2007-10-03

Os nossos cachorros

Depois de uma ausência justificada por algum cansaço e falta de imaginação para o exercício da escrita, voltámos ao vosso convívio para vos mostrar as fotos dos novos residentes na quinta.
 
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Apaixonámo-nos por estes dois manos Leões da Rodésia assim que vimos a ninhada com um belíssimo aspecto denunciando um tratamento cuidado, assim como os seus progenitores.
Leão da Rodésia é uma raça africana, óptima para guarda e que era usada em matilha na caça ao leão.
Nós somos um pouco indiferentes ao pedigree dos cães porque sempre tivemos rafeiros, encontrados abandonados. Mas compreendemos que alguns comportamentos são mais previsíveis em determinadas raças. Não somos muito entendidos no assunto mas há duas delas que fazem parte da nossa paixão. A primeira é o Cão de Castro Laboreiro, uma raça portuguesa muito antiga, que mantém características lupinas. Autóctone de Castro Laboreiro, freguesia no extremo norte de Portugal, pertencente ao concelho de Melgaço, esteve em vias de extinção. Só os esforços de algumas pessoas interessadas na divulgação da raça com características de guarda e pastoreio é que evitaram que tal tivesse acontecido. Foram ao ponto de distribuir cachorros por pastores da zona para tentarem implementar o uso deste tipo de cão. Há muitos anos que temos um enorme carinho por esta raça e esforçamo-nos por os termos na nossa companhia. Com a morte do Odin a que me referi no post “Será que vale a pena?” ficámos apenas com o Baco, aquele cão grande de olhar atento que está deitado aos meus pés esperando que me levante da sesta, no post “É só por um bocadinho”. É um cão de aparência feroz para estranhos mas de uma total dedicação ao dono e muito afectuoso para com as crianças, como bem pode dizer a pequena Leonor que o tem como confidente, abraçando-se ao seu pescoço, enquanto se lastima em grandes prantos, perante a imobilidade e o olhar compreensivo de uma alma canina que percebe o desgosto e lhe dá o apoio da companhia serena.
O Baco não é um cão de pastoreio porque não o soubemos preparar, ignorando que havia a necessidade de o introduzir no estábulo onde deveria comer e dormir para aprender a conviver com as ovelhas desde pequenino. Por isso, sofre do impulso de caçar borregos, muito estimulantes nos seus saltinhos e pequenas correrias. Não vale a pena insistir porque não consegue resistir. Inicia a perseguição com melhor ou pior resultado e a seguir mete-se no canil com um ar muito comprometido. A única forma de evitar esta situação é ter o rebanho afastado das vistas e sempre que possível em pastos protegidos por rede ovelheira.
Depois do Castro Laboreiro, a nossa paixão vai para o Leão da Rodésia ao qual estamos muito ligados desde que tivemos o Thor, a quem dediquei um post de saudade em Setembro do ano passado e a sua irmã Tanit que ainda é viva embora já a ficar velhota e com vários problemas de artrose. Chamava-lhes a minha guarda pessoal.
Os Castros passavam o tempo rondando a quinta por dentro e por fora e as casas, preocupados com todo o movimento estranho. Os Leões pouco se afastavam, preocupados com a guarda dos donos. Quando fazíamos nós as rondas, o Thor ia sempre colado a mim, a Tanit ao meu marido, calados e atentos a todos os ruídos. Faziam uma guarda excessiva aos bens dos donos. Não os podia ter à solta enquanto trabalhavam os homens das obras porque se sentavam em cima da pilha de tijolos e dos sacos de cimento e rosnando impediam que alguém utilizasse os nossos materiais. Outra mania que tinham era a de não aparecerem, embora estivessem atentos, quando alguém entrava na quinta mas presentes, e bem presentes quando saía. E o pior é que carros e bicicletas, depois de entrarem aqui, já não podiam sair… talvez por acharem que passavam a pertencer-nos. Bem, e se a pessoa entrava de mãos vazias e saía com embrulhos, então é que perdiam mesmo a cabeça.
Identificam-se facilmente pela crista no dorso formada por pêlos que crescem no sentido da cauda para a cabeça, ao contrário do que sucede com a restante pelagem e por isso o nome original de Rhodesian Ridgeback como podem reparar na foto abaixo
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E então, nós que só íamos ver o aspecto de uma ninhada, acabámos por vir para casa, não com um mas sim com dois cachorros, um casalinho de manos que parecia serem muito unidos.
Aos poucos vão sendo aceites pela matilha residente. Na foto abaixo podemos reparar nas suas brincadeiras perante a indiferença do Baco que se comporta como o líder e da Tanit que já estava cansada de brincar com eles, na sua preocupação de os preparar para futuros guardas.
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Apenas a Pandora, que já conhecem do texto “É só por um bocadinho” estando deitada à direita da foto e que gosta de caçar coelhos que oferece depois ao nosso caseiro, é que não está para aturar estas tropelias constantes e ignora-os simplesmente.
Alguém nos disse que era comum dar nomes africanos aos cães desta raça e como temos a mania de dar nomes de deuses antigos, andámos a pesquisar a mitologia africana. Foi difícil mas acabámos por nos decidir por Dongo, o deus do trovão e do fogo e Nanã Buluku (utilizamos só o primeiro nome), divindade hermafrodita, deusa da chuva, protectora dos doentes e idosos.
Na foto abaixo pode-se ver a preocupação deles perante o afastamento dos donos.
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O Dongo, que só tem 4 meses, já me acompanha nas caminhadas, com o focinho colado a mim, tal como fazia o saudoso Thor.
São tão traquinas e têm uma tal vitalidade que parece termos o diabo à solta aqui na quinta.

