2008-07-12

Visitando alfarrabistas

É sempre no Verão que nos afastamos mais da escrita e das visitas aos blogs que achamos mais interessantes.
É altura de levantar a batata, cebola e alhos da terra, de regar e sachar as hortas, colher feijão verde, courgettes, funcho, pepinos, aipo, rabanetes, alface, rucola, ameixas, nêsperas, morangos, maçãs (antes da devastação dos corvos e melros), fazer a rega com aspersores ao milharal, cortar a relva quase semanalmente para mantermos o jardim com melhor aspecto, fazer a segunda poda das alfazemas, regar e adubar os canteiros, cortar as flores secas para assim estimular a produção de muitas mais, tratar dos nossos animais, acompanhar os nascimentos na chocadeira, continuar o ensino aos cães mais jovens e muitas mais tarefas que agora nem nos ocorre. Além disso acompanhar familiares e amigos que aproveitam este período para nos visitar, ficando connosco por períodos mais ou menos longos o que nem sempre significa ter mais braços para ajudar :)))
Mas por vezes conseguimos libertar-nos das tarefas para nos afastar, assistir a alguns espectáculos, visitar alguns amigos, fazer alguns passeios…

Há duas semanas atrás fomos passar dois dias em Lisboa e aproveitámos para dar uma espreitadela nos alfarrabistas da Rua da Misericórdia.
Temos este gosto estranho de gostar do toque e do cheiro dos livros antigos.
Procurávamos livros da antiga Biblioteca dos Rapazes e Biblioteca das Raparigas para aumentar a nossa biblioteca que faz as delícias dos mais jovens que permanecem connosco nas férias escolares.
Havia poucos livros juvenis mas houve um que ao abrir nos deixou de imediato decididos a adquiri-lo. Chamava-se “as férias” e escrito pela condessa de Ségur, que tinha o nome de Sophie Feodorovna Rostopchine, nascida na Rússia em 1799 e tendo acompanhado seus pais no exílio para Paris onde viria a casar-se com o Conde Eugene Ségur. Começou a escrever aos 58 anos.


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Mas o que nos fez comprar este livro, foi o facto de ter o nome manuscrito da sua proprietária assim como o ano da posse.


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Não sabemos explicar o que nos encanta, de modo a não conseguirmos resistir a este tipo de “marcas”
Outra das aquisições foi um livro mais antigo chamado “ Manual do Jardineiro”

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e desta vez a compulsão foi por termos encontrado um montinho de pequenos recortes que o anterior dono/a do livro foi pacientemente coleccionando e guardando entre as suas páginas.

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Acreditem que sentimos um prazer imenso em manusear estes livros, ler lentamente cada recorte, ficar a admirar os sublinhados feitos a lápis no próprio livro. E principalmente, sentir que os adoptámos, desprezados por alguém que se decidiu pela sua venda por não encontrar neles qualquer interesse que justificasse a sua posse.
E por esta ou aquela razão acabámos por vir com um saco de 8 livros antigos. Agora só é preciso arranjar tempo para podermo-nos deleitar com uma leitura relacionada com costumes e práticas já esquecidas ou abandonadas por nós.
Talvez no Inverno sentados em frente da lareira durante as noites longas e frias.

22 comentários:

João Roque disse...

Que recordações da Condessa de Ségur, do cão Médor, que falava nas páginas dos livros, do que se passava à sua volta, de quem lhe fazia bem ou mal...
Belos tempos...
Beijinhos.

gintoino disse...

É delicioso saber q as coisas têm uma história, q já foram manusadas, utilizadas, habitadas por outras pessoas (um dos motivos pelo qual comprei uma casa antiga e insisti em a restaurar qdo todos me aconselhavam a demolir e fazer de novo). Se nos podessem contar tais histórias...
Q inveja desse "Manual do Jardineiro" ;-)
Bom Verão e boas colheitas

Ricardo disse...

