2008-03-11

Um passeio adiado

Há umas semanas atrás resolvemos aproveitar o domingo para visitar o Parque Natural do Douro Internacional que fica entre Barca de Alva e São João das Arribas.
A paisagem era deslumbrante com os seus maciços rochosos, bosques de carvalho negral e cerquinho, manchas amarelas de giesta, terrenos de granito e xisto, zonas rurais agrícolas com enormes extensões de laranjeiras, amendoeiras em flor pintando a paisagem d
e tons rosa e branco, olivais a perder de vista, assim como plantações de vinha que segundo dizem fazem parte da mais antiga região demarcada do mundo com vinhos premiados em Portugal e no estrangeiro.
Parámos em Freixo de Espada à Cinta, onde nasceu Guerra Junqueiro, com a intenção de visitar a torre de menagem de um antigo castelo gótico, conhecida também por Torre do Galo ou Torre do Relógio e tentarmos visitar as criações de bicho da seda que dão origem a uma produção de seda artesanal exportada para o estrangeiro. Pretendíamos ainda visitar a aldeia de Mazouco para vermos o “Cavalo de Mazouco” que pertence a uma série de vestígios da arte rupestre do Paleolítico Superior ao ar livre, dos primeiros a ser identificados na Europa .
Mas, devido a um imprevisto, o nosso passeio terminou em Freixo de Espada à Cinta e tivemos que regressar.
Ficou a determinação de voltarmos ainda nesta Primavera para tentar fazer um percurso de 8 horas numa extensão de 140 km com visitas guiadas a vários centros de interesse entre Barca de Alva e Aldeia Nova, sempre com o rio Douro ao lado, um dos maiores rios da Península Ibérica que escavou arrebatada e apaixonadamente
as rochas ao longo de milhões de anos e que desliza agora apático, aprisionado pelas barragens, no fundo de perigosas escarpas. Por ali ainda se pode avistar a águia-real e a cegonha-negra que estão em vias de extinção, o abutre do Egipto com dificuldades na sobrevivencia da espécie e a rara águia de Bonelli assim como o falcão peregrino, entre outras.
E este post terminaria aqui se não tivessemos ficado intrigados com uma espécie de moinhos sem mastros que salpicavam a paisagem de branco.
Ficámos a saber que se tratava de pombais e daí a explicação para uma série de aberturas visíveis por baixo do beirado dos telhados.

Embora na Idade Média já aparecessem pombais nos terrenos feudais, foi com o Renascimento que começaram a ser intensamente construídos por toda a zona agrícola da Europa Ocidental.
Os pombais tradicionais contribuíam fortemente para a economia familiar fornecendo carne de pombo ou borracho e o estrume, chamado “pombinho” fertilizante natural que ajudava a enriquecer os solos pobres para o cultivo da vinha, olival, laranjal, hortas, etc.
Existem pombais em quase todo o país. Mas só na zona do Nordeste conta-se com cerca de 3.500! A maioria tem planta circular ou em ferradura, lembrando formas arquitectónicas castrejas, com paredes construídas em pedra de granito e xisto, bem grossas para permitir edificação de patamares, buracos e prateleiras por dentro para os pombos nidificarem. No interior tem normalmente uma mesa onde é depositado alimento e água, principalmente nos períodos de maior escassez. A porta construída muito acima do nível do solo, mais parecendo uma janela baixa, serve para evitar a entrada de predadores como fuinhas, ginetos, gatos, doninhas, ratos, cobras e também para permitir a acumulação no chão do esterco das aves, não dificultando a abertura da porta. Esta está colocada de frente para a povoação ou para outro local que permita a vigilância frequente da população ou do dono. O telhado tanto é circular, como pode ter uma ou duas águas cobertas com telha ou placas de ardósia, posssuindo muitas vezes estatuetas e pinocos no cimo das cumeeiras.
Na foto abaixo, retirada da Net, pode ver-se o interior de um pombal em ruínas




