2008-04-12

O círculo dos cogumelos

Para iniciar este post começamos por afirmar que temos horror ao consumo de cogumelos apanhados por pessoas que se dizem experientes na matéria.
Limitamo-nos a comprar Cogumelos de Paris, frescos, em estabelecimentos que nos inspirem confiança, ainda que o pessoal que aqui trabalha apanhe sacos de míscaros que levam para casa com a condição de não os dizimarem completamente.
Há alguns anos fomos almoçar a um restaurante que tinha como um dos pratos do dia, arroz de míscaros. Resolvi esquecer o terror dos cogumelos e como nunca tinha provado míscaros, confiei na casa e pedi um prato para mim que realmente estava uma delícia, já não sei se dos míscaros ou se das carnes.
No final ficámos a conversar um pouco com um dos donos que já conhecemos há muitos anos e perguntei onde é que eles se iam abastecer de míscaros. Fiquei apavorada quando o ouvi dizer que compravam a umas senhoras que apanhavam pelos pinhais e que os iam entregar em cestos logo pela manhã. Só me restava esperar que não tivesse havido erro nenhum na colheita e que essas senhoras percebessem muito mais de míscaros do que eu, o que felizmente aconteceu.
Lembrámo-nos de escrever sobre cogumelos porque temos andado intrigados com um tipo de cogumelos pequenos e brancos, parecidos com os de Paris, que se dispõem ao longo de uma linha circular.
A foto abaixo foi a possível. Mostra o início da formação de um desses círculos que são sempre destruídos com a passagem continua dos animais.

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Depois de várias leituras ficámos a saber o seguinte:
O cogumelo é apenas a parte visível de um fungo. É o seu corpo de frutificação que pode soltar milhões e milhões de esporos por dia. Por sua vez o fungo desenvolve-se subterraneamente, constituído por finas ramificações denominadas hifas, a cujo conjunto se dá o nome de micélio e cuja função é a de conseguir os nutrientes necessários. Alastra-se circularmente a partir de um ponto no centro, aumentando o diâmetro do círculo de ano para ano, se as condições foram satisfatórias, podendo ir de poucos centímetros até dezenas de metros.
Mais tarde encontrámos uma foto na Net que dá uma óptima ideia de como o fungo se pode alastrar se não encontrar nenhum elemento que prejudique a sua expansão.

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Estava assim explicada a razão dos círculos destes cogumelos que aparecem frequentemente nas nossas zonas de pastagem.
Estas formações fazem no entanto parte da mitologia celta e também do imaginário colectivo duma série de países da Europa, mais acentuado nos países escandinavos. São os chamados Anéis das Fadas ou Rodas das Bruxas.
Estes círculos seriam visitados por uma série de figuras maravilhosas pertencentes ao mundo das florestas: fadas, bruxas, elfos, duendes, etc. que se reuniriam e dançariam em noites de lua cheia. É interessante ler as mil e uma orientações publicadas na Net sobre este assunto.
Sendo um mundo estranho e invisível para o homem, este também poderá assistir ao espectáculo se der 9 voltas ao circulo no sentido dos ponteiros do relógio. Deve vestir uma roupa leve e esvoaçante se tiver intenções de participar destes encontros mágicos. Ficámos a saber que se fizer um pedido junto ao anel das fadas, tem-se a garantia de vir a ser satisfeito. Deve ter-se o cuidado de nunca urinar para dentro do círculo o que provocará uma doença venérea grave. Ficámos a saber também que tipo de comida ou guloseimas são do agrado destes seres. Deve evitar-se pôr os dois pés dentro do círculo porque poder-se-á entrar no mundo das fadas e sem hipótese de regresso… a não ser que alguém tenha assistido ao acontecimento e que após 7 anos, do nosso tempo real, para 1 dia do tempo mágico, se coloque junto a um desses círculos numa noite de lua cheia e esperar pela dança para poder depois puxar com toda a força a pessoa perdida, não colocando obviamente os seus 2 pés dentro do anel.
Por curiosidade andámos a ler diversos contos tradicionais portugueses num livro de Consiglieri Pedroso que compilou uma série de contos junto de uma população muito diversificada que repetia lendas e contos ouvidos pela boca dos seus antepassados, quando a oralidade era o meio usado para a difusão de informações. O livro foi editado em 1910 apoiando-se também numa compilação feita em 1883 por Teófilo Braga e noutra mais antiga ainda feita em 1879 por Adolfo Coelho. Muitos desses relatos importados pelo contacto com povos indo-europeus, sofreram várias adaptações ao nosso meio e cultura. Mas muitos têm características unicamente ibéricas.
Estávamos com esperança de ler alguma história que se referisse a estes Anéis de Fadas, mas não encontrámos nenhuma referência nas dezenas de contos que estivemos a ler.
Pudemos também constatar que as fadas dos nossos contos não são seres esvoaçantes, luminosos e de uma beleza indescritível. A fada entra no conto essencialmente para cumprir a sua função, sem se perder tempo com descrições do seu aspecto físico. A bruxa é apenas uma fada maléfica.
Também nos pareceu curioso saber que alguns cogumelos eram usados em certas cerimónias religiosas devido ao seu efeito alucinogénio que provocava sonhos estranhos repletos de movimentos de luzes com várias cores, precisamente as características descritas pelas pessoas que afirmam já ter visto fadas num dado momento da sua vida.

