2008-04-29

Bolo-Rei é quando a gente quiser

Já andava há uns dias com desejos de comer um bocado de bolo-rei. Mas nesta altura do ano é difícil de se encontrar.
Os desejos eram tantos que me atrevi a tentar fazer um bolo-rei, logo de manhãzinha, seguindo uma receita da minha mãe.
Como não tinha fermento de padeiro não pude fazer o preparado que consiste em amassar bem 100 gr de farinha com 60 gr de fermento de padeiro e juntar 1 dl de leite amornado. Depois fazer uma bola e deixar levedar.

Por isso comecei mais adiante juntando 800 gr de farinha com 225 de margarina, 225 de açúcar, a raspa da casca de uma laranja e comecei a amassar com firmeza. Seria a altura de juntar a tal bola feita com farinha, fermento e leite, mas como não a pude fazer, juntei o conteúdo de um pacotinho de fermento instantâneo. À falta de Brandy juntei um cálice de Porto e 6 ovos um a um.


Amassei com muita energia a massa, batendo-a vivamente sobre a mesa e cortando-a com as mãos até a sentir fofa, envolvendo-a de vez em quando com um pouco de farinha polvilhada na superfície.
Depois juntei á massa as frutas cristalizadas partidas aos bocadinhos, nozes e pinhões. Faltaram-me as passas


Amassei tudo muito bem, formei uma bola que pus a levedar dentro de um alguidar coberto com um pano num ambiente aquecido.



Esperei mais de 2 horas e não levedou quase nada. Quer dizer que ficou mais ou menos do mesmo tamanho o que me deixou muitas dúvidas sobre a eficácia do fermento instântaneo.
Despejei a massa na mesa e moldei o bolo rei. Fiz dois porque a massa era mais que suficiente e ficaram mais duas horas a levedar.
Como já estava a desconfiar, também não cresceram.
Pincelei com gema de ovo e comecei a decorá-los com frutas cristalizadas, mais as nozes e pinhões, pondo também 4 montinhos de açúcar branco para ficar mais bonito e foram a cozer no forno com temperatura média por 25 minutos.



Depois de estarem cozidos pincelei-os com mel sobre as frutas para lhes dar brilho, uma vez que não tinha geleia e o resultado final foi este:



Assim meio aldrabado, não estava tão fofo como é costume mas estava uma delícia e valeu bem a pena ter esperado tanto tempo até à fase final.

Acompanhado com chá de framboesa serviu para um belíssimo lanche numa destas tardes frias e chuvosas de Abril.

2008-04-12

O círculo dos cogumelos

Para iniciar este post começamos por afirmar que temos horror ao consumo de cogumelos apanhados por pessoas que se dizem experientes na matéria.
Limitamo-nos a comprar Cogumelos de Paris, frescos, em estabelecimentos que nos inspirem confiança, ainda que o pessoal que aqui trabalha apanhe sacos de míscaros que levam para casa com a condição de não os dizimarem completamente.
Há alguns anos fomos almoçar a um restaurante que tinha como um dos pratos do dia, arroz de míscaros. Resolvi esquecer o terror dos cogumelos e como nunca tinha provado míscaros, confiei na casa e pedi um prato para mim que realmente estava uma delícia, já não sei se dos míscaros ou se das carnes.
No final ficámos a conversar um pouco com um dos donos que já conhecemos há muitos anos e perguntei onde é que eles se iam abastecer de míscaros. Fiquei apavorada quando o ouvi dizer que compravam a umas senhoras que apanhavam pelos pinhais e que os iam entregar em cestos logo pela manhã. Só me restava esperar que não tivesse havido erro nenhum na colheita e que essas senhoras percebessem muito mais de míscaros do que eu, o que felizmente aconteceu.
Lembrámo-nos de escrever sobre cogumelos porque temos andado intrigados com um tipo de cogumelos pequenos e brancos, parecidos com os de Paris, que se dispõem ao longo de uma linha circular.
A foto abaixo foi a possível. Mostra o início da formação de um desses círculos que são sempre destruídos com a passagem continua dos animais.

