2009-07-07

As nossas histórias

Hoje resolvemos vir aqui contar pequenas histórias que vão acontecendo nesta quinta que nunca consegue tornar-se monótona.

Em primeiro lugar mostramos como a Camila cresceu. Está enorme e apenas com 7 meses


Quando há tempos, após uma noite de invernia que tudo encharcou e abanou, vos contámos a impressionante queda e morte do nosso gigantesco cedro, não chegámos a falar de uma ameixeira muito velhinha que tinha tido a mesma má sorte. Mas um acaso permitiu que uma pequena parte da raiz se mantivesse agarrada ao chão, conseguindo retirar um mínimo necessário para manter a pobre árvore com vida. Estamos todos impressionados como é que uma fruteira com a idade dela e completamente deitada por terra, ainda arranjou forças para deixar crescer e amadurecer os seus frutos.

Juntamos aqui esta foto tirada hoje para vos mostrar como as árvores podem ser teimosamente resistentes



E agora a história da Carmen e da Rosa, as nossas faisoas.


Estiveram muito tempo aninhadas, na esperança de ver sair filhotes dos seus ovos escuros. Acontece que o Tobias, o faisão prateado, simplesmente as ignora por serem de raça diferente. Depois de mais de um mês em que insistiam no choco, reparámos que quando se levantavam para comer, caminhavam de uma forma estranha que à distância não dava para perceber o que se estava a passar com elas.
Entrámos na pequena capoeira sujeitos às investidas do Tobias que é uma ave permanentemente de mau humor e ficámos estupefactos com o estado em que tinham as patas



Não sabíamos bem o que fazer mas resolvemos mantê-las presas numa gaiola, num local mais aquecido e todos os dias de manhã e à noite esfregávamos as patas com azeite e obrigávamos a determinados movimentos.

O azeite permitiu que as calosidades horríveis que cobriam completamente as patas se fossem soltando aos poucos...





… e os movimentos forçados permitiram que melhorassem o andar, lentamente

Não ficámos muito entusiasmados porque a Rosa desde que começou a abrir bem uma das patas, passou a recolher a outra junto ao corpo e por isso quando tem necessidade de se movimentar, caminha com uma aberta e outra fechada.



E a Carmen ao começar a caminhar com as duas patas, começou a enrolar um dos dedos e poderá ter de novo problemas



Mas como já estão há mais de um mês metidas nesta pequena gaiola, resolvemos pô-las de novo na capoeira juntamente com um Tobias irritadiço e vamos esperar para ver como é que as coisas evoluem.

A outra história que temos reservada para vós é sobre o Milhas (baptizado pelo
Paulo), o nosso milhafre de estimação.
Há vários anos que nos habituámos à sua companhia aparentemente inofensiva. Mas agora andamos furiosos porque começou a atacar os animais na capoeira... e já levou 9 fracas pequenitas, 1 patinho e um grande número de pintos.
Um destes dias vi-o a querer atacar um dos pombos e mesmo correndo debaixo dele, gritando e atirando pedras, percebi que é de ideias fixas e nem sequer se assustou. Só não apanhou o animal porque este conseguiu esconder-se a tempo.
Resolvemos então mudar de táctica. Se ele estava tão desvairado para alimentar o filhote, então daríamos carne todos os dias para levar para o ninho. E se bem pensámos, melhor fizemos e por isso todos os dias de manhã e à tarde, colocávamos (e colocamos ainda) um bocado de carne crua em cima do telhado da capoeira pequena...



... e que tanto pode ser carne da que compramos para os nossos cães, como algum pequeno animal que encontremos morto.

Numa destas tardes de calor ouvimos uma barulheira no ar e vimos o milhafre e a companheira a voar perto de um passarito pequeno que esvoaçava e gritava aflitivamente.
No início pensámos que seria algum animal prestes a ser apanhado mas depois reparámos que o casal voava em volta do pequenote e percebemos que se tratava do filhote voando de uma forma muito atabalhoada e aos gritos o que nos fazia rir por não sabermos se era de grande entusiasmo pelo voo ou de grande pavor pela altura. Era divertido imaginar que os milhafres nos vinham mostrar a cria e assim justificar o ataque que faziam à capoeira.

O Milhas começou a habituar-se às nossas ofertas passando a sobrevoar-nos em círculos mal saímos de casa com um alguidar na mão


Não percebíamos como é que conseguia apanhar os pintos e patinhos se estes ao menor sinal de alerta dado pelas mães ou por outros animais mais velhos, corriam a esconder-se dentro da capoeira, só ficando cá fora os adultos mais pesados.