Ora viva! Voltastes!
Faço idéia da faina diária nessa época, mas que bom que nos viesse um presente em meio a tanto trabalho.

Aqui no Brasil, como já te disse, as lojas de livros usados se chamam "sebos"; dizem uns que era por causa dos livros ensebados de mãos e pingos de vela das leituras noturnas...

Pois eu também tenho essa coisa de comprar um livro as vezes mais pelo detalhe que pelo conteúdo em si.

Na minha coleção do Monteiro LObato quase sempre existe em cada livro uma dedicatória para uma criança, pelos anos ou Natal. No mais das vezes essa criança cresceu, envelheceu e morreu, e lá se foram seus livros ao sebo.

Um grande beijo e obrigado pela bela crônica!

Fernando Vasconcelos disse...

Ora bem também gosto dessa sensação de percorrer um livro já muitas vezes lido, anotado, ... é pena raramente pensar em fazer o que aqui descreve. Certamente uma ideia a recordar mais vezes.

Paulo disse...

Uma delícia, esse livro da Condessa de Ségur.
Boas colheitas, Ana.

teresa g. disse...

E quem sabe partilham connosco algumas dicas do manual?! :)
Fica a curiosidade!

poetaeusou . . . disse...

*
eu tenho esse sagrado vicio,
pareço uma senhora em dia
de abertura de saldos,
a "cegueira" é tamanha que
escolho livros repetitivos,
outros para baixar o preço,
conpro 3 e 4 iguais,que ofereço
aos amigos,
,
obrigado Johann Gutemberg por
teres inventado a tipografia e
pelo prazer que me dás,
,
páginas de conchinhas, deixo,
,
*

coruja disse...

Gostei de ver o seu blog. Tem assuntos muito interessantes.
Também tenho um blog:
bonecos bonequinhos.blogspot.com
Um abraço

São

Espaço do João disse...

Olá Ana.
Eu sou um apaixonado pelos alfarrábios. Acontece que um dia destes andava a ver livros antigos e, deparei-me com um que pertenceu ao padrinho de minha mulher, que reconheci logo pela assinatura que ele aponha sempre nos seus livros. Este já tinha 125 anos. Foi uma pechincha e, versava sobre a ilha da Madeira.

Tongzhi disse...

Ainda há quem diga que a vida no campo é fácil...
Quanto aos Alfarrabistas, também os adoro visitar. O pior é que me perco... se é que me entendes!!!
Tenho livros muito interessantes comprados num, que já não existe, para essa zona em que andaste.

Rubi disse...

Que post delicioso. Gostaria de ler esse das ferias :) Muitos beijinhos

fernanda sal m. disse...

Ana, é sempre um prazer dos simples e gratos ler as tuas histórias. Tenho andado longe destes lugares, como já deves ter notado.Mas voltei agora aqui antes de me ir deitar, sem muito tempo livre pois já cá tenho 2 das minhas netas a quem vem fazer companhia ao fim da tarde o meu neto mais novo, o "oitavinho" como lhe chamo, por ser o oitavo ( os outros estão em stand-by para virem também ( é como dizes: os braços são sempre os mesmos para trabalhar...- os meus e os da empregada que só vem de manhã, há 20 e tal anos...). Esta tua publicação enterneceu-me pela coincidência: andei há pouco tempo a "limpar" prateleiras antigas e encontrei os "meus" livros da colecção da "Condesssa de Ségur" que fizeram as minhas delícias naquela época . Encontrei também livros da colecção dos rapazes que foram, uns do meu irmão e outros do meu marido. Limpei-os, e arrumei-os, pensando lê-los ou dá-los a ler às minhas 5 netas e 3 netos. Alguns já ultrapassaram a idade de se interessarem por eles, mas outra idade deles virá em que o interesse por esses livros será outro e diferente, espero. Alguns dos meus são em francês, pois foram-me oferecidos pela minha primeira professora de francês, antes de, muito antes de entrar para o liceu: uma amiga de meus Pais, que mos ofereceu da própria biblioteca e com dedicatória. Há uns anos, de férias numa pequena vila francesa perdida no Mèdoc, no meio das vinhas, próxima do mar, fui ao correio enviar uns postais e encontrei uma colecção de selos com a colecção das meninas exemplares. Comprei alguns e devo tê-los guardados. Vou ver se tenho tempo de os encontrar e enviar-tos digitalizados, assim como as capas e folhas dos livros que tenho.
Calcula o que me vieste recordar. Tanta coincidência boa, ainda que já de um tempo perdido.
por isso, ai vai um beijo grande !