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Depois de várias leituras ficámos a saber o seguinte:
O cogumelo é apenas a parte visível de um fungo. É o seu corpo de frutificação que pode soltar milhões e milhões de esporos por dia. Por sua vez o fungo desenvolve-se subterraneamente, constituído por finas ramificações denominadas hifas, a cujo conjunto se dá o nome de micélio e cuja função é a de conseguir os nutrientes necessários. Alastra-se circularmente a partir de um ponto no centro, aumentando o diâmetro do círculo de ano para ano, se as condições foram satisfatórias, podendo ir de poucos centímetros até dezenas de metros.
Mais tarde encontrámos uma foto na Net que dá uma óptima ideia de como o fungo se pode alastrar se não encontrar nenhum elemento que prejudique a sua expansão.

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Estava assim explicada a razão dos círculos destes cogumelos que aparecem frequentemente nas nossas zonas de pastagem.
Estas formações fazem no entanto parte da mitologia celta e também do imaginário colectivo duma série de países da Europa, mais acentuado nos países escandinavos. São os chamados Anéis das Fadas ou Rodas das Bruxas.
Estes círculos seriam visitados por uma série de figuras maravilhosas pertencentes ao mundo das florestas: fadas, bruxas, elfos, duendes, etc. que se reuniriam e dançariam em noites de lua cheia. É interessante ler as mil e uma orientações publicadas na Net sobre este assunto.
Sendo um mundo estranho e invisível para o homem, este também poderá assistir ao espectáculo se der 9 voltas ao circulo no sentido dos ponteiros do relógio. Deve vestir uma roupa leve e esvoaçante se tiver intenções de participar destes encontros mágicos. Ficámos a saber que se fizer um pedido junto ao anel das fadas, tem-se a garantia de vir a ser satisfeito. Deve ter-se o cuidado de nunca urinar para dentro do círculo o que provocará uma doença venérea grave. Ficámos a saber também que tipo de comida ou guloseimas são do agrado destes seres. Deve evitar-se pôr os dois pés dentro do círculo porque poder-se-á entrar no mundo das fadas e sem hipótese de regresso… a não ser que alguém tenha assistido ao acontecimento e que após 7 anos, do nosso tempo real, para 1 dia do tempo mágico, se coloque junto a um desses círculos numa noite de lua cheia e esperar pela dança para poder depois puxar com toda a força a pessoa perdida, não colocando obviamente os seus 2 pés dentro do anel.
Por curiosidade andámos a ler diversos contos tradicionais portugueses num livro de Consiglieri Pedroso que compilou uma série de contos junto de uma população muito diversificada que repetia lendas e contos ouvidos pela boca dos seus antepassados, quando a oralidade era o meio usado para a difusão de informações. O livro foi editado em 1910 apoiando-se também numa compilação feita em 1883 por Teófilo Braga e noutra mais antiga ainda feita em 1879 por Adolfo Coelho. Muitos desses relatos importados pelo contacto com povos indo-europeus, sofreram várias adaptações ao nosso meio e cultura. Mas muitos têm características unicamente ibéricas.
Estávamos com esperança de ler alguma história que se referisse a estes Anéis de Fadas, mas não encontrámos nenhuma referência nas dezenas de contos que estivemos a ler.
Pudemos também constatar que as fadas dos nossos contos não são seres esvoaçantes, luminosos e de uma beleza indescritível. A fada entra no conto essencialmente para cumprir a sua função, sem se perder tempo com descrições do seu aspecto físico. A bruxa é apenas uma fada maléfica.
Também nos pareceu curioso saber que alguns cogumelos eram usados em certas cerimónias religiosas devido ao seu efeito alucinogénio que provocava sonhos estranhos repletos de movimentos de luzes com várias cores, precisamente as características descritas pelas pessoas que afirmam já ter visto fadas num dado momento da sua vida.

Este assunto interessou-nos de tal maneira que voltaremos a ele quando dispusermos de mais informação
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