2006-11-24

Figueiredo das Donas e o crocus romano

Posted by Picasa







Fomos visitar Figueiredo das Donas pertencente ao concelho de Vouzela. Tirámos várias fotos às ruínas de uma casa senhorial e a seguir fomos procurar a via romana que liga Carregal, Figueiredo das Donas, Bandavises e Fataúnços que foi o que motivou a nossa visita. Este troço fazia parte de uma estrada romana que ligava a cidade (civitas) de Viseu ao litoral. O caminho estava em muito bom estado e ainda era utilizado pelos locais nas suas deslocações. Tinha uns 3 metros de largura e como era costume nestas zonas, devido à abundância, era calcetado com o aproveitamento das rochas de granito que emergiam da terra.
Posted by Picasa
Estavamos sentados num murete (muito mais recente) a usufruir do perfume do ar e do silêncio quando reparámos neste crocus que luzia por entre a folhagem. Perguntámo-nos se seria um Crocus sativus ou um Crocus autumnale, que é como quem diz um Colchicum autumnale. Não chegámos a conclusão nenhuma pois não somos nenhuns entendidos. Mas talvez a segunda hipótese. O Crocus sativus, já conhecido e usado pelos gregos e romanos, é donde se extrai o verdadeiro açafrão a partir dos estigmas e estiletes secos da flor, percebendo-se a razão de ser do seu preço elevadíssimo. Digo verdadeiro açafrão porque o que costumamos comprar a um preço acessível é feito a partir do rizoma de uma planta da família do gengibre e por isso de cor amarelada enquanto que o verdadeiro é vermelho alaranjado.
E este post terminaria aqui, se não tivéssemos andado a pesquisar outras informações sobre a origem de Figueiredo das Donas. Ficámos a saber que as ruínas às quais tirámos algumas fotos, Posted by Picasa tinham a seguinte história:

No séc. VIII, um cavaleiro chamado Guesto Ansur e natural da zona de Lafões, juntamente com outros cavaleiros, tentaram libertar 6 donzelas que levadas pelos mouros iam ser entregues ao Emir de Córdova, fazendo parte de um pacto em que este emir receberia 100 donzelas todos os anos. O confronto deu-se num figueiral ou figueiredo, tendo o cavaleiro Ansur continuado a luta com uma pernada de figueira ao ficar sem a sua espada. Os mouros acabaram por fugir deixando as donzelas. Daí o nome de Figueiredo das Donas. Ansur acabou por casar com uma delas que já seria sua noiva e construíram um paço: as ruínas fotografadas. Posted by Picasa














No site Figueiredo das Donas encontrámos uma cantiga de amor supostamente escrita por Ansur e dedicada à sua amada:

No figueiral figueiredo
a no figueiral entrey,
seis ninas encontrara
seis ninas encontrey
para ellas andára
para ellas andey
lhorando as achára
lhorando as achey
................
las ninas furtára
las ninas furtey
La que a mi falára
nalma la chantey

16 comentários:

Anónimo disse...

Foi bom ler-te, assim, nesta manhã de temporal!
Um beijo e votos de Bom fim de semana!

Maria disse...

O que eu aprendo por aqui!
Beijos

Anónimo disse...

Será destes aqui (http://flickr.com/photos/26326782@N00/190172963/in/photostream/) que se retira o açafrão verdadeiro? Tenho de ver... Belas imagens do Paço.

Flôr disse...

Continuo a vir até aqui...e não é que aprendo sempre mais qualquer coisa!!??
Beijinho com desejos de bom fim de semana.

Anónimo disse...

Tenho que voltar a passear por Viseu e arredores

em relação ao crocus, deve ser o C. autumnale. O C. sativus, salta à vista os estames mais compridos e vermelhos ao centro

O açafrão da terra, como às vezes é chamado vem da planta Curcuma spp.

Fénix disse...

Lindo sítio. A planta é bela. Não sabia que era assim que se fazia o açafrão.

João Navarro disse...

Muito bem!
Até ao próximo post!

Anónimo disse...

tem graça , este monumento parece um outro do mesmo estilo, mas mais com sefosse uma Torre , cujas ruinas ficam no distrito da Guarda,, na zona de Manteigas
beijinhos

Besnico di Roma disse...

Aaaahhh!!!... crocus sativos igual a açafrão!.... já podias ter dito. Que raio de nomes tu sabes… chega aqui um “ignorantis natus” e não percebe nada disto.
Fala mas é como gente e não como os gregos e os romanos que tu conheces.
Quanto ao Emir de Córdova, não sei qual era a ideia dele?!... 100 donzelas???... Para quê?... eu tenho uma que já me dá cabo do juízo; mas se juntar a isso mais 100 sogras é de endoidecer. Estes Árabes são doidos.

Anónimo disse...

Boa noite Ana,
Pois fique sabendo que brevemente este Paço de Figueiredo das Donas será recuperado, como merece, depois de tantos anos de abandono. Estou a concluir o processo de aquisição e em breve começarei com as obras. Se ainda mantiver o blog virei aqui convidá-la para a inauguração, como forma de agradecer o seu interesse por esta pequena percela de história.
António Cardoso

Anónimo disse...

Conheço bem este sitio pois foi nesta freguesia que eu nasci,em Real das Donas,fico contente em saber que o Sr Antonio Cardoso tem intenções de recuperar estas ruinas força e parabens.

Anónimo disse...

Boa noite Ana! Foi com bastante agrado que encontrei no seu blog informação tão interessante sobre Figueiredo das Donas! A minha mãe nasceu nesta linda aldeia! Bons momentos passamos nestes locais que aqui descreve! Muito obrigada

Anónimo disse...

ola antonio cardoso fico contente por as obras que iniciastes pois e mais uma obra que se pode recuperar nao so como obra mas sim como um pouco da nossa historia forca um bom natal e felizano novo leonel sousa

Tiago Out disse...

Sr. Antonio Cardoso:

Gostaria muito de participar igualmente na inauguração. Sou Lisboeta mas estou neste momento a construir a minha casa no centro de Figueiredo das Donas. Contrariamente ao pessoal da minha geração que saturam as cidades vou-mem instalar no interior com a minha familia. Ha que aproveitar o melhor do nosso Pais e ser fiel as nossas origens...Abraço a todos!

Leonardo figueiredo disse...

Sou decendente dos figueiredos, ha pouco tempo tive acesso a uma copia desta historia.

Anónimo disse...

As imagens que vejo daquilo que chamam "Paço da Torre" é de facto uma recuperação. Uma "recuperação" de património histórico e cultural num negócio (subtração cultural, portanto). Necessitava de facto de obras. Mas necessitava de obras de conservação e não de nenhuma transformação. Neste momento, o Paço já não existe! E chama-se a isto recuperação. Enfim...só mesmo em Portugal é que se vê deste tipo de situações.