Hoje de manhã fizemos a cresta do mel e há pouco terminámos a extracção, filtragem e armazenamento. O ano passado apenas tinhamos uma colmeia e este ano pelo facto de termos adquirido mais duas, pensavamos que a produção iria ser muito maior. Mas tal não se verificou.Quase todos os apicultores da zona se queixam da elevada quebra de produção que ao que parece terá a ver com os gigantescos incêndios que devastaram toda esta zona no ano passado. Se se conseguiu salvar as abelhas, o mesmo não foi possível em relação às matas que protegiam e permitiam a recolha do pólen. Mas o que interessa agora é que o assunto do mel já está resolvido (ou averiguado como se diz por aqui). Agora tornam-se a colocar as alças nas colmeias para as abelhas aproveitarem os restos de mel que ficaram agarrados aos favos e depois recolhem-se e guardam-se até à Primavera, para os ninhos se poderem defender melhor do frio do Inverno.
Poderia agora descansar destas proezas amadoras e aproveitar as tardes de calor agreste para actualizar as minhas leituras, ouvir alguma coisa do que se anda por aí a fazer ou ver um ou outro dvd que vou armazenando à espera de tempo. Mas ainda não vai ser desta.
O celeiro está cheio de maçãs que tenho andado a apanhar paulatinamente, teimosamente, ao despique com os ouriços-caixeiros que esperam escondidos pela noite para se banquetearem com elas. Mas são tantas, que dá para todos e ainda sobra.
São deliciosas. Um prazer para os sentidos. Têm uma casca muito fina e macia, de cor bem vermelha que se torna brilhante ao ser acariciada e exalando um perfume doce que activa a secreção das glândulas salivares. Muito sumarentas e com aquele travozinho de acidez que se mescla na perfeição com o sabor açucarado da polpa. Não sei que qualidade é, porque não a vejo nos mercados. Com este calor, é um prazer comê-las à dentada, bem frias. Mas também as passo na máquina para fazer sumo, juntando um pouco de água e sumo de limão para liquefazer, uma colherada de açúcar, engarrafo e guardo no frigorífico para ir bebendo à medida que a sede aperta. Tenho uma panelada delas cozidas para comer ao pequeno almoço ou lanche. Tenho potinhos com doce de maçã aos quais juntei nozes raladas nuns, amêndoas raladas noutros ou simplesmente aromatizado com canela noutros. Uso maça aos cubinhos nas saladas verdes. Faço couve roxa estufada com maçã (Rot Khol) para alguns acompanhamentos. E todos os bolos e tartes acabam por levar pedaços do mesmo fruto. Palavra que já não sei mais o que fazer. Um colega contou-me que a mãe cortava a maçã ás rodelas, depois enfiava-as num cordel e punha a secar. E eles comiam essas rodelas de maçã desidratada quase todo o ano. Já experimentei mas não tive sorte nenhuma. Encheram-se de mosquitos e apodreceram num instante.
Até que dei de caras com o site "Pour en savoir plus" do sr Massart. Trocámos mails e foi tal o entusiasmo e a gentileza deste senhor que resolvemos avançar para outra proeza: fazer cidra!
E esta tarde estamos a preparar todo o material necessário para começar esta tarefa interessante para quem gosta de repetir gestos ancestrais embora adoptando toda uma série de preceitos muito actuais.
Vamos ter que esmagar as maçãs num aparelho de metal próprio, prevenindo-nos (ainda não sei bem como) contra uma coisa chamada casse férrica, que é um gosto a ferro que a cidra pode ganhar, uma vez que o ácido málico da maçã ataca o metal. Depois de serem esmagadas e ficarem a descansar umas horas, têm que ser prensadas e guardado o sumo extraído, por uma semana até aparecer uma espuma castanha a cobrir o líquido. Se for castanha é porque estamos no bom caminho. Se for branca, temos que desistir da cidra e avançar então para a aguardente ou para o vinagre de maçã. A preocupação maior é a temperatura que está demasiadamente alta. O sr Massart trabalha com 4º.C e o nosso melhor depois de termos a zona refrigerada com um aparelho de ar condicionado, são os habituais 18º.C .
Mas se têm curiosidade em provar um copo de cidra, ou se querem matar saudades dos países por onde passaram e que fazem cidra de uma forma artesanal, então desejem-nos sorte. Vamos precisar. E de muita.
Poderia agora descansar destas proezas amadoras e aproveitar as tardes de calor agreste para actualizar as minhas leituras, ouvir alguma coisa do que se anda por aí a fazer ou ver um ou outro dvd que vou armazenando à espera de tempo. Mas ainda não vai ser desta.