Post-Scriptum: Soubemos hoje que 3 manas desta mesma ninhada ainda esperam por donos dedicados.

25 comentários:

Flôr disse...

Gostei muito de ler o teu texto e saber que tens novos residentes na quinta.
Achei muito útil toda a informação que nos deixaste.

Demoras, mas vale sempre a pena esperar...
:)

Não consegui visualizar as fotos, lá terei que voltar outra vez...
;)

Beijitos

Anónimo disse...

Olá Ana,
não imaginas a inveja que tenho de teres esses lindos cachorros... sempre gostei muito de bichos e especialmente de cães... desde pequenita sempre tive cães em casa, eram os meus companheiros de brincadeiras e infelizmente agora não tenho tempo, nem espaço suficiente para ter um cão... como sinto a falta... eles são verdadeiros amigos...
Adorei os nomes que deste aos leões da rodésia... já conhecia a raça mas tinha a ideia de que eram cães bastante ferozes...
Felicidades para os teus bichinhos.

Ezequiel Coelho disse...

Pensei que tinhas ido de férias...

Adorei (como sempre) o texto que escreveste. Na próxima vez que descerem até à "mouraria" (sem ser com a agenda totalmente entupida) por favor digam-me, ok?

Beijos!

poetaeusou . . . disse...

*
recordei,
o meu NORTE,
eu tinha 5 anos,
o meu NORTE, menos 3 meses,
morreu de forma estranha ...
não calculas o que eu chorei,
não calculas o que ainda choro,
*
abç
*

Bichodeconta disse...

ESSE ESPAÇO FAZ-ME UMA INVEJA "NO BOM SENTIDO" CLARO..ADORO CÃES, PODEM SER RAFEIROS..tENHO UM AMIGO QUE TEM UM ESPAÇO ENORME E TEM LEÕES DA RODÉSIA, A ULTIMA NINHADA FOI DE 13 E ERAM LINDOS EMBORA DESSEM IMENSO TRABALHO ATÉ SER DESMAMADOS.. A MÃE NÃO PERMITIA QUALQUER PESSOA POR PERTO O A MEXER NOS FILHOTES, EU TENHO A SORTE DE SER ACEITE, DAI QUE PUDESSE AJUDAR A DAR OS SUPLEMENTOS A CADA UM DEPOIS DE MAMAR UM POUCO NA MÃE QUE IA DESAPARECENDO DE TANTO CACHORRO A SUGAR.. SÃO LINDOS..

