Fomos visitar Figueiredo das Donas pertencente ao concelho de Vouzela. Tirámos várias fotos às ruínas de uma casa senhorial e a seguir fomos procurar a via romana que liga Carregal, Figueiredo das Donas, Bandavises e Fataúnços que foi o que motivou a nossa visita. Este troço fazia parte de uma estrada romana que ligava a cidade (civitas) de Viseu ao litoral. O caminho estava em muito bom estado e ainda era utilizado pelos locais nas suas deslocações. Tinha uns 3 metros de largura e como era costume nestas zonas, devido à abundância, era calcetado com o aproveitamento das rochas de granito que emergiam da terra.
Estavamos sentados num murete (muito mais recente) a usufruir do perfume do ar e do silêncio quando reparámos neste crocus que luzia por entre a folhagem. Perguntámo-nos se seria um Crocus sativus ou um Crocus autumnale, que é como quem diz um Colchicum autumnale. Não chegámos a conclusão nenhuma pois não somos nenhuns entendidos. Mas talvez a segunda hipótese. O Crocus sativus, já conhecido e usado pelos gregos e romanos, é donde se extrai o verdadeiro açafrão a partir dos estigmas e estiletes secos da flor, percebendo-se a razão de ser do seu preço elevadíssimo. Digo verdadeiro açafrão porque o que costumamos comprar a um preço acessível é feito a partir do rizoma de uma planta da família do gengibre e por isso de cor amarelada enquanto que o verdadeiro é vermelho alaranjado.
E este post terminaria aqui, se não tivéssemos andado a pesquisar outras informações sobre a origem de Figueiredo das Donas. Ficámos a saber que as ruínas às quais tirámos algumas fotos, tinham a seguinte história:
No séc. VIII, um cavaleiro chamado Guesto Ansur e natural da zona de Lafões, juntamente com outros cavaleiros, tentaram libertar 6 donzelas que levadas pelos mouros iam ser entregues ao Emir de Córdova, fazendo parte de um pacto em que este emir receberia 100 donzelas todos os anos. O confronto deu-se num figueiral ou figueiredo, tendo o cavaleiro Ansur continuado a luta com uma pernada de figueira ao ficar sem a sua espada. Os mouros acabaram por fugir deixando as donzelas. Daí o nome de Figueiredo das Donas. Ansur acabou por casar com uma delas que já seria sua noiva e construíram um paço: as ruínas fotografadas.
No site Figueiredo das Donas encontrámos uma cantiga de amor supostamente escrita por Ansur e dedicada à sua amada:
No figueiral figueiredo
a no figueiral entrey,
seis ninas encontrara
seis ninas encontrey
para ellas andára
para ellas andey
lhorando as achára
lhorando as achey
................
las ninas furtára
las ninas furtey
La que a mi falára
nalma la chantey
16 comentários:
Foi bom ler-te, assim, nesta manhã de temporal!
Um beijo e votos de Bom fim de semana!
O que eu aprendo por aqui!
Beijos
Será destes aqui (http://flickr.com/photos/26326782@N00/190172963/in/photostream/) que se retira o açafrão verdadeiro? Tenho de ver... Belas imagens do Paço.
Continuo a vir até aqui...e não é que aprendo sempre mais qualquer coisa!!??
Beijinho com desejos de bom fim de semana.
Tenho que voltar a passear por Viseu e arredores
em relação ao crocus, deve ser o C. autumnale. O C. sativus, salta à vista os estames mais compridos e vermelhos ao centro
O açafrão da terra, como às vezes é chamado vem da planta Curcuma spp.
Lindo sítio. A planta é bela. Não sabia que era assim que se fazia o açafrão.
Muito bem!
Até ao próximo post!
tem graça , este monumento parece um outro do mesmo estilo, mas mais com sefosse uma Torre , cujas ruinas ficam no distrito da Guarda,, na zona de Manteigas
beijinhos
Aaaahhh!!!... crocus sativos igual a açafrão!.... já podias ter dito. Que raio de nomes tu sabes… chega aqui um “ignorantis natus” e não percebe nada disto.
Fala mas é como gente e não como os gregos e os romanos que tu conheces.
Quanto ao Emir de Córdova, não sei qual era a ideia dele?!... 100 donzelas???... Para quê?... eu tenho uma que já me dá cabo do juízo; mas se juntar a isso mais 100 sogras é de endoidecer. Estes Árabes são doidos.
Boa noite Ana,
Pois fique sabendo que brevemente este Paço de Figueiredo das Donas será recuperado, como merece, depois de tantos anos de abandono. Estou a concluir o processo de aquisição e em breve começarei com as obras. Se ainda mantiver o blog virei aqui convidá-la para a inauguração, como forma de agradecer o seu interesse por esta pequena percela de história.
António Cardoso
Conheço bem este sitio pois foi nesta freguesia que eu nasci,em Real das Donas,fico contente em saber que o Sr Antonio Cardoso tem intenções de recuperar estas ruinas força e parabens.
Boa noite Ana! Foi com bastante agrado que encontrei no seu blog informação tão interessante sobre Figueiredo das Donas! A minha mãe nasceu nesta linda aldeia! Bons momentos passamos nestes locais que aqui descreve! Muito obrigada
ola antonio cardoso fico contente por as obras que iniciastes pois e mais uma obra que se pode recuperar nao so como obra mas sim como um pouco da nossa historia forca um bom natal e felizano novo leonel sousa
Sr. Antonio Cardoso:
Gostaria muito de participar igualmente na inauguração. Sou Lisboeta mas estou neste momento a construir a minha casa no centro de Figueiredo das Donas. Contrariamente ao pessoal da minha geração que saturam as cidades vou-mem instalar no interior com a minha familia. Ha que aproveitar o melhor do nosso Pais e ser fiel as nossas origens...Abraço a todos!
Sou decendente dos figueiredos, ha pouco tempo tive acesso a uma copia desta historia.
As imagens que vejo daquilo que chamam "Paço da Torre" é de facto uma recuperação. Uma "recuperação" de património histórico e cultural num negócio (subtração cultural, portanto). Necessitava de facto de obras. Mas necessitava de obras de conservação e não de nenhuma transformação. Neste momento, o Paço já não existe! E chama-se a isto recuperação. Enfim...só mesmo em Portugal é que se vê deste tipo de situações.
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