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O pombo-das-rochas que nidifica nos penedos do vale do rio Douro, acaba por ser atraído para estes pombais construídos nas proximidades e onde vai encontrar alimento e um óptimo abrigo, o mesmo se passando com outras aves mais pequenas, como o pardal.
A partir da década de 60 uma grande parte da população rural do toda a região interior do norte, emigrou. Os que ficaram, foram modernizando as suas culturas e reduzindo o cultivo de cereais. Os pombais perderam a utilidade de outrora, começaram a ser esquecidos e entraram em degradação. Os caçadores ignorando a legislação da caça, abateram milhares de pombos muitas vezes aproveitando a localização dos pombais. Os pombos por sua vez, perante a falta de alimento e segurança, aproximaram-se dos centros urbanos onde passaram a ser alimentados pela população nos jardins públicos.
Entretanto o Instituto da Conservação da Natureza através do Parque Natural do Douro Internacional, considerado Área Protegida, deu início a um projecto pioneiro na recuperação de pombais tradicionais, valorizando a paisagem e contribuindo para melhorar os recursos alimentares de diversas aves de rapina em vias de extinção.
Presentemente já há uma forte sensibilização nas povoações e por isso foi possível fotografar um desses pombais, bem cuidado e habitado por bastantes pombos que fugiram em debandada perante a nossa aproximação. O terreno estava de tal maneira encharcado, cheio de marcas das lagartas de um tractor, que dificultou imenso o acesso.




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Aqui fica a sugestão para um passeio extremamente interessante.

23 comentários:

poetaeusou . . . disse...

*
acabo de conhecer
um pouco mais o meu país,
,
obrigado, ana,
,
conchinhas
,
*

Luciano Lema disse...

Trás-os-Montes tem tanto para ver! Pessoalmente adoro passear por lá.
Eu já conhecia os pombais mas nunca tinha visto nenhum por dentro. A preservar, sem dúvida.

Beijinhos!

eu disse...

Nem imaginava que existissem pombais assim. Aprendo sempre que aqui venho.
Obrigada.

Um abraço

Maria disse...

Amiga, vou pôr na minha lista :-) Há ainda tanta coisa para eu conhecer neste país!!! Através dos teus olhos fico sempre a conhecer mais um pouco, deste vez da paisagem e tb dos pombais que não conhecia a história.
Estou mais uma vez no norte como pudeste ver, um pouco mais acima desta vez. Esperemos q qq dia, um pouco mais perto de ti.
Beijo grande

alexandrecastro disse...

olá ana! pelos vistos tem andado pela beleza dos meus lados...!
e como não é "cerimónias" têm-se ficado pelo melhor!!!
beijinho
ps.apenas uma achega ao texto sobre pombais. por norma a porta está sempre viarada a sul. assim, já sabe, se um dia se perder o sul está garantido!!!

Maria Cristina Amorim disse...

Mais uma coisa que eu desconhecia por completo.
Beijos.

Maria Cristina Amorim disse...

Mais uma coisa que eu desconhecia por completo.
Beijos.

Oris disse...

Nem sabia que existiam pombais como descreveste.

Andamos sempre a aprender e por isso é sempre um prazer passar por aqui e ler aquilo que escreves.

Beijitos, Ana.

João Roque disse...

Sempre algum ensinamento neste teu sítio; é curioso, que aqui em Lisboa se tende para o extermínio dos pombos, tal a sua rápida reprodução e segundo dizwem estragam com os seus excrementos os monumentos.
Bom fim de semana e beijinhos.

teresa g. disse...

Trás-os-Montes, tal como o Alentejo e a Beira Baixa tinha o seu quê do Portugal genuíno, pelo menos há uns anos, das últimas vezes que lá passei. Esperemos que pelo menos as áreas protegidas se mantenham assim .

Beijos e obrigada pela visita virtual!

Ricardo disse...

