A Tanit entrou na nossa família mais o seu irmão gémeo Thor em 1997 ao colo do Pai Natal.
Cresceram cheios de energia e num instante tornaram-se nos nossos guardas pessoais.
Todos os cães são dedicados aos seus donos. Mas estes eram de uma dedicação e de uma obediência impressionantes.
Não permitiam que ninguém mexesse em nada no nosso espaço quando não estávamos presentes e nem pensar em sair da quinta sem autorização dos donos, principalmente se entravam de mãos vazias e saíam com algum saco ou embrulho :)
Se chegava alguém que desconheciam, ficavam inquietos, rondando-o de sobrolho franzido e muito atentos ao nosso tom de voz.
Afastavam-se quando percebiam que todos estavam calmos ou quando nos ouviam dizer que era amigo, palavra que conheciam muito bem o significado.
Uma vez tivemos que mandar fazer umas obras que iam durar alguns dias. Como o pessoal entrava muito cedo para adiantar os trabalhos, demos a chave do portão a um deles para poderem entrar e começar antes de aparecermos.
Não nos lembrámos que o Thor e a Tanit iriam achar muito estranho uma invasão daquelas e acabaram por impossibilitar o avanço do trabalho por se terem sentado em cima da pilha de tijolos e dos sacos de cimento, rosnando sempre que os homens se aproximavam do material.
Nunca morderam ninguém, limitando-se a avisar as pessoas que estavam ali como guardas das pessoas e bens da casa.
As histórias são imensas e lembro-me de uma vez em que caçaram uma galinha que se tinha evadido da capoeira na nossa ausência.
Quando chegámos, nenhum deles apareceu para nos receber e mantiveram-se deitados dentro do canil. Por acharmos estranho o comportamento que não indiciava nada de bom, demos uma volta perto da casa e ao passarmos em frente da capoeira, vimos uma galinha morta colocada junto à porta de rede, sem um rasgão ou dentada mas completamente nua, sem uma pena por mais pequena que fosse em qualquer parte do corpo.
A brincadeira devia ter sido divertida para eles e quando se aperceberam que o animal já não se mexia, trataram de o pôr à porta da capoeira talvez na esperança que ele se erguesse e se juntasse aos outros, livrando-os do castigo que sabiam merecer.
Em Setembro de 2006 publiquei uma crónica de saudade quando o Thor partiu na sua derradeira viagem e hoje, passados quase 5 anos, aqui estou a escrever sobre a partida da sua irmã.
Quando chegaram os gémeos Dongo e Nanã, também Leões da Rodésia, e que apresentei neste blog há uns 4 anos atrás, a Tanit adoptou imediatamente o Dongo, acompanhando-o para todo o lado, sempre preocupada com ele e principalmente com a sua apresentação.
A Tanit agora já com 14 anos era bastante idosa. Mas comportava-se ainda como cachorra gostando de brincar e de sorriso estampado no focinho.
Os cães vivem relativamente pouco tempo e por isso vamos assistindo às suas partidas sempre com o coração apertado.
O imenso carinho que sentimos pelos nossos cães, obriga-nos a decidir a pôr fim a uma vida colhida por uma doença incurável e que irá evoluir para um enorme sofrimento.
A doença só foi visível numa fase adiantada e em poucos dias assistimos à perda de apetite, aos ganidos surdos que indicaram o início das dores, à impossibilidade de se erguer da cama…
Como não conseguia erguer-se, transportámo-la para a clínica dentro da sua cama que foi colocada em cima da marquesa.
Puseram-na a soro e de passo em passo fomos aproximando-nos rapidamente do momento da despedida.
Fiquei junto a ela sorrindo-lhe, fazendo-lhe festas e cantarolando-lhe pequenas palavras no tom de mimo que ela tanto apreciava. Ficou sonolenta com o medicamento que lhe deram e, quando começou a respirar de uma forma bastante calma, fiz sinal à médica para prosseguir, engolindo os soluços que me subiam pela garganta.
A Tanit fitou-me com os seus olhos meigos, num olhar que foi perdendo lentamente o brilho e assim partiu devagarinho e sem sofrimento.
Adeus, minha linda!