Mas depois de algum tempo de observação percebemos a técnica que consiste em se manter imóvel durante muito tempo num ramo de pinheiro até todos os animais se esquecerem dele e os pequenitos começarem a sair do esconderijo.
Depois num voo rapidíssimo consegue apanhar o escolhido, de garras estendidas e logo na primeira investida


Há dias resolvemos tirar uma foto no momento em que ele iria baixar para “caçar” a carne que tínhamos posto à sua disposição. Mas à última da hora resolvemos fazer um vídeo e foi a nossa sorte senão não teríamos nada para vos mostrar.

Para isso escondemo-nos num casinhoto, com a máquina á janela, apontada para o local onde tínhamos posto uns corações de peru.
Vão ver o vídeo com muita atenção porque ele vai recolher a carne que está na ponta esquerda do telhado e mais rápido que um relâmpago. As fracas e os galos estão a dar o alerta da sua aproximação.


O video fica aqui muito diminuto o que é uma pena mas mesmo maior também tivemos que passar várias vezes para tentar vê-lo!



E em breve voltaremos com mais historias

24 comentários:

Paulo disse...

Ana, isto parece um documentário do "National Geographic".

Mas folgo em saber que a fisioterapia aplicada na Cármen e na Rosa teve bons resultados.

João Roque disse...

Mais um post tremendamente feliz. Concordo inteiramente com o Paulo...
Obrigado, SEMPRE, pelas tuas maravilhosas partilhas.
Beijito.

Tongzhi disse...

E que maravilhosas estratégias vocês arranjam para solucionar os problemas!!!
Um post muito giro que nos permite conhecer os outros seres vivos dessa quinta.
Beijos

Duarte disse...

Que vivências!
Faziam-me faltas estes relatos tão vivos. Um dia a dia cheio de proezas que mais parecem aventuras.
Conheci a vida das quintas na minha infância, os meus avós maternos eram agricultores e o meu avô ademais alternava essa actividade com a de lenhador.
Fui muito feliz e recordo tudo aquilo com nostalgia.
Obrigado por aproximar-me a esses belos tempos nos que tanto aprendi da natureza, e do meu avô.

Beijinhos de agradecimento

Ricardo disse...

Ah, que bom ler tuas histórias novamente.
Apesar de já estar acompanhando o caso das faisoas e tuas voltas com o milhafre, sempre é bom ler tuas palavras.
E que beleza a ameixeira! A pobre, mesmo caída, resiste e insiste.
Bjs

Espaço do João disse...

Olá Ana.
Voltaste e em força. Não são figuras de ficção, realmente é preciso muita pressistência para captar imagens tão belas.Não sei se já te disse que no próximo mês de Setembro tencionoir até Vizeu: evo a minha cam´lia branca pois não conhece a tua cidade. Seguirmos de seguida para Viana do Castelo, e possívelmente até Caminha. Vamos fazer a viagem de Alfa. Não tenho paciência para conduzir e, mesmo que tivesse não desfrutava a paisagem, pois conduzir e olhar para o lado pode ser trágico. Logo, logo aviso, pois gostaria de conhecer-te pessoalmente. Entretanto, espero que continues com o teu belo espaço, aprende-se muito nele. Recebe um forte abraço João.

pin gente disse...

eheheh
muito giro, ana!
o bicho é rápido mesmo.
como sempre, gostei da vossa história.
um beijo
luísa

paulu disse...

Adorei ler essa cena do puto a iniciar-se das delícias e pânicos do voo. Ainda não assisti a uma dessas!

Há milénios e milénios que o bicho homem e algumas espécies de rapinas estabelecem contratos, alianças e dependências. (Por vezes, nem sempre tão simpáticas como a vossa com os milhafres, é certo...)

A muito citadino estas relações poderão soar a excêntrico - salvo talvez a águia do Benfica, que em tempos parece que já foi um milhafre escravizado, e agora é uma águia-calva que só existe nas Américas - mas basta ler a tua história para intuir quão naturalmente elas podem acontecer. :)

Chanesco disse...

Minha cara Ana

Quem passa por este seu espaço não pode ficar indiferente a tanta sensibilidade e devoção pela causa em prol da defesa dos animais.
Extraordinária a forma como foi possível recuperar as mazelas na pata da faisoa.

Um abraço

Espaço do João disse...

Olá Ana.
Grato pela visita ao meu espaço. Depois de ler o teu comentário não vou de modo algum discordar da tua opinião quanto aos aerogeradores de corrente.Realmente descaracterizam as paisagens, mas antes isso e termos uma fonte de Energia barata e limpa do que termos uma central nuclear,por ex. Eu bem sei que parece a luta do D. Quixote, mas antes isto que outras alternativas piores. Repara que quando falamos em aproveitamento de inergia Hidráulica , por ex, caiem logo em cima os ambientalistas que de ambiente só conhecem os bolsos. Repara no caso Foz Coa. Hoje há hipópóteses de perservar as figuras rupestres e continuarcom a barragem, mas os fundamentalistas ditos protectores da natureza nem os sabem. Dou-me há humildade de dizer como conseguir as duas alternativas. Mas, como sou um ser insignificante ninguém me ouvirá. Dou o ex. do Arquitecto Ribeiro Teles que diz que se houver um terramoto em Lisboa como o de 1755 não restará pedra sobre pedra. Eu dou-lhe toda a razão porque vejo as altas incomptências decidirem tudo sem nada saberem do que estão a fazer.Muita coisa teriamos de falar sobre estes assuntos mas, infelizmente não dá por este meio.
Quanto há minha passagem pelo norte, far-se-á no primeiro dia de Setembro,pois é a data que comemorarei juntamente com a minha camélia branca os 42 anos de "mariage". Recebe um grande abraço e, acima de tudo não te preocupes, pois haverá outra altura. Um abraço João.