Este assunto interessou-nos de tal maneira que voltaremos a ele quando dispusermos de mais informação
.

37 comentários:

João Roque disse...

Mais uma sábia lição, desta vez de uma coisa de que muito gosto: cogumelos...
Já agora e puxando a minha memória muito lá para trás, recordo-me era eu pequenote, o meu bisavô ia buscá-los à serra, uns míscaros grandes, avermelhados e que depois assados na brasa eram deliciosos, pareciam bife; salvo erro chamam-lhes raivacas ???
Beijinhos.

Anónimo disse...

Antes de mais, sê muito bem vinda de volta, j´ame perguntava até quando...! Depois, fizeste-me lembrar as madrugadas em que ia com o meu pai e os meus tios à cata de "púcaras", como se chamam no meu Alentejo! (Quer dizer, fui para aí uma vez ou duas, que aquilo era muito cedo e fazia muito frio...) Beijo!

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querida Ana, belíssimo texto!
Votos de um bom fim de semana...

Dos dias que passam,
as horas vividas,
são laços que abraçam,
as almas queridas.

Beijinhos de carinho,
Fernandinha

teresa g. disse...

Bem, acho que vocês são uns sortudos por terem essa porta redondinha para o mundo da fantasia! ;)

Fico curiosa à espera de mais informação.

Anónimo disse...

Delicioso este post...
Pelos cogumelos e também pela roda das bruxas (que já conhecia ,embora nunca tivesse aqui pesquisado sobre o assunto).
Tenho biólogos na família, com alguma especialização na área dos fungos e foram eles que me fizeram passar do estado por ti descrito - horror a comer qualquer cogumelo que não fossem aquelas coisinhas brancas de Paris - para o actual que é apanhar os que me aparecem no quintal e saltea-los alegremente para depois os comer, ou então ir à Macro( supermercado retalhista) comprar as imensas variedades que lá têm frescos ou deshidratados para fazer saborosas omoletes ou arros de cogumelos.
Eles ensinaram-me inclusivamente que há cogumelos que são muito saborosos comidos crus...
Beiijnho

Tongzhi disse...

Delicioso, como todos, este post!
Há muitos anos que não como míscaros. Jardineira de míscaros faz parte do meu imaginário infantil e juvenil, bem como uma empada de míscaros e presunto que se comia em dias especiais em casa dos meus avós, no norte. Lembro-me de os ir apanhar, de a minha avó os examinar um a um e "testar" se eram venenosos ou não, com a ponta de uma colher de chá de prata.
Muito curioso também a parte mística associada aos cogumelos!!!
Abraços

Miguel Jorge disse...

Um circulo mágico feito de cogumelos...as coisas fantásticas qye se encontarm nestes belos blogs...

Espaço do João disse...

Querida amiga.
Uma coisa é certa! todos os cogumelos são comestíveis, só que alguns se comem uma única vez. Pelo sim pelo não eu recuso-me terminantemente a comer ou colher cogumelos. Não confio nem uma micronésima afirmação de cogumelos inofensíveis. Um abraço João

Anónimo disse...

:) Ena...

A ver se imprimo o post para, quando vir um destes circulos, saber o que fazer...

Apesar de ser uma tentação... um pézinho num dia mágico... :)

Beijinho grande...

Maria Cristina Amorim disse...

Tambem não como qualquer cogumelo que não seja de compra e de cultura, na verdade tenho medo e aflige-me o facto de os apanharem no pinhais onde outros venenosos, crescem livremente e podem sem confundidos.
As histórias que se contam são fascinantes, e deixam-nos a imaginação voar.
Beijos.

Anónimo disse...

Espero que estejam melhores!

Eu fico pelos do supermercado :)

Oris disse...

As coisas que aprendemos contigo...

Nunca encontrei um círculo como o que descreves...cheio de magia.

Gosto muito de cogumelos e de todas as maneiras.
Nem penso que podem ser venenosos...
:)

Boa semana.
Beijitos

poetaeusou . . . disse...