Ana Maria B disse...

Fantástico!
Li esse livro das férias quando era pequena. Fiquei com a ideia de um ambiente um bocado elitista, meninos do campo versus meninos da cidade, mas já não tenho a certeza.
O manual de jardinagem tb me parece muito interessante, esperamos algumas dicas vindas de lá...

redonda disse...

Em criança li os livros da Condessa de Ségur, mas não me lembro desse. Ao ler este post fiquei com vontade de ir também visitar Alfarrabistas!

eu disse...

Gostei muito de ler este seu "post". Não tenho por hábito comprar em alfarrabistas mas guardo alguns livros muito antigos que vão passando pela família. Esses livros contam-nos muitas histórias para além do que está impresso...

Abraço

Anónimo disse...

Creio que os livros tinham algo de mágico quando ainda existia essa coisa das bibliotecas das raparigas e dos rapazes... Os rapazes liam Emilio Salgari mas sempre iam espreitando no imaginário da Condessa - e com as raparigas, vice-versa. Hoje, os livros são assexuados. Politicamente correcto. Mas retira-lhes algum carácter biológico - eram entidades tão vivas que até "sexo" tinham... hoje, são papel e design.

Anónimo disse...

Faz tempo que por cá não passava...
Fica um beijinho... como é logo? Vamos ver os Cubanos e os polacos :) ?

Até logo

Maria Cristina Amorim disse...

Também sou uma apaixonada por livros ...
a horta dá um trabalhão mas compensa .
beijos.

Oris disse...

Desculpa, Ana.
Tenho passado por aqui para te ler e os comentários...ficam na ponta dos dedos....:)

Grande azáfama que vai aí pela quinta...e as crianças devem adorar todas essas tarefas.

Lembro-me dos livros da Condessa de Ségur. Foi leitura obrigatória nos meus tempos de colégio...As freiras poucas escolhas nos davam....

Dá-nos uma sensação especial o manuseamento de livros que sabemos que já foram lidos e mexidos por outros...

Beijitos, Ana.

catrineta disse...

Que livros interessantes.
Condessa de Ségur é da minha infância, mas esse é especial.
Fico a pensar que histórias esse livro nos contaria,se pudesse...
O Manual do Jardineiro cheio de recortes, faz-me lembrar o livro de cozinha que pertenceu à minha Mãe. "O Tesouro das Cozinheiras",
cheio de recortes de receitas e apontamentos à mão.
Bom trabalho.
Beijos

bettips disse...

Compulsão com emoção... Os livros da Colecção Azul: tenho um velhinho "Novos Contos de Fadas" que infelizmente não tem data de edição. Não é meu que poucos livros me compravam nessa altura, de alguém ficou emprestadado. Mas com todo o orgulho e devoção, nos anos 70/80 comprei toda a colecção - e a dos "cinco" - para o meu filho. E que bom relê-los ao deitar, adormecendo-o!
E sim...os livros, velhinhos de amados!
Bj

Bichodeconta disse...

Pois é amiga, para muitas pessoas isso era lixo , na hora..Porque a sensibilidde falta e não há nada a fazer.. Mas tu és uma pessoa muito especial, não tenho dúvida em o afirmar..O amor com que fala das coisas da terra é a prova disso..