A.S. disse...

A grandiosidade das coisas simples,
que tantas vezes parecemos ignorar!...

Lindo e didáctico este teu maravilhoso post!


Bj"os

Ventor disse...

Pois será certamente uma maravilha fazeres as caminhadas ao lado dos milhafres (Milhas e família, e não a milhas). É pena o Senhor da Esfera ter feito o mundo em que meio come o outro meio. Se assim não fosse, tudo seria mais lindo!
Tenho pena do "reumático" (será?), que as faisoas têm nas patas e é uma beleza olhar a camila e companheira (o)!
Bjs.

jorge esteves disse...

Não são histórias: primeiro são lufadas de ar fresco, como aquela que vem da montanha no dobrar de qualquer manhã. Mas, acima de tudo, são bocados de um Mundo que urge cuidar, amar, e, sobretudo, fazê-lo florir!...
É grato, que fico!

abraços
www.tintapermanente.com

Ana Maria B disse...

Fantástico!
Só à segunda é que consegui ver...

Oris disse...

Já te tinha lido, mas naquele momento não foi possível comentar...

Sabes é sempre com muito interesse que leio as notícias que nos dás da quinta e dos trabalhos lá realizados.

Tens o dom da escrita e consegues cativar-nos logo nas primeiras palavras.

Espero que esteja tudo a correr bem e que a Carmen e a Rosa tenham melhorado.

:)))

Beijitos, Ana.

Ezul disse...

Que interessante relato! Também me fez lembrar as mezinhas que a minha avó aplicava aos animais, quando eles tinham qualquer problema. O azeite cru era milagroso!!!
:)

Bichodeconta disse...

Estou deveras emocionada com toda esta azáfama..A cadela está enorme e está sobretudo muito bonita, gosto de cães de grande porte.Toda a bicharada da quinta , isso é o paraíso, eu sei que dá muito trabalho, nasci e trabalhei no campo, sempre tive e quero ter contacto com a natureza..o Vídeo e a serenidade para o fazer..Ma uma história , a da ameixeira, dá-nos uma lição de vida e resistencia.Recusa-se a ser vencida pela intempérie.. Merece um abraço..Ai perdão, isto já são os meus disparates, adoro passar as mãos sobre o tronco das árvores como que a acariciá-las, mas são elas que me acariciam a mim ou pelo menos retribuem em dobro o meu abraço..Sinto uma energia enorme nos troncos, coisas de bichodeconta..Um beijinho, Ell

poetaeusou . . . disse...

*
a Quinta Dimensão
na Quinta !!
,
adorei, Ana,
,
reQUIMTAdas conchinhas, deixo,
,
*

bettips disse...

Já tinha lido a saga, na ocasião nem comentei. Toda a ternura humana para com animais é recompensada. Pela afectividade que te devem ter, esses bichos e essas plantas que quase falam...
Bjinho

bettips disse...

...ah e consegui ver o Milhas cerca da 23ª segunda imagem... o malandreco. Melhor mesmo é alimentá-lo "à mão" e já se vê que toda a família irá "ao restaurante" com frequência!

Rubi disse...

Que relato maravilhoso. Obrigada por partilhar. Beijinhos

puppiarte disse...

Olá!
Passei hoje pela 1º vez e adorei as histórias reais que partilha connosco e a sua devoção pelos animais. Vou passar por cá mais vezes, se permitir vou adicioná-la no meu blog e se lhe for possível e quizer passe pelo meu.
Um abraço e há-de ser compensada pelo seu esforço .

kuka disse...

Aqui eram as águias que me comiam os frangos. Cruzei alguns fios de pesca por cima do cercado das galinhas e foi o suficiente para as intimidar. Faziam voos picados e quando se apercebiam dos fios, levantavam novamente.

Manuel Luis disse...

É um mundo vivo a darem mais vida.
Recordo-me dos milhafres em Angola, faziam os vos rasantes sob as nossas cabeças e levavam os nossos pintos.
É a lei da natureza. Se caçam o que é deles, vem caçar o que roubamos na natureza.
Sinto-me em casa com um grande quintal e muito trabalho.
Abraço