A processionária (Thaumetopea Pityocampa) é uma lagarta que se alimenta das agulhas dos pinheiros mas também de outras resinosas. Dos ovos depositados no cimo da copa das árvores, nascem as lagartas que fabricam um ninho onde se refugiam em grupo no seu interior aquecido defendendo-se das intempéries de Inverno. Os ninhos, com a aparência de um volume branco de algodão, são infelizmente conhecidos por todos os que costumam passear em zonas de pinhais. No início do ano e mais ou menos até Março, as lagartas abandonam-nos, descem as árvores, sempre em procissão (daí o nome de processionária) e deslocam-se até encontrarem um sítio para se enterrarem e darem início à nova fase que culminará na forma de borboleta que irá pôr de novo ovos no alto das copas dos pinheiros, fechando o ciclo. Toda esta evolução não seria interessante relatar não fossem as processionárias umas lagartas perigosíssimas para a saúde.
Este ano foi o mais terrível em relação a esta praga. Não sei se terá a ver com as poucas chuvas de Inverno que não destruiram uma grande parte destes ninhos demasiado expostos às tempestades ou devido aos incêndios que diminuiram drasticamente a mancha florestal. O que sei é que devo ter esmagado milhares e milhares destas lagartas, ao ponto de ter que ter muito cuidado para não patinar a seguir. Víamos as enormes procissões por todo o lado e quando se remexia a terra encontrava-se frequentemente um pequeno grupinho ou alguma solitária a pretender enterrar-se no solo húmido. Um dos nossos cães apareceu a espumar e a esfregar o focinho em todo o lado, de uma maneira aflitiva. Telefonei ao veterinário que me aconselhou a levá-lo o mais urgentemente possível. Examinou-o e concluiu ter havido contacto do cão com a lagarta. Deu-lhe os medicamentos do costume nestas circunstâncias: corticóides e antibiótico e avisou-me que se ele tivesse engolido a lagarta talvez não se pudesse fazer nada para o salvar. Passámos uma noite de preocupação mas de manhã o animal estava melhor e, quando o tornei a levar à clínica estiveram a ver-lhe a boca e a língua e felizmente estava tudo bem. Os pêlos desta lagarta são de tal maneira urticantes que o contacto com as mucosas pode dar origem ao apodrecimento dos tecidos e à necessidade da ablação das beiças ou língua. Dias depois foi um borrego também com o mesmo comportamento. Resolvemos lavar-lhe a boca com vinagre. O animal escapou mas ficou sem uma parte do beiço superior que caíu sem ninguém dar por isso. Começámo-nos a assustar ao apercebermo-nos da dimensão do risco para as pessoas, principalmente as crianças que são muito mais curiosas. É que os pêlos destas lagartas que se vão soltando enquanto elas se deslocam também podem afectar os humanos provocando necroses, problemas respiratórios, digestivos, cegueira e em casos mais graves levar até à morte. Entretanto as lagartas desapareceram. Fomos obtendo mais informações sobre o assunto e ficámos a conhecer todo o ciclo da processionária. Como as borboletas começam a postura entre Junho e Agosto, procurámos saber que acções é que existiam para controle da praga. Havia uma série delas desde as fitas adesivas a contornarem o tronco das árvores para evitar a descida das lagartas, à aplicação de insecticidas, a poda dos ramos com ninhos e até tiros de caçadeira (dirigidos aos ninhos, claro!). Resolvemos optar por umas armadilhas, caixas de plástico, onde colocámos umas pastilhas de feromonas (para atrair a borboleta macho) e pendurámo-las nos pinheiros, distanciadas o necessário para um bom efeito, cumprindo o aconselhado no prospecto. De tempos a tempos vamos espreitar essas caixas e encontramos umas 20 a 40 borboletas já mortas, graças ao insecticida que também se encontra dentro da armadilha.
Vamos a ver se se nota alguma diminuição da praga a partir de Fevereiro do próximo ano.
7 comentários:
Pois é amiga, já conhecia a história dessas lagartas horrorosas atravez dos noticiários quando em algumas escolas as criancinhas ficaram cheias de alergias devido às mesmas e também tu me contaste acerca do que aconteceu aos teus animais.
Por aqui já tenho visto a "pocissão" delas junto a uma quintarola que tem muitos pinheiros, só espero que não venha a contecer o mesmo no pinheiro que tenho a desenvolver-se na vivenda e que foi semeado ou plantado pelo meu saudoso pai. Gostava de saber como posso verificar se é pinheiro bravo ou manso. Fico à espera da tua ajuda.
Por acaso, quando era pequeno, era frequente que as crinaças bincassem com as filas de lagartas, obrigando a lagarta da frente a encontrar a extremidade posterior da lagarta que ocupasse o fim da fila. A procissão tornava-se, então, num círculo sem fim e sem destino, acabando as pavorosas criaturas por morrerem empilhadas. Mas creio que é, de facto, preferível optar por meios menos sádicos para o controlo da praga...
Peço perdão: crinaças não, crianças.
Obrigada pela sua visita, Manuel. Estava com a impressão que já o conhecia e não sabia de onde. Só há pouco é que me lembrei da história dos fedelhos e da essência concentrada dos coentros. Aqui no norte são poucos os que apreciam o aroma desta erva. Dizem-me que lhes cheira a formigas. Depois de ler os vossos comentários fiquei a pensar que possivelmente é uma atenção que têm comigo para não dizerem que a comida lhes cheira a percevejos :)))))))))
Um abraço
É verdade que a maioria dos nortenhos limitam-se a usar, como ervas aromáticas, salsa e louro. Mas noto, há algum tempo para cá, que os coentros, a hortelã - e até os poejos! - vão conquistando admiradores. O conservadorismo do norte de Portugal reside, em grande parte, na oclusão das papilas gustativas a outros sabores e a outros cheiros. No sul, parece-me, as línguas e os narizes sabem apreciar melhor a variedade e a novidade. Mas isso é conjuntural. Daqui a um século, aposto que os rojões minhotos terão, obrigatoriamente, coentros picados! :)
E então: a cidra bebe-se?
Finalmente, conseguí lo que estaba buscando! Sin duda disfrutando cada pedacito de ella. Me alegro de haber tropezado con este artículo! sonrisa Yo los he salvado de ver cosas nuevas lo que escribes.
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