Hoje senti muitas saudades tuas, Thor. Há já uns meses que fizemos a nossa última viagem. Deixaste de dormir no teu canil com os outros companheiros da matilha para viveres a meu lado, noite e dia, deitado na tua cama e atento a todos os meus movimentos dentro de casa. Julgo que foste muito feliz nessas últimas semanas em que finalmente pudeste guardar-me durante 24 horas. De manhã levantavas o focinho e acordavas-me com o beijinho de bons-dias. Eu arranjava-me em frente ao teu olhar vigilante e depois empurrava a tua cama até à porta para te ajudar a levantar e poderes sair, cheirar o ar e as ervas e fazeres as tuas necessidades em posições cada vez mais difíceis devido à amputação da pata. Poderiamos ter evitado essa operação mas o prognóstico era tão pessimista desde que te foi detectado o sarcoma ósseo, que para evitar abreviar-te a vida sem sabermos se seria cedo demais e esperançados na cirurgia e quimioterapia, resolvemos tentar tudo por tudo para te salvar. Recuperaste bem da intervenção e aprendeste a andar com as 3 patas, saltitante. A quimioterapia também não te deitou abaixo e viamos-te com ar sossegado, sem dores e feliz por estares perto de nós. Foram semanas de ligação diária muito forte. Passavas o dia deitado perto de mim, interessado em tudo o que eu fazia, dando uns suspiros de satisfação que me davam um grande bem estar. Á noite dava-te o jantar na cama e depois arrastava-a para o meu quarto para dormires ao meu lado. Sempre que acordava, perguntava-te baixinho: "Tudo bem, Thor?" E ouvia a cauda a responder alegremente. Mais tarde começaste a ressentir-te de uma das patas traseiras. Mudança de tratamento e melhoria nos movimentos. Mas foi sol de pouca dura. Uma noite ao virares-te na cama, não conseguiste virar o corpo por igual e acordei com os teus ganidos. Ajudei-te na posição mas percebi que tudo se estava a complicar. Todas as manhãs era um esforço enorme para mim e para ti, tirar-te da cama para te colocar no jardim. Passei a arrastar o cobertor contigo em cima, arrastando os teus 40 e tal quilos pela relva, tentando não magoar-te. Mas a dada altura já te queixavas de qualquer movimento e falei para o veterinário que foi muito claro: a partir dali não ia haver melhorias e irias passar a sofrer. Não era nada disso que queria para ti, meu amigo. Por isso preparei-te um pequeno almoço de leite com nestum que tu lambeste sôfrego de prazer. Pedi ajuda e metemos-te com a cama no carro. Ias satisfeito porque já tinhas percebido que a ida ao veterinário te melhorava sempre de qualquer mal-estar. Era um sábado cheio de sol. O médico e a menina ajudaram-me a levar-te para a marquesa. Puseram-te a soro. Todos falavamos contigo como sempre o fizemos e com muitas carícias. Sei que já consideravas aqueles profissionais como grandes amigos esperando sempre o biscoito de prémio. Estavas muito sereno, segundo o médico me disse depois de te ter auscultado. Abracei-te e pousaste a cabeça no meu braço como fazias sempre que iamos ao tratamento. Cantarolei baixinho uma cantiga de ninar. O médico começou a anestesiar-te e tu fechaste os teus olhos doces, suspiraste e partiste. Só nesse momento permiti-me chorar.
Adeus Thor! Tenho tantas saudades tuas
6 comentários:
Como compreendo toda a dor e carinho que expões neste texto... É profundamente comovente e belo. Bom seria, contudo, que a beleza prescindisse destes momentos.
O Thor tambem já foi....não sabia!
É a vida amiga, é a vida.. Ainda assim tomara que alguem escreva um texto tão bonito quando eu morrer como o que escreveste sobre ele.
Uma coisa é certa, Ana: o Thor agora não sofre. Tomaste a decisão certa. Pior do que sentir a morte é ver a dor de alguém (ou algo) que amamos.
Há outra coisa que aprendi na vida: aqueles que amamos e partem ficam sempre vivos no nosso coração. O Thor estará sempre no teu, logo, contigo.
Um beijo.
comovi-me
apesar de já conhecer esta comovente história de amor,não perdi uma vírgula do princípio ao fim dela.
Lamento muito. Uma amiga minha também perdeu um amigo como o Thor hoje e eu perdi um há alguns anos. Espero que como nos diziam em crianças haja também um céu para eles.
Um beijinho
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