esta novidade.

27 comentários:

João Roque disse...

Mais um post, mais uma lição, mais saber...~
É sempre assim, aqui neste cantinho, onde é com prazer que se começa a ler um texto, pois sabe-se, antecipadamente que se vai ter prazer na sua leitura.
Feliz Natal para ti e toda a família.
Beijinho.

a d´almeida nunes disse...

Ana Ramon
Uma exemplar lição de como funciona todo o circuito de tarefas até se chegar ao azeite.
Das fotos concluí como os tempos entretanto mudaram.
Quando era miúdo cheguei a ir a alguns lagares rústicos, ao tempo dos anos 50.
Viva o progresso. De qualquer modo, se for possível preservem-se alguns desses lagares antigos.
Um Feliz Natal para ti e toda a família. E que a colheita da azeitona tenha sido boa.
Beijinho

maria disse...

Como sempre interessante o que contas! Bom Natal e Bom Ano!

Anónimo disse...

Agradeço e retribuo os votos de Feliz Natal para si e todos os seus queridos. Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)

Miguel Jorge disse...

Que grande lição.
Feliz Natal para ti e para a tua família.

Tongzhi disse...

Nem calculas como é agradável, interessante e didáctico ler os teus posts.
Aprendi muito, aliás como sempre!

Beijo e votos de Boas Festas para toda a família

kuka disse...

Isto é serviço público.

Filipe disse...

Muito interessante, sempre a aprender.
Só uma dúvida na azeitona para conserva. Eu sei que cada terra sua receita. Mas antes de por o tempero nas azeitonas, deixo-as em água e vou mudandoa água até sair o amrgo, só depois é que ponho o limão, louro, alho....
O meu melhor resultado ainda foi um ano em que as deixei numa barrica de plástico com tampa e aligadas à saída de uma caleira. Recebiam directamente a água da chuva de um telhado, que se ia renovando, foi um Inverno chuvoso, praticamente não tive que mudar as águas.
Um bom Natal para ti e para os teus

RUTE disse...

FASCINATE!

FABULÁSTICO!

Um dia andarei eu nessas andanças. Oliveiras já tenho mas tiveram de levar um corte de tratamento para darem azeitonas em 2009. Estavam muito abandonadas na altura em que comprei o terreno.

Adoro ver esses processos de produção. Pena não podermos entregar os caroços à tal empresa espanhola. Uma das minhas maiores preocupações é reduzir os residuos.

Parabéns Ana por mais um artigo interessantíssimo.
Obrigada pela partilha.
Beijinhos.

Espaço do João disse...

Querida amiga.
É realmente uma lição a recomendar. Tenho a felicidade de conhecer as várias passagens da azeitonas, pois já visitei várioslagares. Fez-me lembrar aquela adivinha.
Verde foi meu nascimento
mas de luto me vesti.
Para dar luz ao mundo
Mil tormentos padeci.

Realmente atéchegar oazeite até nossos lares há muito a fazer e, logo no tempo mais frio.

Desejo-te um feliz Natal e uma boa colheita. Um afectuoso abraço João.

Paulo disse...

Esse teu azeite deve ser óptimo. Imagino já grandes petiscadas com ele a reinar.

poetaeusou . . . disse...

*
exemplar aula,
sobre um produto
que eu uso e abuso . . .
,
que saudades tenho do
azeite que coalhava ao
frio do inverno,
,
feliz quadra, deixo,
,
*

Oris disse...

Mais um dos teus posts educativos.

Gostei de relembrar esta actividade. Na minha aldeia vinham os "ranchos" das Beiras para a apanha da azeitona. Sempre achei que era um trabalho muito duro porque fazia muito frio e as mãos enregelavam.

Feliz Natal para ti e família.

Beijitos

Anónimo disse...

Oi Ana mais Bela
Gostei muito de ler a sua explicação e muito aprendi também !
Que bom saber que teve um bom ano de azeite !
Com os parabéns do

Mário

poetaeusou . . . disse...

*
Uma feliz Quadra
lembrando …
,
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão
,
In - P. Carvalho
,
Conchinhas de Luz
,
*

Sei que existes disse...

Passei para te desejar uma óptima época festiva rodeada de excelentes amigos e familiares e que recebas tudo quanto necessitas para ser verdadeiramente feliz.
Beijo grande

Marcos Pessoa disse...

Cara Amiga (posso chamá-la assim?)

Como deves saber, aqui no Brasil não temos clima para ter oliveiras, infelizmente. Há por aqui uma tal de falsa azeitona (http://www.seagri.ba.gov.br/noticias.asp?qact=view&exibir=clipping&notid=7523) que engana a todos que tentam ter uma oliveira em sua casa, chácara, sítio ou fazenda.

Assim sendo, tenho poucos conhecimentos quanto à planta, suas fases de floração (ela tem flores visíveis?), frutificação, conheita e coisas assim. Ler seu post me trouxe um pouco dessas informações que careço, mas quero mais....

