Numa destas tardes em que passeávamos na mata com as crianças, encontrámos um escaravelho enorme que tinha um cornicho na cabeça.
Verdade seja dita que nunca tínhamos visto um escaravelho com este aspecto e com estas dimensões e, como podem ver, perfeitamente pacífico.
Resolvemos levá-lo para casa para a habitual sessão fotográfica e no caminho pedi aos miúdos para lhe darem um nome adequado. Todos escolheram o de Escaravelho-Rinoceronte dando origem a uma risota pegada com direito a canção e tudo.
Depois das fotos, guardámos o pachorrento escaravelho numa caixinha para o devolvermos à natureza no mesmo local onde o tínhamos recolhido e fomos fazer algumas pesquisas na Net no intuito de aprendermos alguma coisa com o bicharoco.
Foi uma enorme surpresa quando constatámos que este escaravelho é mesmo conhecido por Escaravelho-Rinoceronte tendo o nome científico de Oryctes nasicornis pertencente à ordem Coleóptera e à família Dynastidae.
Ficámos também a saber que estávamos perante um macho, havendo uma nítida diferença entre macho e fêmea, conhecida por diformismo, em que a fêmea não possui um cornicho da mesma dimensão que o macho mas sim uma saliência bastante reduzida.
O acasalamento é feito debaixo de terra e as fêmeas põem os ovos sobre madeira podre ou outro material vegetal em decomposição.
As larvas eclodem após duas semanas de incubação e passam um ano a crescer e a comer matérias vegetais em putrefacção. Na Primavera seguinte transformam-se em pupas. No final do Verão o insecto já adulto mantém-se no casulo até à Primavera seguinte.
O ciclo completo de desenvolvimento dura entre 2 e 4 anos em cativeiro, à temperatura de 25º.
Os escaravelhos adultos surgem entre Março e Maio, vivendo até o próximo Outono e não procuram comida uma vez que consomem, no pouco tempo que têm de vida, as reservas alimentares acumuladas durante a sua fase larvar.
Podem ser vistos ao fim da tarde ou pela noite, nos meses de Junho e Julho quando saem dos seus esconderijos procurando companheiro/a, sendo muitas vezes atraídos pelos focos de luz.
Devido ao formato do seu corpo, se caírem de patas para o ar, dificilmente conseguem virar-se tornando-se numa presa fácil para as formigas.
A propósito de escaravelhos, lembrei-me depois de um colar que um familiar me trouxe do Egipto e que é formado por várias peças com formato de pequenos escaravelhos e em que uma delas é de maior dimensão e com mais pormenor.
Depois das consultas feitas para escrevermos este post, soubemos que se trata do um amuleto muito estimado no Antigo Egipto, representando o Escaravelho-do-Estrume, pertencendo à família Scarabaeidae (escarabídeos) por se alimentarem de fezes e existindo uma imensa variedade com vários tamanhos e cores.
Ainda hoje é um insecto extremamente útil porque ao acumular bolas de esterco, principalmente de animais herbívoros que arrasta para a sua toca a cerca de metro e meio de profundidade, consegue arejar e enriquecer o solo com nutrientes do estrume, evitando também o aumento de moscas.
À fêmea compete escavar a toca enquanto o macho carrega as bolas de estrume empurrando com as patas traseiras. Quando tem tudo preparado, a fêmea deposita os ovos no estrume armazenado, sendo alimento garantido para as suas larvas ao nascer.
No Baixo Egipto, o deus-sol era retratado sob várias formas, em que uma delas era a de um Escaravelho-do-Estrume, simbolizando o deus Khepra que teria como função mover o sol, tal como fazia na terra empurrando a bola de esterco.
Era um dos amuleto preferidos por estar relacionado com a vida após a morte e com a ressurreição. Quem o usasse teria como garantia a persistência no ser e a certeza de renascer para a vida se o levasse para a campa, substituindo muitas vezes o coração durante a mumificação a fim de dar nova vida e existência à múmia.
O próprio Tutankhamon tinha no seu túmulo várias peças de joalharia com a forma deste escaravelho.
Mais tarde, as mulheres estéreis sacrificavam, secavam e reduziam a pó o desgraçado Escaravelho-do-Estrume para prepararem uma bebida que iria possibilitar a fecundação, segundo crença da época.
E não queríamos fechar este post dedicado aos escaravelhos, sem lhes falarmos do Rhynchophorus ferrugineus, um escaravelho vermelho responsável pela mortandade nas palmeiras que está a acontecer em todo o país.
Segundo fomos informados, tudo aconteceu por volta dos anos 90 quando começámos a importar do Egipto a palmeira dactylifera que trouxe com ela este escaravelho que tem sido uma lástima principalmente para a Phoenix canariensis.
Um amigo residente no Algarve, apercebeu-se que a sua enorme palmeira, já centenária, estava a dar sinais de doença e, sabendo que poderia ser trabalho do tal escaravelho encarnado, passou horas a inspeccionar a sua árvore, até que se apercebeu dos tais bichos estranhos que conseguiu eliminar com um produto indicado para estes casos, conseguindo salvar a árvore.
Se têm palmeiras no vosso jardim, estejam atentos ao seu aspecto porque esta praga que tem sido mais mortífera no Algarve e na zona de Setúbal, está a progredir para outras áreas do nosso país.
E terminamos este post, que vai publicado com algum atraso, agradecendo a todos os amigos que por mail ou telefone se preocuparam em saber a nossa situação neste período de grandes incêndios.