João Roque disse...

Olá Ana
é sempre bom voltar a ter notícias da quinta e dos seus "habitantes"; adoro cães e gatos, mas de momento apenas possuo dois gatos.
É uma pena, é quando eles "nos deixam", isso marca-nos muito.
Gostei de ver esses bonitos cães, saber as suas "manias" e os seus nomes.
Deve ser muito saudável, em todos os sentidos, viver num meio assim. Invejo-te.
Bom fim de semana alargado.
Beijinhos.

Espaço do João disse...

Tenho um criador amigo que faz criação de Dálmatas. Um dia convidou-me a visitar uma ninhada que estava a completar duas semanas. Disse-me para secolher um e, qual o meu espanto que o que escolhi foi uma cadelita enfezadita. Disse-me para escolher outro porque aquela era para ser abatida por ser surda. Levei a minha avante e, hoje com dois anos não estou nada arrependido. Faz parte da familia, entende tudo o que queremos , só faltando falar. Tem todos os outros sentidos tão apurados que nos causa muita impressão. Seu antigo dono ficou pasmado com o sucesso. Tudo o que queremos dela são feitos por gestos e, ela compreende perfeitamente. não é agressiva mas, não deixa nenhum estranho tentar agredir-nos. É um amor. João.

Paulo disse...

Olá Ana.
Parabéns pelos novos residentes. Sabendo que cuidas tão bem da tua bicharada, o Dongo e a Nanã vão ser muito felizes.

Um beijinho.

gintoino disse...

São cães fantasticos os leões da rodesia! Eu prefiro as raças nacionais, embora me tenha calhado em sorte um dogue alemão q n troco por nenhum outro cão do mundo!

Maria disse...

São lindos os teus novos companheiros. Não conhecia essa raça.
O tal mail que andava prometido seguiu hoje (ufa!!!). É um bocadinho grande. :-)
Beijos e um bom fim de semana

Flôr disse...

Até que enfim, consegui ver as fotos...

São muito bonitos os teus Leões da Rodésia. Claro, os outros também!!!
:)
Bom fim-de-semana.
Beijitos

Anónimo disse...

Olá, olá Ana,
O Dongo e a Nana.
Dois cachorros valentões!
Li o teu post enquanto se preparava o jantar.
Beijo

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá Ana, já tinha saudades tuas.
Voltas com um texto lindíssimo e fotos adoraveis, desses lindos cachorinhos.
Beleza, é o que aqui se encontra.
Bom Domingo
Beijinhos
Fernandinha

Ricardo disse...

Ora, que bom que voltaste! E logo com um texto tão bonito sobre cães cujos nomes das raças já são por si só instigantes: Castro e Leão!
Boa sorte com os novos moradores da quinta, e que eles tragam muita felicidade à vocês.
Beijos

Sei que existes disse...

Que os novos habitantes da quinta sejam muito felizes!
Beijos

Tong Zhi disse...

Eu tive durante muitos anos um medo terrível de cães. Há uma razão para isso...
Em pequeno fui "bem" mordido por um. Embora não de uma forma voluntária, acabei por transmitir esse medo ao meu filho. Quando via um cão ao longe, tratava logo de mudar de rumo, passeio, metia-me numa loja...
Nunca pensei vir a vencer este medo, mas venci!
O texto é, como todos, muito bonito, real e leva-nos a "pensar" que conhecemos os cães.
Esse novos "habitantes" e os outros também podem-se considerar animais de sorte. é que até os cães precisam de sorte nos donos que lhe cabem....
Beijos

Anónimo disse...