*
ana
,
gosto muito de cogumelos,
mas tenho receio, dos venenos,
incluindo os enlatados,
,
hó, que infelicidade,
,
conchinhas
,
*

Eira-Velha disse...

Bom dia. O prazer de comer cogumelos pode levar-nos a cometer imprudências que se podem pagar caras. Eu fui contemplado com a ferroada de um lacrau quando me divertia imenso a apanhar miscaros mas não desisti, passei a usar ferramentas em vez de meter lá os dedos...
Gostaria de participar na dança das bruxas quando o tal círculo o permitir. Fico à espera do convite :)
Excelente post.

eu disse...

Exelente post. Também tenho receio de comer cogumelos quando não tenho a certeza da sua origem. Nunca vi um círculo deses, mágico. Gostaria de ser bruxa por um dia...

Espaço do João disse...

Olá Ana.
Há muito que não aparecias pelos meus lados. Eu também adoro cães e, tenho o condão de não ter mêdo deles. Já não digo a mesma coisa de seus donos. Já tenho sido mordido por vários cães mas sempre por causa de seus dono. Enfrento sempre os cães e minha adrenalina não sobe.Quando isto acontece e seus donos teem medo dos próprios animais eles presentem que a sua adrenalina sobe e, aí são capazes de morderem as pessoas que não teem medo. Já fui buscar um cão a um canil que estava para ser abatido por ser muito mau e, morreu em minha casa de velhinho sem nunca mais morder alguém, pois consegui dar-lhe a volta. Boas sementeiras e bom fim de semana. Um abraço do João.

Anónimo disse...

Olá, Ana.
Uma bela lição sobre os cogumelos. Também tenho receio deles, até porque, os próprios bons, podem fácilmente ganhar toxinas. Gostei especialmente das históias das minhas belezas de outos mundos, em relação ao ciclo.
Para mim, os cogumelos do ciclo são todos venenosos, mesmo que isso não seja verdade.
Na minha terra só se come um tipo de cogumelo. Lá chamam-lhe machouchos! Onde vais? Vou aos machouchos!
Teria muito prazer em ir aos machouchos, mesmo que não os comesse!
Bjs.

pin gente disse...

diz-se que para ter a certeza de haver algum cogumelo não comestível se deveria mexer o cozinhado com uma colher de prata.
o escurecer da prata indicaria a presença do veneno.

abraço

Anónimo disse...

Através do nosso comum amigo Sr. Mário Portugal Faria descobri o seu magnífico blog. Os meus sinceros parabéns Serei leitor assíduo. Cumprimentos Joaquim Nogueira

Oris disse...

Passei para desejar boa semana e deixar beijitos.

Bichodeconta disse...

Adoro cogumelos, miscaros, em criança comia imensos dos que proliferam nos pinhais, o pai conhecia-os muito bem, e apanhava , apanhava também uma coisa a que chamavam tubras e que hoje eu penso tratar-se das turfas pela textura e pelo sabor delicioso, sei que são carissimas e que na zona do campo de tiro de Alcochete havia imensas, o pai apanhava também espargos de que tenho saudades.. Os cogumelos sei que tinham determinadas caracteristicas, mas jamais arriscarei comer cogumelhos apanhados por mim ou por coriosos.. Mas que els são deliciosos, disso não duvidem.. Essa foto em circulo assemelha-se a uma que não emcontro agora , que tirei num dia em que fomos fazer uma longa caminhada... Um beijinho e fico agradecida por mais esta lição.. boa semana..Ainda bem que a gripe já lá vai...

Ricardo disse...

Que belas imagens!

Depois vou achar alguns cogumelos daqui que fotografei e te mando.

Bjs

Miguel Jorge disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel Jorge disse...

Não há nada como um bom guia para identicar OS MAIS FÁCEIS e apetitosos e os que são mesmo perigosos.


http://maosverdes.blogspot.com/2008/04/cogumelos.html

Anónimo disse...

É com muito prazer que visito a sua página e leio as suas histórias.
Atrevo-me hoje a deixar um pequeno comentário àcerca de cogumelos.
A minha Mãe preparava um prato de perdizes com míscaros que era uma delicia.Eram apanhados pelas pessoas da terra,nunca pensei no perigo,eles sabiam disso...
Muito mais tarde, num restaurante em Viseu, encontrei uns míscaros parecidos. Uma delícia
Beijos

paulu disse...

Também adoro cogumelos silvestres - daqules que não se cultivam, e que é preciso saber colher na natureza. Infelizmente, não sei... O que é uma chatice: um dos melhores petiscos que alguma vez comi foi uma salada de boletos crus!