Uma coisa que queria perguntar: é verdade que o azeite deve ser resguardado da luz para se manter saudável?

Outra coisa: no seu relato você não fala nada sobre extração a frio, extra virgem, virgem.... Posso ter mais notícias sobre isso?

Desculpe se pergunto muito, mas sou muito curioso...

Grande abraço
Marcos Pessoa

pin gente disse...

como sempre os teus fantásticos ensinamentos... adorei saber.
já tinha ouvido falar do aproveitamento dos caroços... "nada se perde, tudo se transforma"

beijo grande
boas colheitas para 2009
luísa

Leonor Rocha disse...

Para além da lição, sempre aprendida com gosto e atenção, mais uma maneira saudável de criar energia...
E esta hem!
Parabens. É sempre prazeiroso voltar aqui.
Bom Ano de 2009

Anónimo disse...

Olá amiga. Como sempre, mais um excelente trabalho, parabéns. Passei para visitar, mas também para te desejar um excelente Ano, com tudo de bom. Por vezes temos que ser audazes e sonhar, mais difícil é conseguir atingir objectivos, mas quem tem força de vontade sempre chega. Saudações amigas.

Maria Cristina Amorim disse...

Volto depois para ler com atenção, mas agora aqui vai um fantástico 2009 tara todoooossss.
Beijos.

alexandrecastro disse...

Pela qualidade do seu blogue, decidi partilhar consigo o Pémio Dardos.
Passe pelo meu cantinho.
Um beijo
alexandre

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

... e as coisas que aprendi!
Grato pela partilha e ensinamentos !
cordialmente
______ JRMarto

bettips disse...

O SOL, gota a gota.
Tão belo de perceber a valia, das coisas pequenas e tão comuns que não se vêem, só se sentem assim, explicadas.
Um beijinho, que a terra vos seja amiga!

Ana Ramon disse...

Aqui fica o nosso agradecimento a todos os amigos que têm a pachôrra de vir ler os textos que vamos publicando à medida das nossas compulsões.
Vamos tentar responder a algumas questões levantadas nestes comentários:

É verdade que os lagares modernos com a sua maquinaria permitem um menor envolvimento de mão de obra e uma higienização perfeitamente visível nas fotos que publicámos aqui. Não sabemos se ainda é permitido a laboração nos lagares tradicionais em que as azeitonas eram esmagadas com mós de granito e depois depositadas em seiras onde eram prensadas.
Sobre a azeitona de conserva, foi a primeira vez que não as retalhámos, metendo-as numa salmoura já com os temperos normais e sem se mudar a água onde estão mergulhadas. Quando se pretender consumir algumas, retiram-se do pote, lavam-se e apresentam-se à mesa. Se for necessário temperam-se com um fio de azeite, alho finamente picado e orégãos no momento de servir.
O nosso azeite também coalha com o frio o que é por vezes uma grandecíssima chatice :))))
Não sabemos se a oliveira brava do Brasil será o nosso Zambujeiro (Olea Europaea L variedade silvestris) que também dá azeitonas. Encontrámos um artigo na Net que diz que o azeite feito com as azeitonas do zambujeiro é mais fino que o de oliveira. Nunca tal tinhamos ouvido.
Em Portugal, as oliveiras florescem entre Abril a princípios de Junho conforme a zona. As flores são muito pequenas, compostas por 4 sépalas e 3 pétalas e agrupam-se em inflorescências de 10 a 40 flores entre o branco e o amarelado
Pensamos que com os modernos processos de extracção, a prensagem a frio praticamente não existe.
Chama-se azeite virgem àquele que não sofreu transformações através de produtos químicos e a sua obtenção resultou apenas de processos físicos como a lavagem, moagem, prensagem, aquecimento e centrifugação
O azeite extra virgem não pode ter uma acidez (presença de ácido oleico) superior a 0,8 por cento.
O azeite virgem tem que ficar pelos 2 por cento. Mas a grande diferença entre eles está no perfume e sabor. Muitas pessoas preferem azeite com maior percentagem de ácido por ter um paladar mais forte
As embalagens devem ser escuras para proteger o azeite do efeito da luz que pode alterar a acidez tornando-o menos saboroso e depois de abertas deve-se consumir o azeite rapidamente.
Há quem defenda que o azeite não deve ser guardado por espaço superior a 1 ano, outros a 2, por começar a perder as suas qualidades.

Aparecem sempre uns blogs que não nos deixam aceder. Desta vez foi o “Nina Rocha”

E julgamos que conseguimos responder à maior parte das questões. Mas lembramos mais uma vez que somos apenas amadores e por isso não contem demasiado com a nossa experiência.

Um abraço para todos e os desejos para que este Novo Ano não seja tão difícil como apontam as previsões. Há que ter esperança no futuro!

jnavarro disse...

Um bom fotografo :) extraordinário
bj

Samuel Cappelli disse...

Excelente matéria. Muito interessante! Parabéns!