Passei por cá e li o texto. Fui até ao youtube e redescobri "Fine and Mellow" quando queria ouvir "Comes Love". Fez-me lembrar uma sessão histórica de três horas a tocar um Blues no Hot Clube...vários pianistas, baixos, bateristas, sopros... um ritual de celebração.. nunca mais me esqueço, nem que me venha a doença de Alzeihmer(está bem escrito?). Assim sugiro Comes Love pela mesma princesa... e mando cumprimentos daqueles que se perdem no horizonte...Beijinhos!
Billie Holiday - Fine and Mellow (1957)...

Snowman

jorge esteves disse...

Lindos. Lindos e lindos!...
(além de que é sempre um prazer estes momentos por aqui)
Abraço.

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Ana, passei para desejar-te bom Domingo.
Beijinhos!
Fernandinha

Flôr disse...

Passei por aqui e resolvi deixar-te um beijito...

João Soares disse...

Francisco realizou uma síntese feliz entre a ecologia exterior (meio ambiente) e a ecologia interior (pacificação interior) a ponto de se transformar no arquétipo de um humanismo terno e fraterno, capaz de acolher todas as diferenças. Como asseverou Hermann Hesse:"Francisco casou em seu coração o céu com a terra e inflamou com a brasa da vida eterna nosso mundo terreno e mortal". A humanidade pode se orgulhar de ter produzido semlhante figura histórica e universal. Ele é o novo, nós somos o velho.

O fascínio que exerceu desde seu tempo até os dias de hoje se deve ao resgate que fez dos direitos do coração, à centralidade que conferiu ao sentimento e à ternura que introduziu nas relações humanas e cósmicas. Não sem razão, em seus escritos a palavra "coração" ocorre 42 vezes sobre uma de "inteligência", "amor" 23 vezes sobre 12 de "verdade", "misericórdia" 26 vezes sobre uma de "inteleto". Era o "irmão-sempre-alegre" como o alcunhavam seus confrades. Por esta razão, deixa para trás o cristianismo severo dos penitentes do deserto, o cristianismo litúrgico monacal, o cristianismo hierático e formal dos palácios pontifícios e das cúrias clericais, o cristianismo sofisticado da cultura livresca da teologia escolástica. Nele emerge um cristianismo de jovialidade e canto, de paixão e dança, de coração e poesia. Ele preservou a inocência como claridade infantil na idade adulta que devolve frescor, pureza e encantamento à penosa existência nesta terra. Nele as pessoas não comparecem como "filhos e filhas da necessidade, mas como filhos e filhas da alegria" (G. Bachelard). Aqui se encontra a relevância inegável do modo de ser do Poverello de Assis para o espírito ecológico de nosso tempo, carente de encantamento e de magia.

Estando certa vez, no dia 4 de outubro, festa do Santo, em Assis, naquela minúscula cidade branca ao pé do monte Subásio, celebrei o amor franciscano com o seguinte soneto que me atrevo a publicar:

Abraçar cada ser, fazer-se irmã e irmão,
Ouvir a cantiga do pássaro na rama,
Auscultar em tudo um coração
Que pulsa na pedra e até na lama,

Saber que tudo vale e nada é em vão
E que se pode amar mesmo quem não ama,
Encher-se de ternura e compaixão
Pelo bichinho que por ajuda clama,

Conversar até com o fero lobo
E conviver e beijar o leproso
E, para alegrar, fazer-se de joão-bobo,

Sentir-se da pobreza o esposo
E derramar afeto por todo o globo:
Eis o amor franciscano: oh supremo gozo!

Leonardo Boff*Teólogo

Um beijinho e quatro miaus

poetaeusou . . . disse...

*
passei aqui,
*

Anónimo disse...

Olá Ana,

gostei de conhecer os seus novos amigos e mais ainda de lhes saber a origem dos nomes, é uma ideia muito interessante e confere dignidade ao animal.
Mais do que o Leão da Rodésia adorei saber dos Castro Laboreiro, conheci apenas um mas que era tão meigo e tão engraçado, enorme e meio trapalhão, que nunca me esqueci dele e dessa raça do Norte.
Beijinho amigo

redonda disse...

Espero que as três manas já estejam com os donos dedicados :)

Anónimo disse...

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