O celeiro está cheio de maçãs que tenho andado a apanhar paulatinamente, teimosamente, ao despique com os ouriços-caixeiros que esperam escondidos pela noite para se banquetearem com elas. Mas são tantas, que dá para todos e ainda sobra.
São deliciosas. Um prazer para os sentidos. Têm uma casca muito fina e macia, de cor bem vermelha que se torna brilhante ao ser acariciada e exalando um perfume doce que activa a secreção das glândulas salivares. Muito sumarentas e com aquele travozinho de acidez que se mescla na perfeição com o sabor açucarado da polpa. Não sei que qualidade é, porque não a vejo nos mercados. Com este calor, é um prazer comê-las à dentada, bem frias. Mas também as passo na máquina para fazer sumo, juntando um pouco de água e sumo de limão para liquefazer, uma colherada de açúcar, engarrafo e guardo no frigorífico para ir bebendo à medida que a sede aperta. Tenho uma panelada delas cozidas para comer ao pequeno almoço ou lanche. Tenho potinhos com doce de maçã aos quais juntei nozes raladas nuns, amêndoas raladas noutros ou simplesmente aromatizado com canela noutros. Uso maça aos cubinhos nas saladas verdes. Faço couve roxa estufada com maçã (Rot Khol) para alguns acompanhamentos. E todos os bolos e tartes acabam por levar pedaços do mesmo fruto. Palavra que já não sei mais o que fazer. Um colega contou-me que a mãe cortava a maçã ás rodelas, depois enfiava-as num cordel e punha a secar. E eles comiam essas rodelas de maçã desidratada quase todo o ano. Já experimentei mas não tive sorte nenhuma. Encheram-se de mosquitos e apodreceram num instante.
Até que dei de caras com o site "Pour en savoir plus" do sr Massart. Trocámos mails e foi tal o entusiasmo e a gentileza deste senhor que resolvemos avançar para outra proeza: fazer cidra!
E esta tarde estamos a preparar todo o material necessário para começar esta tarefa interessante para quem gosta de repetir gestos ancestrais embora adoptando toda uma série de preceitos muito actuais.
Vamos ter que esmagar as maçãs num aparelho de metal próprio, prevenindo-nos (ainda não sei bem como) contra uma coisa chamada casse férrica, que é um gosto a ferro que a cidra pode ganhar, uma vez que o ácido málico da maçã ataca o metal. Depois de serem esmagadas e ficarem a descansar umas horas, têm que ser prensadas e guardado o sumo extraído, por uma semana até aparecer uma espuma castanha a cobrir o líquido. Se for castanha é porque estamos no bom caminho. Se for branca, temos que desistir da cidra e avançar então para a aguardente ou para o vinagre de maçã. A preocupação maior é a temperatura que está demasiadamente alta. O sr Massart trabalha com 4º.C e o nosso melhor depois de termos a zona refrigerada com um aparelho de ar condicionado, são os habituais 18º.C .
Mas se têm curiosidade em provar um copo de cidra, ou se querem matar saudades dos países por onde passaram e que fazem cidra de uma forma artesanal, então desejem-nos sorte. Vamos precisar. E de muita.
2 comentários:
Gostei da tua sabedoria acerca das maças e de tudo que podes e tencionas fazer com elas.
Ainda bem que tens tanto com que ocupar o espirito e o corpo!
Eu estou a bater no fundo...telemóveis desligados e o telefone nem o oiço.
Não estou em condições fisicas nem morais de conviver com ninguém.
A unica coisa boa é dormir...
Isto há-de passar!
Beijos.
A temperatura a que o líquido é guardado pode ter, também, alguma influência. Vou averiguar. Talvez não seja por acaso que a sidra é aqui feita especialmente na Camacha e Santo da Serra, locais que, para além de muito mais frios que o resto da ilha, têm nevoeiros frequentes. Será que a humidade também interfere no processo?
Dizes uma coisa sobre o metal ser atacado pela maçã. Talvez seja por isso que, aqui, a maçã é pisada com os tais tacos de madeira. No último fim-de-semana de Outubro realiza-se, na Camacha, a festa da maçã. Vou ver se consigo lá ir para recolher todos os elementos de que precisas. Lembro-me, no entanto, que quando lá fui um dia, a essa festa, os homens esmagavam a maçã num género de magedoura de pequena dimensão. Um metro de comprido, quanto muito. Não me recordo é do material dessa "mangedoura". Vou informar-me se é de madeira, também, ou se é de cimento. Metálico tenho a certeza que não era!
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