2008-11-02

Salamandras e Jeropigas

Dizem aqui na terra que quando se vêem salamandras é sinal que vai chover.
Pois há dias ao abrir a porta da cozinha quase ia tropeçando nesta lindíssima salamandra que erguida nas patas dianteiras e com a cabeça bem levantada, me vinha anunciar a chuva para breve. Só que deve ter vindo de muito longe e ao chegar aqui já chovia torrencialmente :)

- Obrigadinha, D. Salamandra! Mas não valia a pena incomodar-se tanto!...

A salamandra comum é um anfíbio Salamandra salamandra, ovovivípara, possui corpo negro com manchas amarelas por vezes avermelhadas de diversas formas e cauda longa. É animal nocturno, vive em locais de matas húmidas e frescas no nosso país, com necessidade da proximidade de água para a fêmea pôr as suas larvas (20 a 40) dentro de água. No entanto, depois de adulta perde a capacidade de nadar. Pode viver até aos 30 anos.
Perseguida desde sempre pelo homem que receia a peçonha ou a mordedura, no entanto não morde e a secreção cutânea irritante que usa para se defender dos predadores não nos afecta mesmo quando a seguramos na mão.
A da fotografia fartou-se de andar de mão em mão e embora enervada tentando sempre fugir, não deixou nenhuma irritação na pele.
Os antigos acreditavam que a salamandra era um animal demoníaco movimentando-se naturalmente por entre as chamas.
Ainda hoje é possível ver aparecer uma salamandra por entre as labaredas de uma lareira. Não por ser o seu habitat mas porque gosta de procurar durante o dia a frescura no interior de troncos velhos. E quando estes são apanhados e lançados na fogueira, as pobres tratam de fugir tendo realmente alguma resistência que se julga ser devido à tal secreção cutânea que as protege um pouco da queimadura das chamas.
O nome de salamandra que se dá aos aquecedores a lenha feitos em ferro, tem a ver precisamente com esta associação
É uma pena que seja tão detestada pelo homem uma vez que é utilíssima por se alimentar de moscas, mosquitos, caracóis, lesmas, centopeias, formigas, etc.

E agora sobre jeropiga:
Há umas semanas atrás comentava com o meu pessoal que tinha pena de não termos feito jeropiga. Primeiro porque não sabemos fazer, segundo porque não temos vinha e terceiro porque todos os vizinhos já tinham vindimado e a jeropiga é feita com o sumo de uva antes de fermentar. Mas um dos nossos auxiliares, homem prestável e sempre atento a estes pequenos desejos, andou a vindimar numa vinha abandonada e apareceu no dia seguinte, todo satisfeito com dois sacos cheios de cachos de uva branca e preta.
Ofereceu-se para ser ele mesmo a fazer e assim ensinar-nos.
Como era pouca quantidade decidiu-se espremer os cachos na prensa.



Depois de umas valentes espremedelas - porque é preciso ter força para esmagar os cachos - começámos a obter o sumo de uva, conhecido por mosto.



Obtivemos 9 litros de mosto ao qual se juntou 3 litro de aguardente (é esta a proporção). Mexeu-se muito bem e deixou-se descansar por algum tempo dentro de garrafões por não termos nenhum barril de madeira.
Na semana passada vimos que estava límpida e com um monte de borras depositado no fundo. Devia estar mais tempo sem ser mexida para ir ganhando mais sabor. Mas estávamos apressados para a preparar para o feriado de Todos-os-Santos e por isso enchemos duas garrafas e filtrámos o líquido usando um filtro dos de café..
Quisemos experimentar a clarificação natural que se usa no fabrico de licores e que consiste em juntarmos uma casca de ovo partida e uma clara ao licor, mexendo bem e deixando em repouso por 24 horas até se filtrar novamente
Deitámos uma clara de ovo e a casca esmagada à mão para dentro de uma das garrafas e deixámos a descansar.
No dia seguinte depois de tornarmos a filtrar, reparámos com alguma tristeza que tinha ficado demasiadamente baça o que nos desencorajou e nos levou a arrumar a garrafa e esquecermo-nos dela.
Ontem resolvemos fotografar as nossas bebidas e foi com satisfação que vimos que estavam ambas com um belíssimo aspecto.
Aqui vai a foto para verem a mesma jeropiga com o aspecto natural (a mais escura) e a clarificada com a clara de ovo, notando-se ainda algum depósito no fundo da garrafa




Mas como disse, foi apenas uma experiência. Na verdade apreciamos mais a sua cor natural que depende do tipo de uvas utilizado.
É muito agradável bebericá-la enquanto se vai saboreando um prato de castanhas assadas… ou cozidas… ou fritas e polvilhadas com canela :))

16 comentários:

Ricardo disse...

Sobre a salamandra é animal que sempre me causou repugnância, desde minhas primeiras vistas de sua imagem numa velha História Natural. Esse sentimento só cresceu qdo soube de uma história de um homem que teve uma salamandra - viva - por 20 anos dentro do estômago, até que um médico descobriu. Tia Generosa mesmo afirmava ter visto a salamandra num vidro com formol nesse consultório.

Quanto à jeropiga, que inveja! Tens um modo de contar as coisas que é o mesmo que estarmos aí a assistir toda a fabricação. Só falta mesmo uma provadela. :)

Beijos!

teresa g. disse...