Existem diversos manuais nas livrarias e sítios na internet, seja para ajudar a reconhecer os cogumelos, seja para fazer crescer água na boca sem piedade. Como este, por exemplo: http://www.eurofunghi.pt/cogumelos/index.asp

Mas daí a arriscar...

poetaeusou . . . disse...

*
passei aqui,
,
conchinhas
,
*

jorge esteves disse...

Ora vou daqui aprendido; e se alguma dúvida depois tiver, é certo, certinho que cá venho para esclarecer!...

abraços!

Anónimo disse...

Se ha coisas que me encantam, é o encontrar pessoas que, além de escreverem primorosamente, o fazem com toda a ALMA e GARRA.
Você Ana, tem de tudo !
Como eu a admiro !
Mário

Sei que existes disse...

Mas que informação interessantissima! E eu que gosto tanto de cogumelos...
Beijo grande

Anónimo disse...

É bom ficarem a saber que mesmo os cogumelos de Paris, já de estufas, se devem guardar com os pés virados para cima, pois há bichinhos (não sei o nome)que trepam sempre para a superfície, e que são tóxicos, apesar de normalmente se não dar por isso, mas que ficam no organismo.
Depois e antes de os lavar devem-se cortar os pés.

Há um tempo, comprei no supermercado e não houve tempo para os deixar nessa posição pelo menos 24 horas.
A mim, e só a mim, fizeram-me um mal horrível, fiquei de barriga inchada durante horas sentido um mal estar enorme.

Os espanhois já têm também míscaros de cultura (niscaros), não são é tão saborosos.

Maria disse...

Pois é, já foi depois de ter lido este teu post (e não ter comentado :-( ) que comi um fabuloso ensopado de cogumelos. Confesso que, quando soube o que era a Entrada, me lembrei de imediato do teu post, mas o aspecto era tão bom e o cheiro tão chamativo, que logo tentei esquecer estes receios.
Enfim, estava mesmo um delícia. Já não comia cogumelos sem ser de lata há quase vinte anos.
Beijinhos grandes para ti amiga

Ezequiel Coelho disse...

32 comentários depois-... Adoro ´míscaros!!

Dama do Lago disse...

Adorei este post tanto quanto adoro cogumelos :)! E apesar das coisas ainda acho que que um círculo de cogumelos é um sítio ideal para fazer uma festa de fadas, decerto que elas concordam comigo ;)!

bettips disse...

Felizmente não escreves todos os dias: é que há sítios onde a gente pára e lê tudo. Encantos de fadas e magias em noites de luar. Delícia!

Anónimo disse...

Invejo-vos,

Gostaria de ter tido a oportunidade e a coragem de ter o vosso estilo de vida.

Entretanto sobre a identificação de cogumelos silvestres, é algo que de facto não se deve fazer de ânimo leve. Porém, com um bom guia, e participando numa das várias actividades de introdução à sua identificação, hoje bastante acessíveis, não é nada transcendente.

Dêem uma espreitada em http://cogumelosportugal.forum-livre.com - foi aqui que aprendi tudo o que sei sobre o assunto.
Há lá um post sobre círculos de Bruxa. Um dia fotografei um de Cortinarius caperatus, deliciosos, sem saber o que era fenómeno. As imagens estão lá no fórum.

Com uma propriedade desse tipo, já pensaram em produzir os vossos próprios cogumelos, com base em subprodutos da agricultura? (palha, estrume, restos de podas...) Há espécies simples e pouco exigentes como o cogumelo ostra (pleurothus ostreatus) ou o shiitake (lentinus edodes). Imagino que vocês tb não tenham tempo para tudo...
Tenho vários pdf's sobre cultivo em pequena escala, se quiserem, terei muito gosto em enviar-vos.

No meu blogue, há um tópico com o resumo da minha primeira temporada de identificação de cogumelos silvestres.

Continuem assim!

Manel

PS - Cuidado com as formas populares de identificação de cogumelos comestíveis tipo colher de prata. Não têm fundamento nenhum.

Anónimo disse...

Ana,

Sobre os alucinogénicos, há muita informação, dispersa e contraditória. Eles estão por aí nas nossas florestas e pinhais. Sejam as Amanita muscária(os vermelhos com pintinhas brancas), os famosos utilizados nos rituais shamânicos na sibéria, ou os psilocybes, que a nossa lei equipara às drogas pesadas.
Deixo este link, talvez um dos textos dos mais interessantes que encontrei sobre o uso ritual dos cogumelos:
http://mundocogumelo.wordpress.com/2008/06/10/o-cogumelo-sagrado-teonanacatl/

Fora isso, não faltam fóruns sobre cogumelos mágicos, mas como disse, eu tenho reservas em relação à informação que rola por lá.

Até breve!