Eu nunca me canso de vir aqui e descobrir coisas tão bonitas. Essa história que contaste sobre os pombais é excelente!

Quanto a cidade de Freixo de Espada a Cinta, além de nome pitoresco, não me é estranha, Devo ter lido sobre ela em algum lugar. Depois lembro e te conto.

Um grande beijo e boa semana!

Paulo disse...

Olá Ana. Do ponto de vista paisagístico, essa região é mesmo privilegiada.

Quanto aos pombos, seria bom fazê-los regressar aos pombais. Na cidade, tornaram-se uma praga. Como diz o Pinguim, os seus excrementos danificam os monumentos, principalmente as construções de calcário. Em Lisboa, a pedra-lioz dos Jerónimos, em Coimbra, a pedra-de-Ançã. São praticamente arenitos que se desfazem em grãos ao toque de um dedo. Os pombos contribuem, e muito, para a sua degradação.

Anónimo disse...

Uma boa aposta... Ao contrario do que muitos penssam Trás-os-Montes é uma zona do País muito rica, uma beleza natural incomparavél, gente acolhedora, um optimo local para uns dias de descanço.
O Parque Natural do Douro internacional tem uma fauna e uma flora muito vasta. Ao voltarem a Freixo de Espada á Cinta não se esqueçam de passar pelo Penedo Durão, fica perto de uma freguesia do concelho, Poiares, são umas arribas com um miradouro bem estruturado que proporciona uma vista fantástica sobre o Douro e no qual podem apreciar a mágnifica "dança dos grifos" que pairam por esses ares...
Fico feliz por ver que ainda há pessoas que dão valor ás zonas transmontanas..

Maria disse...

Olá amiga! Já voltei a casa, finalmente! Passei por aqui para te desejar uma doce Páscoa.
Beijinho grande

Maria Cristina Amorim disse...

Espero que a tua Páscoa tenha sido muito docinha.
Beijos.

Bichodeconta disse...

Obrigada pela magnifica lição da geografia e história deste pais que é o nosso e que tem tanta coisa de interessa que nem sempre conhecemos..Aguçou-me o apetite para o passeio que deve ser delicioso, sempre com o Douro por perto, entre vinhedos e vegetação soberba..Um abraço, ell

Anónimo disse...

Olá Ana, tenho andado um pouco afastada como te deves ter apercebido, embora sempre que possa tenho vindo visitar-vos. Venho em silencio e demoro pouco tempo mas vou matando saudades egosísticamente pois não tenho dado sinal.
gosto da tua sujestão de passeio entre Douro, talvez este ano ao ir para o Gerês nos deixemos ficar um dia ou dois por essa paisagem tão bem descrita.

alexandrecastro disse...

olá ana. ficou de tal maneira fascinada com o meu Trás-os-montes que já nem escreve!!!
pois é....há belezas assim!
beijinho

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querida Ana, lindo tesxto...
Beijinhos de carinho,
Fernandinha

bettips disse...

Conheço parcialmente o trajecto magnífico, com esse Douro menino travesso.E também chovia, todo o caminho até Escalhão...
Dos pombais, fiquei a saber e a perceber por ti, ninguém conseguiu explicar-me...
E aponta ainda Alpajares, a caminhada na calçada dos Mouros... Depois conta!
(que bom apareceres...)
Beijinhos

Maria Cristina Amorim disse...

Há um canto novo para bisbilhotar...
Beijos

Joana Roque Lino disse...

conheço mal o douro. não me importava nada de o explorar mais. um beijo.

catrineta disse...

Esses pombais são muito bonitos.
Só se vêm no Nordeste Trasmontano e continuam por Espanha, mais ou menos até Salamanca.
Há muitos na zona de Bragança e muitos já restaurados, mas acho que não têm pombos. Agora só como lembrança de tempos passados.
Tenho um, feito em barro, por um aluno de uma escola de Bragança.
Rosa