É verdade, a salamandra é um animal muito útil aos jardineiros e agricultores, e é daqueles animais injustiçados pelo homem!

Fiquei um tanto surpreendida com a história do Ricardo, não haverá aí confusão com um parasita intestinal?! Às vezes as pessoas trocam os nomes e, se foi o caso, lá ficou a pobre salamandra com má reputação outra vez...

Quanto à jeropiga só posso dizer que tem mesmo uma cor linda!

Ricardo disse...

Eu também sempre achei inverossímil essa história, mas como era coisa de tia Generosa (que nme cheguei a conhecer) seria "heresia" duvidar. :)

Mas é como falei com a Ana e agora vc também diz: podia ser algum verme que, depois de extraído, diminuiu o sofrimento do homem, que já durava 20 anos.

Como diriam os italianos, si non é vero, é bene trovato!

Oris disse...

Bem, sobre salamandras nem vou falar...
Mas gostei de ler mais uma das muitas lições que por aqui encontro.

A jeropiga ficou com um óptimo aspecto...

Boa semana.
Beijitos, Ana.

Tongzhi disse...

Das salamandras nem vou falar... detesto-as!!!!
Agora de Jeropiga... ai que saudades das castanhas e jeropiga dos meus avós. Foi a primeira bebida alcoólica que provei... um "beijinho" só, como dizia a minha avó!
Bem hajas por o que me tens feito recordar!
Beijos

Maria Cristina Amorim disse...

Olá, está-me cá a parecer que também tens inquilinas residentes como eu. hehehe
Espero que a tenha deixado ir de volta á sua toca pois serte-á util na horta e pomar, e que venham muitas mais.

Jeropiga, huuummm....adoro com castanhas, e a tua ficou linda...a mais vermelha.

Beijos

Eira-Velha disse...

Pensava eu, que nunca fiz jeropiga, que o mosto precisava fermentar um pouco, até ficar doçe, como se processa o vinho generoso...
Haverá outras formas...
De todos os modos, não sou um apreciador dessa "mistela", prefiro o vinho natural ou, em alternativa, o moscatel.
Mas gostos não se discutem, sempre ouvi dizer...
Um beijinho

poetaeusou . . . disse...

*
vinho branco,
tinto e jeropiga,
com peixe frito . . .
,
salamandras
não são "aquelas coisas"
de aquecer a água ?
srsrsr
,
brisas de luz,te envio,
,
*

bettips disse...

A quentura das tuas palavras e a ternura pelos bichos! (gosto muito de os olhar nos olhos). Fizeste-me lembrar a "Noite de Iguana" com a primeira foto.
Bjinhos

eu disse...

Nunca tive a sorte de ver uma salamandra ao vivo. Aqui na Madeira penso que não existem salamandras, pelo menos nunca ouvi nenhum relato.

Bem, quanto à jeropiga, também nunca a provei mas agora que nos ensinaste a fazê-la, quem sabe?

É sempre bom vir aqui. Um abraço.

bettips disse...

Ana: vou-te mandar um mail ahoje ou amanhã, pelo endereço que aparece no perfil do blog. Espero a tua paciência - e entendimento amplo.
E sempre grata pela percepção que tens do que "pretendo" dizer e adivinhas.
Bjinho

Maria Cristina Amorim disse...

Tens um mimo lá no meu canto.
Beijos.

Maria disse...

Jeropiga ... hummmmm é tão bom e assim preparadinha e explicada ao pormenor ainda deve saber melhor.
Quanto às salamandras ... pois, aprendi mais umas coisas contigo. Confesso que esses pequenos répteis me fazem alguma impressão. Esquisitices de quem vive na cidade!! mas ontem fiz festas pela primeira vez num camaleão e não é tão mau como isso. É mais a primeira impressão.
Beijinhos e boas castanhadas

pin gente disse...

eu gosto de salamandras... salvo-as de morrreram afogadas na piscina (pois não conseguem sair).
.
.
.
castanhas fritas polvilhadas com canela?!! devem ser uma delícia!
muito bonita a vossa jeropiga

beijos

Bichodeconta disse...

Não me importava nada de ter um bichinho assim, lindo a anunciar a chuva, mas minha amiga, diz quem conhece estas coisas do campo que a pobre se tivesse tido a pouca sorte de entrar na maior parte das casa seria torcidada..Nunca entendi porque se tem tanto medo de bicho inofensivo..Li primeiro a história de cima, a do amigo Brasileiro e fiquei muito sensibilizada.. É muito bom passar por aqui e ler histórias verídicas sempre tão interessantes..Agora até ia uma pinga de jeropiga..Beijinho, ELL

Miguel Jorge disse...

Adoro salamandras desde pequeno.Já as desenhava pretas com pintas amarelas para horror da professora primária que preferia que eu desenhasse bichos "fofinhos";desenhei mas no fundo preferia as minhas salamandras.No jardim da casa do meu pai há uma tampa de madeira, debaixo de um fitosporo, ao nível do chão que é onde as salamandras se escondem quando há frio.Outro dia contei 12 de todos os tamanhos.Todas pretas com pintas amarelas como na minha infância...